Era uma tarde comum no escritório, e Ana estava imersa em um relatório quando a notificação de um novo e-mail apareceu na tela. Ela clicou no ícone, esperando mais uma tarefa rotineira, mas seu coração deu um salto ao ver que era de Ricardo.
Assunto: Conversamos ao final do expediente?
Ana franziu a testa, intrigada. A mensagem era curta, direta, e carregava um tom de urgência. Ela respondeu afirmativamente, tentando não deixar que sua mente corresse para conclusões precipitadas. Talvez fosse apenas mais uma reunião, uma discussão sobre algum projeto pendente. Mas, no fundo, ela sabia que não era só isso. Ricardo havia sido cuidadoso desde o almoço que tiveram, mantendo as interações em um nível seguro, mas aquele e-mail parecia diferente.
O dia arrastou-se lentamente, e Ana mal conseguia se concentrar em suas tarefas. Quando o final do expediente finalmente chegou, ela se sentia uma mistura de ansiedade e expectativa. Decidiu ficar em sua mesa até que todos tivessem ido embora, evitando chamar a atenção. Quando o escritório começou a esvaziar, Ricardo apareceu na porta de sua sala, com um sorriso que fazia o coração de Ana bater mais rápido.
- Podemos ir? - perguntou ele, com a voz baixa, mas firme.
Ana assentiu, pegando sua bolsa e seguindo-o para fora do escritório. Eles caminharam em silêncio até o elevador, a tensão entre eles quase palpável. O elevador chegou rapidamente, e logo estavam descendo para o estacionamento. Nenhum dos dois falava, mas Ana podia sentir a energia que emanava de Ricardo, uma mistura de nervosismo e determinação.
- Vamos dar uma volta - sugeriu Ricardo, quando chegaram ao estacionamento, apontando para o carro dele.
Ana hesitou por um momento, mas logo concordou. Sabia que aquele não era apenas um convite para um passeio. Havia algo mais profundo ali, algo que precisavam discutir longe dos olhares curiosos do escritório.
O trajeto foi silencioso, mas confortável. Ricardo dirigia com a segurança de alguém que sabia exatamente para onde estava indo, enquanto Ana observava a cidade passar pela janela, tentando acalmar a tempestade que se agitava dentro dela. Depois de alguns minutos, Ricardo parou em um pequeno parque, um lugar tranquilo e quase deserto àquela hora.
- Gosto de vir aqui quando preciso pensar - disse ele, desligando o motor e virando-se para ela. - E acho que temos muito em que pensar.
Ana concordou, sem dizer uma palavra, sentindo que ele estava prestes a dizer algo importante.
- Ana, eu venho pensando muito sobre nós dois - começou ele, finalmente quebrando o silêncio. - Desde aquele primeiro encontro, há algo entre nós que não consigo ignorar. Eu tentei... acredite, eu tentei manter as coisas profissionais, mas cada vez que estou perto de você, sinto que estou perdendo essa batalha.
Ana sentiu um calor subir por seu rosto. Ela sabia que ele estava falando sobre a atração inegável entre eles, algo que ela também sentia, mas que tinha tentado suprimir.
- Eu também sinto isso, Ricardo. Mas precisamos ser cuidadosos - respondeu ela, escolhendo suas palavras com cuidado. - O escritório não é um lugar fácil para esse tipo de coisa. Existem muitas complicações.
- Eu sei, e por isso venho pensando em uma solução - disse ele, com um brilho nos olhos que sugeria que estava prestes a revelar algo que havia planejado meticulosamente.
Ana olhou para ele, confusa, mas curiosa.
- Que tipo de solução?
Ricardo respirou fundo antes de continuar.
- Há uma oportunidade surgindo. Gustavo, nosso CEO, está expandindo as operações para Londres e eu sou o candidato mais forte para liderar essa nova filial. Ainda não é oficial, mas eu gostaria que você viesse comigo.
As palavras pairaram no ar, carregadas de significado. Ana sentiu o chão se abrir sob seus pés. A ideia de ir para Londres, de deixar tudo para trás e começar de novo em um lugar completamente diferente, era tão excitante quanto aterrorizante. Ela sempre sonhou em trabalhar no exterior, mas nunca imaginou que essa oportunidade viria envolta em um romance tão complicado.
- Ricardo, isso é... é muita coisa para processar - disse ela, a voz quase um sussurro. - Londres? Não estou pronta para tomar uma decisão tão grande assim, tão de repente.
Ricardo assentiu, compreensivo, mas ela podia ver a determinação em seu olhar.
- Eu sei que é uma grande mudança, Ana, mas pense nisso. Seria uma oportunidade incrível para nós dois, tanto profissionalmente quanto... pessoalmente. Poderíamos explorar essa conexão sem as restrições que temos aqui.
A ideia era tentadora, e Ana sabia que, em outra situação, teria aceitado sem pensar duas vezes. Mas havia muito em jogo. Sua carreira, sua família, seus amigos... E, claro, o risco de que as coisas entre ela e Ricardo não funcionassem da maneira que ambos esperavam.
- Eu preciso de tempo para pensar - respondeu ela finalmente, tentando ganhar algum espaço para processar tudo.
Ricardo sorriu, como se já esperasse aquela resposta.
- Claro, tome o tempo que precisar. Não estou te pressionando, só quero que saiba que essa é uma possibilidade. Algo que podemos considerar juntos.
Ana sentiu o peso da escolha que estava diante dela. Era uma bifurcação no caminho de sua vida, onde cada direção prometia algo muito diferente. Ricardo estava lhe oferecendo uma chance de começar de novo, de seguir em uma direção que poderia mudar tudo. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que essa escolha vinha com riscos, e que nem tudo seria tão simples quanto parecia.
- Obrigada por me considerar para isso, Ricardo - disse ela, tentando sorrir apesar do turbilhão de emoções que sentia. - Eu prometo que vou pensar com muito carinho.
Ricardo assentiu, com uma expressão suave que contrastava com a intensidade da conversa.
- Eu só quero que você seja feliz, Ana. Seja qual for a sua decisão, vou respeitar.
Eles ficaram em silêncio por mais alguns minutos, cada um perdido em seus próprios pensamentos, até que Ricardo finalmente ligou o carro novamente e começou a dirigir de volta para o escritório. A tensão no ar parecia ter diminuído, mas Ana sabia que o peso daquela decisão não a deixaria tão cedo.
Enquanto o carro de Ricardo deslizava pelas ruas da cidade, Ana olhou para fora da janela, imaginando como seria sua vida se decidisse aceitar aquela proposta. Londres, um novo começo, um romance que poderia florescer longe dos olhares críticos do escritório. Era uma ideia tentadora, mas ela sabia que, qualquer que fosse sua escolha, o caminho à frente seria cheio de desafios e de decisões difíceis.
Quando Ricardo a deixou no estacionamento da empresa, eles trocaram um olhar que dizia mais do que qualquer palavra poderia. Havia uma promessa silenciosa ali, uma compreensão mútua de que, independentemente do que acontecesse, suas vidas estavam entrelaçadas de uma forma que seria impossível desfazer.
Ana entrou no elevador, seu coração batendo rápido, sabendo que a partir daquele momento, tudo mudaria. Ela só não sabia ainda em que direção o destino a levaria.