Capítulo 7 Nova vida

Eu acordei cedo, embora não tenha conseguido dormir direito. A casa estava com uma energia horrível, depois de todos os eventos que aconteceram. Eu pensei em ligar para o Jack, mas não tinha o número dele. Então, não teria como ligar para ele e saber sobre a sua mãe. Penso em ir até o hospital, mas ela não ia gostar de me ver, eu sei disso. Minha mãe destruiu a sua vida e na cabeça dela roubou o seu amado marido.

Não havia uma só parte em mim que não se envergonhava pelo que havia acontecido entre os dois. Mesmo que ela o tempo todo pensasse no meu bem-estar pelo menos era o que havia na carta, o contrário do David que estava completamente apaixonado por ela... ao ponto de nem lembrar dos filhos, ainda assim era terrível.

Eu pensei, e tomei a decisão de visitar o David. Eu precisava ouvir da boca dele toda a verdade. Vou ao encontro do motorista.

- Bom dia, você sabe onde está o Senhor David?

Ele responde que sim. Peço para que me leve até o local, chegando lá me deparo com um arranha-céu extremamente luxuoso. Vou andando até a recepção.

-Bom dia, sou sobrinha do David Dash. Você pode informá-lo que estou aqui para vê-lo?

A recepcionista faz o que sugeri, me pergunta o meu nome e informa que ele está na cobertura. Entro no elevador e respiro mais depressa do que gostaria.

Quando chego, olho e vejo David, o amante da minha mãe. Ainda é difícil de acreditar. Seu olhar está cheio de tristeza ao me encarar.

- Entre.

Sua voz soa densa. Olho ao redor e o apartamento parece frio e triste. Assim como ele.

- Antes que diga, eu sei, eu sou uma pessoa desprezível. Eu mereço todo o seu desagrado, o que eu fiz... não há perdão. Mas, eu amava a sua mãe. O meu casamento com a Melanie foi um acordo comercial, não havia amor.

Eu o encaro com lágrimas nos olhos, então é verdade. A carta poderia ser falsa, mas isso... Não há como. Aconteceu mesmo.

- Eu quero que me conte tudo. Como começou. Tudo.

Ele me olha por um tempo, desvia o olhar, pega duas taças e um vinho da adega. Ele me oferece, eu iria recusar, mas penso que precisarei disso para conseguir lidar com os fatos seguintes. Nesse momento, escuto o som do meu celular tocar, quando olho, vejo que é um número desconhecido, rejeito.

Mas o número não para de ligar, então desligo o celular.

- Eu a conheci quando estava passeando pelo parque central. Ela estava sozinha, foi como em câmera lenta. Nunca havia pensado em trair minha esposa antes, eu nem cogitava isso. Mas, eu não sei... Eu me senti completamente atraído por ela. Como se fosse um ímã.

Ele dá uma pausa, enquanto bebe toda a taça de uma vez. Enche novamente, e vejo o quão mal ele aparenta. Os ossos cada vez mais aparentes, e suas olheiras estão mais fundas.

- Bem, eu menti dizendo que era solteiro e ela também. Tivemos encontros, discutimos música, arte e política. Em tudo concordávamos. Ela era tudo que eu queria. Até que contamos a verdade, eu disse que era casado mas que queria me divorciar. Sua mãe assumiu que também era, mas disse que amava o marido e a bebezinha. Ela te chamava assim, lembra?

Eu lembro. As lágrimas caindo dos meus olhos, enquanto encaro o teto. Eu lembrava, queria que ela estivesse viva para dizer o quão decepcionada eu estava.

- Eu me senti magoado. Estava abrindo mão de tudo, até dividiria a empresa com Melanie, eu faria tudo pela Beth. Mas ela não. Aquilo partiu meu coração. Eu comecei a atrapalhar o seu pai nos negócios, achei que se ele ficasse pobre, ela iria querer se separar. Eu errei. Mesmo seu pai perdendo tudo, ela ainda ficou do lado dele.

Bebo um pouco do vinho e o silêncio toma o ambiente.

- Continuando, eu insistia em me encontrar com ela, embora ela sempre arranjasse desculpas. Eu cheguei a dizer que mataria o marido dela para que ficássemos juntos. Ela disse que se eu fizesse isso, ela me mataria. Ele era o seu pai e o marido amado dela. Eu era o outro. Me aproximei do marido dela, e apresentei ela a Melanie. Nos quatro tínhamos sintonia, e bem, eu até que gostava do seu pai. Nós tornamos muito amigos. Diante disso, algumas semanas depois, a sua mãe terminou comigo. Mas antes, a Melanie descobriu tudo. Ela queria acabar com a sua mãe, eu quis me separar mas ela me implorou. Eu só fiquei com ela porque a sua mãe pediu.

- Eles não mereciam isso. Melanie e meu pai.

Eu o encaro e desvio o olhar para a janela de vidro, com uma vista magnífica. Tomo o restante do meu vinho com pressa.

- Eu me apaixonei pelo seu filho. Acredita nisso? Será que é uma maldição? Uma praga?

Me levanto, eu já ouvi tudo que queria. Não há mais nada a ser dito.

- Como assim? O Jack e você? Não. Isso seria demais... E a Melanie, ela nunca permitiria.

- Eu sei. O senhor e a minha mãe são seres horríveis me sentenciaram ao desamor e ao ódio. Ele quer que eu seja amante dele.

- Eu te dei dinheiro, pegue-o e fuja disso. Você não precisa estar nessa situação, sua mãe não permitiria. O Jack é alguém quebrado. E você... Não faça isso.

Limpei o meu rosto banhado pelas lágrimas, e me dirige até a porta.

- Agora é tarde, David. Há e antes que eu me esqueça, preciso que me emancipe. Irei morar em outro lugar, longe dessa sujeira.

Ele balançou a cabeça concordando.

- Vou mandar o jurídico fazer isso hoje mesmo, te mando o documento pelo e-mail, ou se quiser, pode vim aqui me ver.

Eu nunca voltaria a ver ele, me causava ânsia.

- Pelo e-mail está bom. David, espero que encontre a felicidade. Não lhe desejo nada de ruim, e te perdoo. Você me ajudou esses anos, eu sou grata a isso.

A voz sai cortada, as lágrimas descendo cada vez mais. Eu sei que ele fez pela minha mãe, mas eu não seria ingrata.

Saiu do prédio e entro no carro. Me acalmo e ligo o celular, são 16 chamadas perdidas. Será que eram do Jack? Algo sério aconteceu?

Percebo novas mensagens.

Anônimo: Você está aí? O que aconteceu? Sou eu, Jack.

Anônimo: Me responde. Por que não me atende? Minha mãe passará por uma lavagem estomacal.

Anônimo: Preciso de você.

Eu ligo de volta assim que às vejo. A ligação é atendida rapidamente.

- Oi, Jack. Desculpa por não te responder antes, eu estava ocupada. Preciso te contar algumas coisas, mas primeiro, como você está?

Escuto uma respiração intensa do outro lado.

- Sou eu, Lily. Meu namorado saiu para buscar um café, não ligue mais para ele sua vadia feia.

Ela desliga na minha cara. Bem, o que eu esperava? Eles ainda estavam juntos.

Não perdendo mais tempo, checo a caixa e vejo uma resposta da minha avó. Ela disse que a casa era simples mas ficaria feliz em me receber. A felicidade me tomou. Agora eu só preciso pegar a transferência na escola, e pronto. Estou livre. Vou vender algumas joias e roupas do meu guarda-roupa para pagar pela passagem. Eu irei começar uma nova vida. Serei feliz depois de tanto desgosto.

                         

COPYRIGHT(©) 2022