Capítulo 2 SEGREDOS REVELADOS

Lá fora um carro estaciona, tento reconhecer de quem seria aquele possante, mas não consigo, vejo alguém saindo amparado por um senhor que parecia ser irmão do meu falecido pai, era uma mulher se movendo lentamente, uma criatura frágil, talvez pela emoção dos acontecimentos, ela não está conseguindo se locomover sem ajuda daquele senhor que agora nitidamente percebo que é realmente meu tio, ainda não havia se aproximado do meu caixão e o pranto já ecoava, com lágrimas transbordando em sua face; meu corpo frio gelado como a própria lápide que seria meu túmulo, eu era filho único daquela mulher

agora frágil, mas na minha vida sempre me espelhei nessa mulher que não desistia facilmente de nada, uma mulher guerreira e vencedora, me deu a educação necessária à minha vida, me preparou para ser um homem bem sucedido, nisso ela teve todos os méritos, eu não teria como reclamar da minha vida financeira, tudo que tocava, se transformava em ouro, talvez um rei Midas melhorado, sem a maldição do próprio toque, a estabilidade me proporcionou tudo de bom e do melhor à minha família.

Minha querida mãezinha se aproxima do caixão, sinto suas lágrimas caírem no meu rosto enrijecido pelo o sucumbir da vida, um choro que me cortava o coração, mas então num certo momento, ela inclina a cabeça, até pensei que fosse beijar a minha face, mas sua boca foi até ao meu ouvido, e algumas palavras foram sussurradas e ouvi:

- Meu filho tantas vezes eu tentei te falar, mas não consegui a coragem necessária!

Ela respira fundo, eu tive medo, uma revelação que não foi em vida, ela não conseguiu dizer, mas agora não teria tanta importância, eu estava morto e não fazia muita diferença a revelação, assim eu acho que ela estava pensando, o improvável estava acontecendo, nunca na minha vida consegui imaginar alguém que estava morto, sentindo medo, ela se inclinou novamente, agora mais aliviada das lágrimas, quase não havia mais choro, e dispara a revelação atordoante ao meu ouvido, eu escutei, ninguém mais naquela sala conseguiu ouvir:

- Meu filhinho, que Deus tenha seu pai em um bom lugar, e se você merecer estará junto a ele também, se você o encontrar, dê um abraço nele por mim!

Ela tinha tanta certeza que eu estaria ouvindo, que falava como se eu estivesse respondendo e aceitando de boa toda essa situação.

Era isso? Eu nunca acreditei nessas baboseiras! Por que deveria acreditar agora? Pensando bem, acho que deveria agora usar o benefício da dúvida, olha o meu estado, morto no caixão, e eu aqui ouvindo minha mãe falar comigo! O que seria isso então?

Um dia quem sabe estaremos os três lá nesse lugar bom, minha mãe continua sussurrando:

- Eu sei que não merecia seu pai, ele era um homem muito bom!

Agora a dúvida pairava em meus pensamentos como fogo incessante: - Minha adorável mãe estava dizendo que não tinha merecimento a esse lugar bom, junto ao meu pai?

Acho também que ela sabia algo a meu respeito que fazia ela duvidar se eu iria para o tal céu, pensando bem, acho que é melhor ficar por aqui, o céu deve ser muito monótono, lotado de carolas, jamais conseguiria viver em um lugar assim! Minha mãe continua sussurrando.

- Filho, eu sinto muito te falar, mas seu pai que te criou muito bem não era seu verdadeiro pai!

- Como assim, eu fui adotado, uma vida de engano?

- Meu filho, eu te peço perdão pelo que revelarei agora, mas você era filho do seu tio, irmão do seu pai!

- O quê? - Acho que até minha cara dentro do caixão fez uma cara de espanto, quase morri outra vez com essa revelação, ainda pior, aquela mulher que era minha mãe, que eu achava ser uma mulher ilibada, agora descobrindo que ela pulava a cerca. Logo com meu tio, aquele cara de fuinha!

O que de pior poderia me acontecer além da morte?

Senti meu coração dentro do caixão disparar no meu corpo, eu senti a sensação de uma taquicardia, ele parou novamente, e o defunto morreu!

- Como assim, eu não sou filho do meu querido pai?

O drama continua, minha cabeça parece pesar, a minha mortalidade estava querendo saltar do caixão e dar umas repreendas nessa velha puladora de cerca, mas pensando bem, acho que foi meu tio quem pulou a cerca, o drama era aceitação, depois de morto descobri que meu pai era meu tio, e o meu tio era meu pai, uma enorme confusão na minha cabeça inexistente, mas persistente em querer continuar pensando, minha mãe não desiste da prosa ruim, tenho até medo do que virá a mais, toda revelação tem pormenores, é disso que eu tenho medo, talvez ela me queira detalhar acontecimentos, eu não estou preparado para encarar essa realidade.

Às vezes no ímpeto da impulsividade cometemos erros irreparáveis, eu acho que foi nesse momento que minha mãezinha escorregou, pelo menos é o que eu penso.

Mas os meus ouvidos não escaparam aos detalhes:

            
            

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