Capítulo 3 A Primeira Imersão

O sol já estava alto quando Zaira acordou no dia seguinte. A cama em que dormia era absurdamente confortável, muito diferente daquelas que estava acostumada nos hotéis das cidades grandes onde trabalhava. Ela se espreguiçou preguiçosamente, lembrando da proposta que Rhysand havia feito no dia anterior: um passeio até uma livraria com um café que, segundo ele, era incrível. Sentiu uma excitação nova ao pensar na ideia de sair da rotina sufocante da sua carreira, de explorar algo mais profundo e pessoal.

Depois de uma rápida ida ao banheiro, vestiu-se de maneira casual, escolhendo uma calça jeans de cintura alta e uma blusa simples, mas elegante, com um toque moderno. Fez questão de deixar os cabelos cacheados soltos, algo que evitava fazer nas passarelas, onde insistiam em alisar seu cabelo para os desfiles. Aquilo era sua forma de expressar um pouco mais de sua identidade, mesmo que sutilmente.

Ela foi até a sala, onde encontrou Rhysand de pé, perto da janela. Ele estava de jeans e uma camisa social branca, simples, mas com um ar casual que combinava com o ambiente aconchegante da cidade. Ele olhou para ela e sorriu, claramente aprovando o visual dela.

- Pronta para o passeio? - ele perguntou, com a voz tranquila, mas cheia de expectativa.

Zaira assentiu com um sorriso, sentindo um leve frio na barriga. Havia algo encantador na ideia de descobrir mais sobre a vida de Rhysand, de aprender mais sobre ele, além da fachada que ele tinha deixado vislumbrar até agora. Ela sabia que havia muito mais por trás daquele ar misterioso e reservado.

- Absolutamente pronta - respondeu, ajustando a alça da bolsa no ombro.

Eles saíram do apartamento e caminharam até o elevador. O silêncio entre eles não era desconfortável; pelo contrário, havia uma naturalidade entre ambos que Zaira achava rara. Quando chegaram à rua, a cidade estava mais agitada do que no dia anterior, mas ainda assim, era muito mais calma do que as metrópoles que ela estava acostumada. A brisa fresca da manhã tocava seu rosto, e ela inalou o ar, sentindo-se revigorada.

- A livraria fica a alguns quarteirões daqui - disse Rhysand, indicando a direção com a cabeça.

Enquanto caminhavam, Zaira começou a reparar mais nos detalhes do bairro. As ruas eram estreitas, pavimentadas com paralelepípedos, e havia uma série de pequenas lojas e cafés que pareciam convidar qualquer um a entrar. O lugar tinha um charme antigo, quase como se estivesse parado no tempo. Ela não resistiu e comentou:

- Esse bairro parece de outra época.

Rhysand riu, confirmando o que ela já suspeitava.

- Sim, ele tem essa vibe de cidade pequena. Acho que é por isso que gosto tanto de morar aqui. É como se o tempo passasse de forma mais lenta, mais tranquila.

Zaira concordou, absorvendo o ambiente ao redor. Enquanto andavam, ela aproveitava cada minuto da experiência, algo raro em sua vida corrida. Ela sentiu, pela primeira vez em muito tempo, que estava realmente presente no momento.

Após alguns minutos de caminhada, eles chegaram à tal livraria. De fora, parecia pequena e aconchegante, com grandes janelas que permitiam ver as prateleiras repletas de livros. Ao lado, uma cafeteria com mesas de madeira e cadeiras acolchoadas formava o cenário perfeito para quem quisesse ler com uma xícara de café quente.

- Bem-vinda ao meu lugar favorito - disse Rhysand, abrindo a porta para ela entrar.

Zaira sorriu e entrou, sendo imediatamente envolvida pelo cheiro de café fresco e papel velho. O interior da livraria era ainda mais encantador do que o exterior. Havia livros por todos os lados, desde romances até biografias e livros acadêmicos. As prateleiras eram altas, e escadas de madeira permitiam que os clientes alcançassem as obras mais no alto.

- Uau - murmurou Zaira, fascinada. - Isso é... incrível.

Rhysand sorriu com satisfação.

- Sabia que você iria gostar. Vamos pegar um café e depois posso te mostrar algumas das minhas seções favoritas.

Eles se dirigiram ao café ao lado, onde pediram duas xícaras de cappuccino. Rhysand também pediu uma fatia de torta de maçã, que ele insistiu que Zaira experimentasse.

- Confie em mim, é a melhor torta de maçã que você vai comer na vida - disse ele com um sorriso confiante.

Zaira riu, aceitando a recomendação, e logo estavam sentados em uma das mesas aconchegantes do café. A conversa fluía naturalmente entre eles, com Rhysand contando sobre as suas visitas regulares à livraria e o quanto ele apreciava a paz que encontrava ali. Zaira, por outro lado, começou a falar um pouco mais sobre sua vida antes de se tornar modelo, sobre como cresceu em uma família humilde e como a moda, de certa forma, a salvou das dificuldades que enfrentava quando era adolescente.

- Mas às vezes me pergunto se fiz a escolha certa - confessou ela, mexendo na xícara de café. - Quero dizer, a moda me deu muitas oportunidades, mas também me afastou de quem eu era.

Rhysand a observava atentamente, como se cada palavra que ela dissesse tivesse um peso imenso.

- Acho que todos nós sentimos isso em algum momento da vida - disse ele calmamente. - Mas você ainda tem tempo para descobrir o que realmente quer. E eu acho que está no caminho certo, só de estar se fazendo essas perguntas.

Zaira sorriu, tocada pela gentileza nas palavras dele.

- Talvez você tenha razão - admitiu ela, sentindo-se mais leve por compartilhar algo tão íntimo.

Depois de terminarem o café e a torta, Rhysand levou Zaira para explorar a livraria. Ele mostrou suas seções favoritas, desde livros de filosofia até romances clássicos, e Zaira ficou impressionada com a profundidade de seu conhecimento literário. Era óbvio que Rhysand era alguém que valorizava o conhecimento e a introspecção, qualidades que Zaira começava a admirar cada vez mais.

- Você já leu todos esses livros? - perguntou ela, incrédula, enquanto ele lhe mostrava uma prateleira cheia de obras de autores renomados.

Rhysand riu, encolhendo os ombros.

- Talvez não todos, mas muitos deles. Acho que os livros são a melhor forma de entender o mundo e as pessoas.

Zaira concordou silenciosamente, sentindo que estava aprendendo mais sobre ele a cada minuto. Havia uma profundidade em Rhysand que ela ainda não havia explorado totalmente, mas estava ansiosa para descobrir.

Eles passaram horas na livraria, folheando livros e conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Zaira se sentia cada vez mais à vontade ao lado de Rhysand, como se estivesse redescobrindo uma parte de si que havia deixado para trás há muito tempo. Quando finalmente saíram da livraria, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu de um laranja suave.

- O dia passou tão rápido - comentou Zaira, olhando para o horizonte.

- Sim, isso costuma acontecer quando você está se divertindo - respondeu Rhysand, com um sorriso suave.

Eles começaram a caminhar de volta para o apartamento, e Zaira sentiu uma sensação de contentamento invadir seu peito. Estava se divertindo genuinamente, algo que não acontecia com frequência. Quando chegaram ao prédio, Rhysand abriu a porta para ela novamente, e Zaira não pôde deixar de notar o gesto cavalheiresco.

- Obrigada por hoje - disse ela, sorrindo timidamente. - Foi um dos melhores dias que já tive em muito tempo.

Rhysand inclinou a cabeça, o olhar suave e carinhoso.

- O prazer foi todo meu, Zaira. Espero que possamos repetir isso em breve.

Zaira sorriu e entrou no apartamento, sentindo o calor subir em seu rosto. Havia algo diferente em Rhysand, algo que ela não conseguia exatamente colocar em palavras, mas que a fazia querer estar perto dele mais e mais.

Ela sabia que estava começando a gostar dele de uma forma que não esperava, e a ideia a deixava um pouco nervosa. Mas, ao mesmo tempo, ela estava disposta a ver onde aquilo poderia levar. Afinal, pela primeira vez em muito tempo, Zaira sentia que estava no lugar certo, na hora certa.

Enquanto se preparava para dormir naquela noite, Zaira refletiu sobre o dia. Estava claro que Rhysand não era apenas um homem comum. Ele tinha segredos, e ela estava ansiosa para descobri-los. Mas, mais do que isso, Zaira sabia que, aos poucos, ela também estava revelando partes de si mesma que há muito tempo estavam escondidas.

Aquele novo começo a empolgava, e pela primeira vez, Zaira se permitiu imaginar um futuro diferente do que ela havia planejado. Um futuro em que ela poderia, finalmente, ser ela mesma.