Após tomar um banho råpido, Zaira se vestiu com uma calça jeans confortåvel e uma blusa simples, decidida a aproveitar a manhã livre. O desfile da noite anterior havia sido exaustivo, mas os compromissos para o dia não eram menos intensos. Enquanto preparava um café, ouviu o som familiar das påginas de um livro sendo folheadas. Rhysand estava na sala, como de costume, imerso em sua leitura.
- Bom dia - disse Zaira, tentando soar descontraĂda.
Rhysand levantou os olhos, lançando-lhe um olhar råpido e um leve sorriso. - Bom dia.
O silĂȘncio entre eles era confortĂĄvel, e Zaira nĂŁo pĂŽde deixar de pensar no quĂŁo diferente sua vida havia se tornado desde que se mudara para aquele apartamento. O luxo de sua carreira de modelo e a rotina extenuante contrastavam drasticamente com a simplicidade de seus momentos com Rhysand. Ela ainda nĂŁo sabia de sua verdadeira riqueza, mas algo nele sempre a fazia sentir que havia mais por trĂĄs daquela fachada tranquila.
Enquanto ela se sentava à mesa, mexendo distraidamente no café, seu celular vibrou. Uma mensagem inesperada surgiu na tela, fazendo seu coração acelerar. Era de Eduardo, seu ex-noivo. Ela hesitou antes de abrir a mensagem, sabendo que qualquer coisa vinda dele sempre carregava um peso emocional que ela preferia evitar.
- "Podemos conversar? Preciso te ver." - A mensagem era curta, mas direta.
Zaira suspirou, lembrando-se de como as coisas haviam terminado entre eles. Eduardo vinha de uma famĂlia rica, mas seu ego e ambição desmedidos haviam sido os principais motivos da separação. Ele sempre queria mais - mais poder, mais status, mais controle. A relação se tornou insuportĂĄvel, e ela finalmente decidiu que nĂŁo poderia mais viver Ă sombra de suas expectativas. No entanto, ele nunca parecia desistir completamente.
Antes que pudesse responder, Rhysand se levantou e foi até a cozinha, preparando seu próprio café com a mesma serenidade de sempre. Seu olhar passou brevemente pelo celular de Zaira, mas ele não fez perguntas. No fundo, Zaira apreciava isso. Com Eduardo, cada mensagem, cada ligação era um interrogatório, mas com Rhysand, havia uma liberdade silenciosa.
- Alguma coisa errada? - ele perguntou casualmente, enquanto colocava seu cafĂ© em uma xĂcara de cerĂąmica.
- Nada de mais. SĂł... coisas do passado - respondeu ela, sem entrar em detalhes.
Rhysand apenas assentiu, como se entendesse que nĂŁo era o momento de se aprofundar. Ele voltou para a sala e retomou sua leitura, enquanto Zaira tentava decidir o que fazer sobre a mensagem. Ela nĂŁo queria ver Eduardo, mas sabia que evitar o confronto nĂŁo faria o problema desaparecer.
Mais tarde naquele dia, Zaira encontrou-se presa em uma sessĂŁo de fotos. A tensĂŁo estava no ar, como sempre, mas havia algo mais que a incomodava. Uma das maquiadoras, Mara, uma jovem ambiciosa que sempre demonstrara uma competitividade silenciosa, parecia estar especialmente atenta a cada movimento de Zaira. Havia algo em seu olhar que Zaira nĂŁo gostava - como se ela estivesse tramando algo.
Mara tinha uma reputação de sabotar colegas discretamente. Apesar de ser talentosa, seu desejo de ascender rapidamente no mundo da moda a fazia tomar decisÔes questionåveis. Zaira nunca tinha tido problemas diretos com ela, mas sabia de outras modelos que haviam sido prejudicadas por suas açÔes.
- VocĂȘ estĂĄ linda hoje, Zaira. Como sempre - Mara disse com um sorriso forçado enquanto ajustava a maquiagem.
- Obrigada - Zaira respondeu educadamente, mas algo no tom da maquiadora a deixou em alerta.
Durante o ensaio, Zaira não pÎde deixar de notar que sua roupa parecia mal ajustada. Algo estava fora do lugar, e isso começou a interferir nas fotos. O diretor parou vårias vezes, frustrado com o resultado. Quando ela finalmente teve um intervalo, olhou para si mesma no espelho e percebeu o problema - a roupa havia sido sabotada, propositalmente mal ajustada.
Raiva e frustração começaram a crescer dentro dela. Ela sabia que Mara estava por trås daquilo. Precisava de provas, mas, acima de tudo, precisava manter a calma para não perder o controle no meio de um trabalho tão importante. Sabia que no mundo da moda, qualquer deslize poderia ser fatal para sua carreira.
Enquanto tentava arrumar a roupa, seu telefone tocou novamente. Era Ana, uma amiga que Zaira conhecera nos primeiros anos de sua carreira. Ao contrĂĄrio de muitos no mundo competitivo da moda, Ana era genuinamente boa. Ela sempre oferecia apoio sem esperar nada em troca e era uma das poucas pessoas em quem Zaira realmente confiava.
- Oi, Ana. Como vocĂȘ estĂĄ? - Zaira atendeu, tentando deixar a frustração de lado.
- Oi, Zaira! SĂł liguei para saber como vocĂȘ estĂĄ. Ouvi dizer que o ensaio de hoje era importante. EstĂĄ tudo bem? - Ana perguntou, com a voz cheia de preocupação.
- Ah, vocĂȘ sabe como Ă©... Algumas complicaçÔes, mas nada que eu nĂŁo possa resolver - disse Zaira, tentando soar mais tranquila do que realmente estava.
- Se precisar de ajuda ou sĂł quiser desabafar depois, me avise. Estou aqui para o que precisar.
Zaira sorriu, apreciando a gentileza de Ana. - Obrigada, de verdade. Eu te ligo mais tarde.
Ao final do dia, Zaira voltou ao apartamento, exausta. Rhysand estava na cozinha, preparando algo para o jantar. O aroma de ervas frescas preencheu o ar, trazendo uma sensação de conforto que ela tanto precisava depois de um dia difĂcil.
- Jantar Ă vista? - ela perguntou, aliviada por estar de volta ao seu refĂșgio.
- Achei que vocĂȘ poderia gostar de algo simples depois de um dia longo - ele respondeu, sem tirar os olhos da panela.
- VocĂȘ tem razĂŁo. Foi um daqueles dias...
Rhysand, como de costume, nĂŁo fez perguntas demais. Ele era observador, atento aos detalhes, mas nunca insistente. Zaira se sentou Ă mesa, observando-o cozinhar. Havia algo surpreendentemente relaxante em vĂȘ-lo lidar com as tarefas domĂ©sticas com a mesma calma com que lia seus livros.
Quando finalmente se sentaram para comer, Zaira sentiu a tensão do dia começar a desaparecer. Mesmo sem saber da riqueza de Rhysand, havia algo nele que a fazia sentir-se protegida. Talvez fosse sua serenidade, sua capacidade de estar presente sem exigir nada em troca.
- VocĂȘ me parece cansada hoje - Rhysand comentou, enquanto cortava seu pedaço de frango.
- O trabalho foi... complicado. Algumas pessoas nĂŁo jogam limpo - respondeu Zaira, escolhendo cuidadosamente as palavras.
- O mundo Ă© cheio de pessoas assim. O segredo Ă© nunca deixar que elas te afetem - ele disse, com um tom de quem jĂĄ havia passado por experiĂȘncias semelhantes.
Zaira olhou para ele, surpresa pela profundidade de suas palavras. Havia algo mais em Rhysand, algo que ela ainda nĂŁo conseguia entender completamente. Mas, de alguma forma, sabia que estava segura ali, sob o mesmo teto, entre livros e conversas que a faziam questionar o que realmente importava.
- VocĂȘ tem razĂŁo. NĂŁo vou deixar - disse Zaira, determinada a enfrentar os desafios que viriam pela frente.