Capítulo 4 Natasha

- Olha quem eu encontrei! A garota que vive dando em cima do meu namorado. Ela ainda não entendeu que nunca chegará aos meus pés.

A voz de Lily com o sotaque francês marcante soa como um chicote nos meus ouvidos. Eu não queria ter que lidar com ela e suas seguidoras. Me viro e a encaro.

- Eu já estou de saída. - aviso tentando passar por ela. Mas, sou segurada pelas suas amigas.

- Você só sai quando ela autorizar, sabe como funciona Still. - Basicamente todo mundo me chama de Still na escola, como não falam comigo para não se prejudicarem com o Jack, eles preferem me chamar com formalidade.

- Temos aula agora, eu não posso me atrasar. Sinto muito se acha que eu quero o seu namorado.

Lily me encara com raiva e nojo.

- Eu não acho, eu sei que sim. Só isso explica o porque ele te trata tão mal. Você fica o perseguindo.

Eu quase gargalho na cara dela, quem me perseguia era ele. Desde sempre, se ela soubesse só uma parte do que acontecia... Mas eu não poderia fazer isso, ele acabaria comigo. E ainda tinha aquele vídeo. O maldito vídeo.

Lily se aproxima e disfere um tapa forte no meu rosto. Enquanto suas fantoches seguram com força o meu cabelo e meus braços.

- Eu quero que fique longe do meu namorado. Ele e eu iremos nos casar, seremos um casal poderoso, e nós amamos. Você é uma pedrinha infeliz nas nossas vidas. A minha sogra já até me falou das suas insinuações para ele. - ela me olha com tanto ódio que penso que vai me matar.

- Como assim, a Dona Melanie falou isso? Eu vou tirar essa história a limpo.

Minha voz soa distante, Dona Melanie nunca se importou com a minha presença, as vezes eu sentia olhares ruins dela para mim, mas o meu tio afetivo David dizia que era só impressão. Dizer isso? Não era possível.

- Não se faça de tonta, ela não teria motivos para mentir. Saiba que eu vou acabar com você se continuar com isso. Ele é meu.

Ela se afasta e sai com as suas amigas. Eu fico em choque. Quando olho no espelho, percebo o corte no canto da boca, nem havia me dado conta antes por causa da adrenalina. Limpo o corte, e vou em direção a aula. Percebo os olhares no corredor, todos me encarando e desviando em segui assim que eu encarava de volta. Do mesmo modo que Jack me destratava, também deixava claro que ninguém poderia fazer o mesmo. Ninguém nunca tocou em mim, quer dizer, só ele e Lily.

Assisto as aulas, e no intervalo sempre vou ao banheiro. Aprendi que era melhor comer lá ou na sala. Longe de todos, era sempre difícil lidar com a exclusão, não poder sentar em mesa alguma. Doía tanto que no início, eu pedi para mudar de escola. Mas, mamãe dizia que ia passar. Depois eu não quis mais chatear mamãe e papai, e relevei. Eu comi um sanduíche natural que Rosé fazia todos os dias para mim, enquanto lia meu livro favorito do momento.

Quando estava saindo para o banheiro, Jack estava encostado na parede me olhando com frieza e estudando o meu rosto. Ele às vezes fazia isso. Certa vez ele até entrou no banheiro, achando que eu estava me escondendo com alguém lá dentro. Era esquisito.

- O que aconteceu com o seu rosto?

Sua voz era calma e contida. Enquanto ele chegava mais perto, eu queria correr e me esconder.

- Eu me machuquei na porta do banheiro.

Ele sorriu e levantou a mão, achei que fosse me bater, mas ele tocou meu queixo e levantou meu rosto.

- Eu não gosto que minta para mim, Natasha. Diga logo a verdade antes que eu me irrite.

Eu olho para o chão, porque sei que ele não irá acreditar em mim.

-Foi Lily.

Ele fica me olhando por um tempo, então solta o meu rosto e se afasta. Ele nem quis saber a motivação, apenas não acreditou em mim. Como sempre fez. Apresso os passos e sigo para a aula. Quando ele e Lily entram vejo-o se sentando próximo à outra pessoa. Lily demonstra tristeza e me olha com ódio, eu fico em choque, não posso acreditar que ele falou com ela.

Ele ficou ao meu favor pelo menos uma vez na vida? Um sorriso involuntário e bobo se abri no meu rosto. Talvez ele esteja acordando, termine com ela e fique comigo? Eu em muito desprezava ele, mas também, ainda lembrava das palavras da minha mãe. Ela me ensinou a dar chances. No fundo eu sentia algo pelo Jack, quando ele estava de bom humor.

Assim que a aula termina, vou para a frente da escola, esperar o motorista. Eu não tinha carteira e possuía medo de dirigir, bem, assim que os meus pais morreram no acidente aéreo passei a sentir medo de automóveis, aviões e qualquer meio de transporte.

Em meio aos meus pensamentos, não percebo a Lamborghini parada a minha frente. Vejo que é o carro de Jack.

- Entra aí, te darei uma carona. Eu tenho treino, mas vou passar em casa.

Fico pensativa, mas acabo entrando e aviso ao motorista que não vou precisar dele. Isso nunca aconteceu, ele nunca se dispôs a isso antes. Ele está um pouco inquieto, mas o percebo de bom humor.

- Obrigada.

Ele começa a dirigir e vou apreciando a paisagem. Penso se ele está dando um passo para a paz. Eu não aguento mais brigar e passar por tudo isso que venho aguentando. Comecei a pensar que se eu dormisse para sempre seria melhor. Junto aos meus pais.

- Você está pensando em quê?

Sua voz está gentil. Ele me olha e a gente se encara o que parece ser uma eternidade.

- Nos meus pais.

Ele desvia o olhar, e vejo que seus olhos se escurecem. Eu ainda iria descobrir o motivo disso. Só pode ser algo relacionado a eles que o fez me odiar tanto.

- Bem, e também no livro que estou lendo atualmente. Ah, e na viagem que quero fazer à Califórnia.

Mudo de assunto para suavizar a situação. Vejo-o tensionar. E volta a me encarar, minhas bochechas ficam vermelhas.

- Que viagem? Você não me disse que faria uma. Quem vai com você?

Suas mãos apertam o volante com firmeza e vejo seus dedos ficando brancos.

- Ah, ninguém. Bem, você sabe que ninguém da escola fala comigo, e eu não tenho amigos. Mas, na viagem, eu posso fazer algum. Eu quero sair um pouco dessa cidade, conhecer novas formas de viver.

Ele riu alto. Sua mão desliza para baixo do meu vestido branco, sinto-a na minha coxa pressionando forte.

- Conhecer gente nova? O seu lugar é ao meu lado sempre. Se você for, eu irei junto. Você está fadada a ser minha para sempre, Natasha.

Eu retiro sua mão da minha coxa. E olho para o lado. - Eu não quero isso. Você namora, eu não vou ser sua amante.

Ele foge do caminho e para o carro num acostamento. - O que você está fazendo? Siga a rota normal.

Eu não consigo finalizar a minha fala. Ele me puxa para si e me beija com tanta avidez que sinto como se fosse me comer viva. Ele levanta o meu vestido e me puxa para o seu colo.

Puxa o meu cabelo para o lado e começa a beijar o meu pescoço. Depois volta para a minha boca e aperta o meu queixo com força, penso que vai me esganar. Mas ele para e me encara. Penso que ele vai se confessar, dizer que me ama. Se arrepender de tudo que fez. Meu coração até erra os batimentos.

            
            

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