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Luna: [suspira enquanto olha para o relógio]
Carla, não sei mais como fazer isso. O trabalho está cada vez mais puxado, o Miguel... Ele está começando a ficar mais difícil de lidar, e eu... Eu estou exausta.
Carla: [fazendo uma careta de preocupação]
Luna, eu sei que está difícil, mas você precisa cuidar de si também. Você não pode se desgastar até não sobrar energia para nada. Já tentou pedir ajuda para alguém? Eu estou aqui, você sabe disso
Luna: [balança a cabeça]
Ajuda... Eu queria poder, mas não tem ninguém. Eu sou a única responsável por ele agora, Carla. Sinto que estou falhando com o Miguel. Ele está crescendo rápido demais, e eu mal consigo acompanhar. Ele sente falta dos pais, e às vezes acho que ele culpa a mim por isso. Como se eu fosse responsável pela dor dele.
Carla: [puxa Luna para sentar ao seu lado]
Luna, você não é culpada por nada disso. Ele pode estar sofrendo, mas ele te tem. E isso é o mais importante. Não é fácil, eu sei. Mas você está fazendo o melhor que pode. E isso já é o suficiente. Não é uma corrida. Ninguém disse que a vida tinha que ser fácil, mas eu vejo você, Luna. E você é incrível. Não existe perfeição, existe o esforço, e você está se esforçando muito.
Luna: [olha para o chão, uma lágrima escapa]
Às vezes eu só queria que as coisas fossem diferentes. Queria poder voltar para a faculdade, retomar os meus sonhos. Eu amava Medicina, Carla. Tinha tanto potencial, e agora... Agora tudo parece estar em pausa. Eu nem sei quem eu sou sem o meu curso, sem o meu futuro planejado.
Carla: [pegando a mão de Luna]
Você não está sozinha nisso, Luna. Sei que é difícil ver agora, mas nada está perdido. A vida não é uma linha reta. E, às vezes, as pausas não são realmente o fim. Pode ser que você volte a estudar um dia. Ou talvez surja algo novo no seu caminho. O que importa agora é você. O Miguel precisa de você, e você tem dado tudo por ele. Mas, e você? Quando é que vai cuidar de si mesma?
Luna: [levanta os olhos, pensativa]
Eu não sei. Não sei por onde começar. Eu estou tão envolvida com tudo que nem sei o que eu realmente quero mais. Às vezes eu só... Eu só queria parar de me sentir tão perdida.
Carla: [sorri suavemente]
Luna, você não precisa ter todas as respostas agora. Só começa com um passo. Um pequeno passo. Se cuidar não é só sobre estar bem fisicamente, é também sobre cuidar da sua mente. Talvez um dia por semana você possa tirar um tempo só para você, para respirar, para pensar no que realmente te faz feliz, mesmo que seja por alguns minutos.
Luna: [pensativa]
Eu não sei se consigo me dar esse luxo, mas... vou tentar. Só que, e o Miguel? Ele vai sentir se eu não estiver por perto o tempo inteiro.
Carla:
Miguel te ama, Luna. Ele pode não entender tudo o que você está passando, mas ele sente o seu esforço. E você não está deixando de ser presente por cuidar de si mesma. Ao contrário, ao se cuidar, você vai ser ainda mais forte para ele. Ele precisa de uma Luna inteira, não uma Luna que se esquece de si mesma no meio de tudo isso. Ele vai entender, com o tempo.
Luna: [respira fundo, tentando absorver as palavras de Carla]
Eu sei que você tem razão. Talvez eu só tenha que confiar mais no processo. Não posso carregar o mundo sozinha.
Carla: [sorrindo]
Exatamente. E lembra, eu estou aqui para o que você precisar. Sempre.
Luna: [sorri pela primeira vez em muito tempo]
Obrigada, Carla. Eu não sei o que faria sem você.
Carla: [abraçando Luna]
E você nunca vai precisar descobrir. Eu sou sua amiga, sempre.
Luna então se despediu de Carla sua melhor amiga e foi trabalhar.
Luna chegou ao restaurante pontualmente, como fazia todos os dias. O cheiro de café recém-passado e pão saindo do forno preenchia o ambiente, trazendo uma sensação de conforto que ela sempre amou naquele lugar. Vestindo seu avental, foi direto para o balcão, organizando os talheres enquanto cumprimentava os colegas com um sorriso.
Mas algo estava diferente naquela manhã. Irene Salvatore, a dona do restaurante, a observava à distância, séria e com as mãos cruzadas. Luna tentou ignorar a sensação ruim que aquilo lhe causava, mas bastaram alguns minutos até que Irene se aproximasse.
- Luna, pode vir até o meu escritório? Precisamos conversar - disse Irene, com um tom mais grave do que o habitual.
Luna assentiu, sentindo o coração acelerar. Enquanto caminhava até o pequeno escritório nos fundos, tentou imaginar o que poderia ter acontecido. Algo na expressão de Irene dizia que não era um bom sinal.
Sentando-se na cadeira diante da mesa da chefe, Luna esperou enquanto Irene suspirava, como se buscasse as palavras certas.
- Luna, eu preciso ser direta - começou Irene. - O restaurante está enfrentando dificuldades financeiras. O movimento caiu muito nos últimos meses, e estamos lutando para nos manter abertos. Infelizmente, eu vou ter que dispensá-la.
Luna sentiu o chão sumir sob seus pés. - O quê? Não... Por favor, dona Irene, não faça isso. Eu preciso desse emprego.
- Eu entendo, Luna, mas não tenho escolha - respondeu Irene, com uma expressão de cansaço e pesar. - Não é sobre você. É a situação do restaurante.
- Eu posso fazer qualquer coisa! Reduzir minhas horas, ajudar mais... Eu aceito um salário menor! Só não me mande embora, por favor - implorou Luna, a voz embargada.
Irene fechou os olhos por um momento, como se tentasse se blindar daquela súplica. - Eu sinto muito, de verdade. Mas minha decisão está tomada.
Luna saiu do escritório com lágrimas nos olhos, o peito apertado pela sensação de derrota. Ela olhou ao redor do restaurante, aquele lugar que já tinha sido como um segundo lar. Agora, tudo parecia mais vazio do que nunca.