Aquelas palavras doíam. Eu tive uma paixonite por Maximillian desde que tinha uns quatorze anos, e ele, quinze. Okay, ainda não tinha passado, mas talvez agora, que ao invés de me ignorar, estava sendo um bruto, eu finalmente acordasse!
- Por quê? - eu perguntei. - Por que eu não sirvo? Se a Deusa da Lua...
Ele segurou meu ombro e aproximou o rosto do meu.
- Você está se fazendo de idiota ou o quê? Você é humana! Isso não basta?
- Se eu sou tão inapta, por qual motivo a Deusa da Lua me escolheu para ser a sua companheira? Ela errou?
- Deve ser um teste, para ver se eu sirvo para ser o líder. Afinal, se eu deixar que você suba ao poder, o bando vai com certeza cair - as palavras, o tom, o olhar... tudo era cruel. - Você NÃO SERVE, Brunnhilde Linden! Agora, aceite a maldita rejeição!
Eu deveria, eu deveria mesmo aceitar. Porém, eu não conseguia. Alguma coisa dentro de mim me dizia para não aceitar, para esperar um pouco mais.
- Se você não rejeita por bem, vai rejeitar por mal - Maximillian estalou a língua. - Não diga que eu não avisei!
E ele saiu da sala para onde tinha me arrastado, deixando-me sozinha na escuridão.
Demorei alguns momentos para enxugar as lágrimas que teimavam em cair e finalmente saí dali. Maximillian estava errado. Eu podia ser uma boa Luna, eu podia cuidar do bando! Cresci ouvindo que a Deusa da Lua, Selene, nunca errava. E que quando um companheiro rejeitava o outro, apenas desgraças seguiam. Eu amava o bando, ainda que muitos membros não gostassem de mim, mas foi ali que cresci, foi ali que eu fui acolhida e eu não faria nada para prejudicá-los. Além disso, eu sabia que no fundo, outra razão para eu negar a rejeição era o próprio Maximillian.
Será que se eu tivesse uma loba, ela falaria comigo? Me aconselharia? E o que ela me diria? Para insistir e perseverar ou para largar de mão, de vez, aquele macho que não dava a mínima para mim?
Quando cheguei na ala de refeições, Jo acenou pra mim. Ela estava sentada em uma mesa bem ao fundo, perto das latas de lixo e, assim que me aproximei, ela parecia pedir desculpas com os olhos.
- Por que aqui?
Ela suspirou.
- Pelo que parece, todos estão com ordens para não nos deixar sentar em qualquer outro lugar. Eu tentei e fui praticamente expulsa - ela deu de ombros. - Quer ir pra área de grama?
- É melhor - peguei a bandeja e vi Jo se levantar. Eu mal me virei e a minha bandeja de comida virou em cima de mim. - Ah!
- Ops! - ouvi Larissa soltar, cobrindo a boca com a mão e dando risadinhas, ao olhar ao redor. - Não te vi no caminho.
- Então você é cega? - Jo perguntou, tirando uma toalha de rosto que ela sempre tinha uma na mochila, e entregando-a a mim.
- Eu só não vejo coisinhas insignificantes! - Larissa jogou os cabelos para trás do ombro e olhou as unhas imensas. Uma das garotas que estava com ela empurrou a bandeja de Jo para o chão. - Ai, não tenho tempo pra perder aqui. Tenho coisa melhor pra fazer e com quem fazer.
Ela passou por mim e eu cuidei de me limpar. Arrisquei uma olhada em Larissa, ainda ressentida, e a vi sentando ao lado de Maximillian, que me observava com um olhar de vitória.
- Que babaca! - ouvi Jo soltar baixo. - Ele deveria impedir que pessoas como Larissa maltratassem os outros membros do bando! Belo Alfa esse aí vai ser!
Desviei o olhar, porque como se não bastasse o desprezo dele, ainda ter que observar enquanto Larissa se esfregava nele era demais.
- Vamos logo daqui.
Jo concordou e nós saímos. Eu podia sentir os olhares dos outros lobisomens.
Já sentadas debaixo de uma árvore, Jo tirou de dentro da mochila duas barrinhas de cereal.
- Não é grande coisa, mas é melhor do que nada - ela falou e me entregou uma das barrinhas.
- Não entendo o motivo dela ser tão cruel.
- Nem todo mundo precisa de um motivo pra ser ruim, Bru - Jo deu uma mordida desgostosa na barrinha de banana. - Larissa é implicante, sempre foi. Ela gosta de ver membros mais fracos sofrerem.
Olhei para baixo. Maximillian não era de praticar bullying, que eu soubesse, porém, ele sempre passou a mão na cabeça de Larissa. Estariam eles juntos? Era esse outro motivo para ele não me querer?
Ouvi um galho quebrando e olhei. Era Alvin. Ele trazia uma sacola de papel e a estendeu para mim.
- Sinto muito por mais cedo.
- Não foi você que derrubou nossa comida e tentou nos humilhar - Jo respondeu e pegou a sacola antes de mim. - Mas aceito a comida. Obrigada.
Ele soltou uma risadinha, a covinha da bochecha esquerda aparecendo.
- Já que gosta de comer, podemos experimentar o restaurante novo que abriu.
Eu apenas observava a interação dos dois. Alvin era bonitão, com olhos grandes e amendoados e cabelos castanhos ondulados. Os dentes muito brancos, mas não de um jeito estranho.
- Não, obrigada - foi a resposta de Jo e o sorriso dele esmoreceu um pouco. - Eu não ando com quem anda com o meu inimigo.
Larissa sempre teve uma cisma com a gente e Alvin era do grupo, porque andava com Maximillian.
Alvin suspirou e assentiu levemente com a cabeça, antes de se afastar.
- Jo, eu acho que ele gosta de você.
Ela deu de ombros.
- Se gostasse, não andaria com aquela vaca! Ele nem se levantou para nos ajudar, como pode dizer isso, Bru?
Olhei para o sanduíche que ela devorava.
- Mas aceitou a comida dele.
- Ele não fez mais do que a obrigação, já que a amiguinha dele derrubou o nosso rango - Jo estendeu a sacola para mim. - Coma, vamos precisar de energia pra aguentar o restante do dia.
- Você não tem dignidade - brinquei. Como se eu pudesse falar muito, não é? Não aceitando a rejeição de Maximillian.
- Com comida, nunca.
Rimos e continuamos a comer. Jo melhorava o meu dia.
Felizmente, não tivemos problemas no restante do dia e finalmente voltamos para casa. Ajudamos Amalia a preparar o jantar e logo, estávamos sentadas em volta da mesa.
- Hmm, meninas, vocês já escolheram a roupa que vão usar para a cerimônia?
Jo e eu nos entreolhamos.
- Que cerimônia?
Amalia parou de comer.
- Como assim? A cerimônia de passagem de comando - ela sorriu como se estivesse nos lembrando. - Não acredito que esqueceram... Sábado, Maximillian será o novo Alfa. E, pelo que eu ouvi, ele tem uma Luna.