Uma Dose de Amor
img img Uma Dose de Amor img Capítulo 3 - Ligação Inesperada
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Capítulo 6 - Indignação e sorrisos img
Capítulo 7 - Mudanças img
Capítulo 8 - Sr. Mandão img
Capítulo 9 - Sensação ruim img
Capítulo 10 - Dor da perda img
Capítulo 11 - Um bom ano img
Capítulo 12 - Uma nova rotina img
Capítulo 13 - Noite longa img
Capítulo 14 - Bebida forte img
Capítulo 15 - Tequila e limão img
Capítulo 16 - Toques quentes img
Capítulo 17 - Noite de luar e sexo img
Capítulo 18 - Dia das meninas img
Capítulo 19 - Piquenique e amor img
Capítulo 20 - Bomba prestes a explodir img
Capítulo 21 - Sobre saber img
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Capítulo 3 - Ligação Inesperada

Os dias que se sucederam foram um tanto quanto complicados depois de tudo que Bella havia vivido. No dia seguinte após ela ter me contado tudo, e na base da sua escolha, eu pesquisei na internet diversas formas possíveis dela tirar o feto que habitava em seu ventre. Uma forma segura, claro. Era uma escolha dela e eu a apoiava totalmente. Entendia seu ponto de vista e seria completamente difícil ela seguir com a gravidez que fora concebida em um estupro.

Após diversas pesquisas e consultas para saber se era possível fazer sem quaisquer perigo, conversei com uma ginecologista de Salvador que confirmou que seria mais perigoso caso os meses já estivessem avançados, e mesmo que tudo tenha acontecido em um mês e meio, seria mais propício Bella ir a uma consulta antes de qualquer coisa. Eu concordei e marquei a mesma para o dia seguinte, e nesse momento estou terminando de me ajeitar enquanto Bel me encara pelo pequeno espelho do quarto.

- Ei, tá tudo bem? - pergunto mesmo que seja notável sua aflição no rosto. Uma fase complicada e eu iria passar tudo com ela. Lhe dando total força.

Bel sorri forçado e levanta-se da cama, me ajudando a subir o zíper do vestido que eu iria usar aquela manhã.

- Vai ficar! Obrigada por estar ao meu lado, Aimée.

Eu sorri, acolhendo-a e mostrando que a mesma não estaria sozinha nunca. Não se dependesse de mim.

[...]

A consulta foi bastante demorada, a obstetra não fez tantas perguntas e as difíceis a serem respondidas por minha amiga, eu respondia no lugar dela com sua aprovação. Depois que chegamos em casa ela quis ficar sozinha em seu canto, eu respeitei e fui me arrumar para o serviço. Não poderia me dar o luxo de faltar aquele dia.

Eu entro às oito da manhã e saio seis da tarde. Nos feriados festivos fico até mais tarde, pois a comissão é muito boa. Nessa manhã, pedi pra entrar um pouco mais tarde pra Elle, e ela deixou com a condição de que no dia seguinte eu chegasse mais cedo para repôr o horário, eu concordei, mesmo sabendo que me mataria no trabalho e não ganharia muita coisa. Com Bella morando comigo, eu precisava trabalhar mais que o necessário, já que o meu salário mal me sustentava.

Bel decidiu ficar comigo no meu pequeno apartamento enquanto seu trauma era tratado. Ela não aguentava ficar sozinha por muito tempo, pois seus pensamentos lhe traziam memórias que ela não se sentia bem em lembrar, e disse que me ajudaria nas contas de casa. Eu não pude negar, já que eu sozinha provavelmente não conseguiria, mas mesmo que ela não pudesse me ajudar eu lhe acolheria em casa. Minha amiga é a minha família que eu tenho aqui em Camaçari. Minha mãe, meu padrasto e meus irmãos moram em Porto Seguro, visito-os nos feriados em que eu tenho folga, ou seja, duas ou três vezes no ano. Sinto muitas saudades e espero encontrar um emprego melhor para poder vê-los mais vezes.

Tomo um banho rápido por já estar atrasada demais e visto minha roupa casual de sempre. Calça jeans surrada; uma camiseta larga e minha velha sapatilha.

E põe velha nisso.

Passo um gloos labial e pego minha mochila que continha uma jaqueta, o celular que eu tenho a mais de cinco anos - que inclusive mudar não está nos meus planos nem tão cedo - e a cópia da chave de casa, já imaginava que o dia seria corrido e barril por demais.

Antes de sair, vou até a cozinha e pego três torradas, passo na manteiga e deposito no prato, assim como pego uma garrafa de suco de laranja que havia na geladeira. Uma das únicas coisas também. Pelo menos o mês já estava findando. Levo o prato com as torradas e o suco para Bella e antes dela reclamar por estar lhe incomodando, cato uma das três torradas e saio do quarto lhe desejando um bom dia e em seguida vou em direção a porta da saída.

Só espero que Elle me perdoe pelo atraso de mais de cinco minutos.

O trânsito está horrível e os ônibus cheios. Tive que me espremer muito entre as pessoas para pelo menos poder respirar um ar que não seja de perfume forte em plena manhã.

Chego na lanchonete da praia uns dez minutos atrasada e observo o olhar fechado da minha chefe. Forço um sorriso e vou logo colocando o avental; touca e iniciar o atendimento.

- Dona Elle faltou pular em cima de você, hoje ela tá virada no cão.

Ouço Calliope falar, uma colega de trabalho e olho rapidamente pra ela enquanto faço um rabo de cavalo em meus cabelos.

- Quando ela não tá?

Ergo minha sobrancelha e juntas gargalhamos, atraindo a atenção da nossa chefe para ambas. Calli segue para dentro e eu, vou iniciar meu expediente.

O dia foi corrido como previsto, estávamos iniciando a época de carnaval e com bastantes turistas por aqui. Não consegui almoçar e apenas comi um lanche enquanto descansava por cinco minutos. Minha mente estava entre meu trabalho e Bella. E isso estava me matando.

Ela havia iniciado a terapia há um dia. Mesmo que ainda não estivesse se sentindo cem por cento para se abrir, noto que minha amiga se sente leve depois das conversas que tem com sua terapeuta.

Tentl focar no serviço após o fim do meu pequeno intervalo e vou atender uma mesa.

- Boa tarde, já sabem o que vão pedir? - Abro meu melhor sorriso enquanto encarava o grupo de amigos que aos poucos foram falando seus pedidos.

[...]

- Maju, você sabe que eu não posso ir agora. É início de carnaval. A lanchonete fica lotada e Dona Elle não vai me deixar tirar folga, nem que eu me ajoelhe perante ela. - Ajeito o celular sobre meu ouvido, enquanto retiro o avental já que o expediente havia chegado ao fim.

Minha irmã mais nova me ligou no exato momento em que a lanchonete se fechou, e começou a me encher para poder ir visitá-la, mesmo sabendo que não seria possível. Não agora.

- Talvez, se o dono da lanchonete fosse um homem, você provavelmente conseguiria algo se por acaso se ajoelhasse. - brinca, me fazendo rir. - Eu sinto sua falta, todos sentimos. Mainha não demonstra, mas sente. Eu preciso da minha irmã mais velha, Aimée. - Ela choraminga na última frase, o que me faz rir pelo seu drama momentâneo.

Retiro o celular da orelha e coloco no viva-voz enquanto desfaço o rabo de cavalo de meu cabelo. Guardo o avental na bolsa pra lavar em casa, pego minha jaqueta e jogo uma água sobre meu rosto.

- Bom, você sabe que é impossível eu ir e trate de se contentar. Quando eu chegar em casa te mandarei uma mensagem para conversarmos melhor, mas enquanto isso, vai me dizendo para o quê a mocinha precisa da irmã, uh?

Pego a pequena toalha e arrasto ela sobre meu rosto enquanto uma risada nervosa da minha irmã escapa pelo alto-falante.

- Seria mais fácil se estivesse aqui. Mas, ok sua chata. Eu....bem, eu... Eu recebi uma proposta pra ser modelo, mas mainha é muito chata sobre isso e painho sempre vai na onda dela, Aimée. Eu preciso que você me ajude a convencer ela, por favorzinho.

Minha irmã estuda moda em uma universidade de Porto Seguro, e sempre foi seu sonho ingressar cedo e está tendo uma grande oportunidade em suas mãos nesse momento. Mainha nunca curtiu muito a escolha dela, por dizer que não seria uma profissão que lhe traria dinheiro ou futuro. Ela sempre quis que Maju fosse médica, como o pai dela, meu padrasto.

Mal de pais. Querer que seguíssemos o sonho deles. Paul seguiu, e é um famoso médico de Porto Seguro, mas minha irmã quis seguir sua própria paixão, e eu não a julgo.

Eu sou filha do primeiro "casamento" da minha mãe, um carinha por qual ela se encantou e com dois meses de namoro fugiu de casa com o mesmo para morar no Rio de Janeiro. Sim, eu nasci lá, mas me considero baiana já que com um mês de vida, o meu pai sumiu e deixou minha mãe sozinha, com isso ela teve que voltar pra Bahia. Foi quando conheceu Eduardo, meu padrasto e pai dos meus outros dois irmãos. Um médico famoso aqui do estado, e estão casados há mais de 20 anos.

Vocês podem estar se perguntando. "Ah, mas se Aimée passa tanta dificuldade, porque não pede dinheiro pra família, já que a mesma parece ter uma ótima condição?"

Desde quando me mudei pra cá, minha mãe não curtiu muito, e disse que eu iria me arrepender de ter saído de casa tão nova, - eu já tinha 22 anos e estava quase completando 23 -. Então, eu prometi a mim mesma que jamais iria recorrer a ela pra pedir dinheiro. E permaneço viva até hoje, e sem arrependimentos.

Me despedi de Maju prometendo que ligaria pra mainha no dia seguinte para conversar sobre, e segui meu caminho pra casa.

Nesse momento eu só quero duas coisas: banho e cama.

            
            

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