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Tudo foi organizado, o velório acontecera no próprio cemitério, depois do enterro somente o pensar de recomeçar sem Jairo. Até aquele momento ninguém da família pensara no garoto que havia ceifado a vida de Jairo. Quem é ele? Essa informação foi esquecida momentaneamente, mas agora as mentes se aguçam por saber.
Ali, junto com a família, está Daniel, um amigo de Jairo, o melhor talvez. Estavam sempre juntos, e estavam juntos quando tudo aconteceu. Daniel é um pouco mais velho do que Jairo, e tinha um interesse oculto por Natali.
Daniel relata toda a história com detalhes, revela quem é o garoto. Quando Natali ouve o nome, uma ira sobe por todo o seu corpo ao saber que o garoto que tinha tirado a vida de Jairo era seu melhor amigo. Um garoto pelo qual ela nutria uma paixão secreta. Ela, enfurecida, vai até a cozinha, pega uma faca na gaveta do armário, sai correndo em direção a casa do garoto. Está cega pelo ódio, nesse momento seu desejo é de extrema vingança.
Corre alguns metros com a faca na mão, até chegar a uma casa situada na outra rua. Sem pedir licença, tenta abrir o portão que está trancando e começa a gritar:
– Hélio, seu covarde, venha até aqui! Quero fazer a mesma coisa que você fez com Jairo!
Ela já estava escalando o portão quando seu padrasto a puxa de volta:
– Natali, você tá doida?
– Não, eu só quero vingar a morte do meu irmão.
– Vamos para casa. Sua mãe tá passando mal.
Edson toma a faca dela e guarda na cintura. Nesse momento, aparece na porta um homem com um semblante muito triste, falando com a voz trêmula, com a convicção que seu filho era um assassino. Mas era seu filho, não tinha culpa pela ação impensada dele:
– Por favor, seu Edson, leve sua filha daqui. Estamos sofrendo muito por causa da fatalidade.
Natali se enfurece mais ainda.
– Fatalidade para nós, não pra vocês!
– Por favor, garota, vá embora. Tenho certeza que você não quer errar como meu filho errou.
– Eu quero é matar ele!
– Seu Edson, leve sua filha daqui ela está muito nervosa.
O pai do garoto aparentemente era uma pessoa calma, conhecia Joelma desde a juventude, eram da mesma cidade e praticamente saíram de lá na mesma época. Por coincidência, acabaram se tornando vizinhos, depois de um longo tempo sem se verem.
Natali parece uma onça furiosa, tenta se desgarrar dos braços do seu padrasto de todas as formas. Hélio coloca a cara no cantinho da janela, acreditando que ninguém conseguiria ver. Observa toda a cena, Natali então o visualiza, e grita:
– Vem aqui, seu covarde. Estou te vendo, eu sabia que você tinha inveja de Jairo. Nunca falava bem dele, era sempre com inveja, covarde!
Hélio sai da janela, ela continua falando:
– Hélio, você vai me pagar. Eu juro por toda minha vida, enquanto eu existir, você nunca mais terá sossego nessa tua vida mesquinha! Eu juro, eu juro!
Natali consegue desvencilhar-se dos braços do seu padrasto, e para sua surpresa, ela começa a jurar ajoelhada:
– Ande por onde andar, se for até para o inferno, eu irei atrás de ti, seu covarde! Eu juro por tudo o que é sagrado nessa vida e pelo que não é também, sua vida agora é minha.
Palavras fortes para uma garota de apenas quatorze anos. Um juramento com muito ódio, uma transformação de duas vidas envolvidas, num juramento adolescente.
Ela jura e chora com lágrimas de ira. Edson a pega nos braços e a carrega de volta para casa, era uma cena muito triste, desde o começo, e acompanhada por vários curiosos.
Hélio, dentro de casa, havia escutado cada palavra de Natali. Era como se cada palavra fosse a mesma estocada que ele deu no coração de Jairo. Ele derrama lágrimas congeladas num choro contido, para o próprio arrependimento. Aquela garota era sua paixão secreta, que um dia sonhara em revelar a ela, mas não dessa forma. Um assassino, e ainda do irmão dela. Agora se tornara sua inimiga revelada, uma jura de perseguição e de morte.
Hélio ainda não tinha quinze anos, por essa razão, seu pai decide procurar a justiça. O advogado que consegue permissão para que ele fosse para outra cidade, mas sempre com justificativas de seu paradeiro até completar a maioridade.
O pai de Hélio é um homem muito cauteloso, depois daquela cena no portão decide tomar essa decisão, mesmo que para isso fosse necessário ficar longe do seu filho.
Manda-o para casa de um irmão que não tinha filhos e que mora numa fazenda na sua cidade Natal. Uma situação provisória, até que se resolvesse tudo.
Depois de alguns dias, Natali se acostumara com ausência de Jairo, se sente mais conformada. Soube que Hélio havia sido mandado embora para casa de uma tia que morava muito distante, mas sua intuição dizia que Hélio estava na cidade onde sua mãe havia nascido, e comenta:
– Um dia ele voltará, e eu estarei aqui esperando por ele. Se ele não voltar, eu irei atrás dele, o encontrarei e me vingarei!
Natali disse essas palavras com um sorriso sinistro, quase que diabólico, cruel. Daniel, quem trouxe a notícia, fica um pouco receoso com tal atitude. É muito rancor e dor ao mesmo tempo. Ele agora vê uma Natali diferente. Antes de Jairo morrer, era uma garota doce e gentil, agora parecia calculista e vingativa.
Daniel tem a mesma idade de Natali, era muito amigo de Jairo, apesar de ser mais velho. Os dois se davam muito bem, só que agora com Natali está sendo diferente. Ele tenta se aproximar, mas ela parece não pertencer a esse mundo, talvez com o tempo melhore.
Ele guarda um certo interesse por Natali e, por essa razão, ainda persistia na amizade. Uma tentativa de preencher o vazio que Jairo havia deixado.