O Legado do Lobisomem
img img O Legado do Lobisomem img Capítulo 6 Rick Dawson
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Capítulo 12 Ayla e img
Capítulo 13 Rick Dawson img
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Capítulo 6 Rick Dawson

Eu não confiava na menina, mas era difícil ignorar os olhos grandes e assustados que me encaravam. Ela se agarrava a Ayla como se fosse uma extensão dela, como se o mundo inteiro estivesse prestes a desabar e Ayla fosse a única coisa que a mantinha de pé. Parte de mim queria afastá-la, manter a distância. Outra parte sabia que era tarde demais para isso.

- Quem é você? - perguntei, minha voz mais grave do que pretendia.

Ela hesitou, olhando de mim para Ayla, como se esperasse que alguém a salvasse da pergunta. Finalmente, sussurrou algo que me fez ranger os dentes.

- Eles me mandaram.

Eu senti a raiva borbulhar. Não porque a menina parecia estar nos traindo - não, ela não tinha esse ar de malícia -, mas porque suas palavras eram mais um pedaço de um quebra-cabeça que ninguém parecia querer me explicar.

- Quem são eles? - perguntei, forçando a calma.

O silêncio dela foi quase mais irritante do que qualquer resposta que pudesse ter dado. Antes que eu pudesse insistir, o vento na floresta mudou. Era sutil, mas eu senti. Sempre sinto. A tensão no ar ficou mais pesada, carregada de algo que não pertencia àquele lugar.

- Algo está vindo. - Minha voz saiu baixa, mas firme. Eu já podia sentir o calor familiar da transformação queimando sob a minha pele.

- Rick, precisamos sair daqui. - Ayla disse, a voz dela tensa, mas controlada.

Eu balancei a cabeça, sem tirar os olhos da floresta ao nosso redor. - Não adianta correr. Elas nos encontram de qualquer jeito.

Ayla não respondeu, mas o olhar dela para a menina me fez ceder. Ela estava certa - como sempre. A garota não sobreviveria se a luta fosse aqui e agora.

- Por aqui. - Apontei para uma trilha estreita, mal visível entre as árvores, e comecei a caminhar.

Enquanto avançávamos, o silêncio da floresta era perturbador. Não era o tipo de silêncio que traz paz. Era o tipo que antecede uma tempestade. Cada passo meu era calculado, cada ruído à distância fazia meus sentidos entrarem em alerta máximo.

- Quem está atrás de você? - perguntei, virando levemente a cabeça para a menina.

Ela demorou, mas respondeu com uma voz que parecia ecoar mais medo do que palavras.

- Aqueles que querem o símbolo... e o que ele protege.

Eu parei por um segundo, olhando para Ayla. Ela não me encarou, mas o símbolo na mão dela estava brilhando de forma irregular, como se estivesse reagindo à presença da garota. Ou talvez à ameaça que nos seguia.

- O que ele protege? - perguntei, dessa vez olhando diretamente para Ayla.

Ela evitou meu olhar, focada em manter o ritmo. E, antes que pudesse responder, um som cortou o ar. Um uivo. Não como o de um lobo, mas algo distorcido, quase humano, carregado de algo que fazia meu instinto gritar.

Eu parei, erguendo uma mão para sinalizar que Ayla e a menina ficassem atrás de mim.

- Estão aqui. - Minha voz era um rosnado baixo enquanto minha transformação começava a se completar.

- Rick, não podemos enfrentá-los sozinhos. - Ayla disse, mas eu nem olhei para ela.

- Não estou sozinho. Você está comigo. - Minha voz soou mais como um desafio do que como encorajamento.

E então elas vieram. Saíram das sombras como fantasmas, rápidas, torcidas, famintas. Eram mais numerosas do que antes. Eu avancei sem pensar, deixando o instinto me guiar. Minhas garras rasgaram a primeira criatura, o cheiro ácido do que quer que fosse seu sangue invadiu meu nariz. A adrenalina corria pelas minhas veias, mas eu sabia que não seria suficiente. Elas não paravam.

- Ayla! - gritei, lutando contra outra onda. - Faça o que precisa fazer!

Ela não respondeu, mas eu senti a energia mudando. O brilho no símbolo dela crescia, iluminando a floresta. As criaturas hesitaram, mas só por um momento. Elas sabiam que ela era a chave. Era Ayla que elas queriam.

Eu continuei lutando, ignorando a dor, ignorando o cansaço. Cada golpe meu parecia fazer menos efeito. E então veio a explosão de luz. Foi como um raio atingindo o coração da floresta. A energia empurrou tudo para trás, até mesmo eu. As criaturas gritaram, um som horrível, e desapareceram nas sombras.

Quando tudo se acalmou, eu estava ofegante, os olhos fixos em Ayla. Ela estava ajoelhada no chão, o símbolo agora apagado, e a menina ainda agarrada a ela.

- Isso não foi o suficiente. - disse a garota, sua voz quebrando o silêncio.

Eu franzi o cenho, tentando entender.

- Como assim? Elas foram destruídas.

Ela balançou a cabeça, lágrimas escorrendo. - Não. Elas não foram destruídas. Elas sempre voltam. Elas nunca param.

Eu olhei para Ayla, sentindo uma raiva crescente. - Ayla... o que está acontecendo aqui? O que você não está me contando?

Ela me olhou, finalmente, e naquele momento percebi que ela estava tão assustada quanto eu. Não com as criaturas, mas com o que estava prestes a dizer.

- Elas estão atrás de mim, Rick. Não por causa do que fiz, mas por causa do que sou.

As palavras dela ficaram no ar como um peso. Eu olhei para ela, para a menina, para o símbolo agora apagado. Tudo começou a fazer sentido, mas não era o tipo de verdade que eu queria ouvir.

- E eu? - perguntei, a voz saindo mais dura do que eu pretendia. - Onde eu entro nisso?

Ela hesitou, mas respondeu com uma sinceridade que me deixou desconfortável.

- Você é a peça que faltava. Sempre foi. Mas isso vai te custar, Rick. Vai nos custar.

Eu ri, um riso amargo e cansado. - Claro. Por que não? Eu já estou afundado nisso até o pescoço. Que venha o resto.

Mas, no fundo, eu sabia que essa escolha não seria tão simples. E, pela primeira vez, o medo de não sair inteiro dessa era maior do que qualquer outra coisa que já enfrentei.

A clareira estava em silêncio, mas não era um silêncio de paz. Era o tipo que pesava no peito, carregado de perguntas sem resposta. Eu estava ofegante, o gosto de ferro na boca enquanto limpava o sangue negro das criaturas das minhas mãos. Ainda sentia o calor da luta queimando sob minha pele, mas as palavras da menina não saíam da minha cabeça.

Eu me virei para elas, os olhos fixos em Ayla. Ela estava de joelhos, exausta, mas ainda segurava a mão da menina, como se isso fosse mantê-la ancorada na realidade.

- Alguém vai me explicar o que diabos está acontecendo? - perguntei, minha voz baixa, mas carregada de fúria contida.

Ayla levantou os olhos para mim, e eu vi algo ali que nunca tinha visto antes: medo. Não o medo de morrer ou de perder, mas o medo de dizer a verdade. Ela respirou fundo, como se estivesse tentando reunir coragem para falar.

- Rick... você sempre se perguntou por que é diferente, não é? - Ela começou, a voz dela hesitante.

Eu cerrei os dentes. Não gostei do tom dela, como se estivesse prestes a me dizer algo que mudaria tudo. Porque provavelmente estava.

- Não sou diferente. Sou apenas... eu. - Minha resposta saiu dura, quase defensiva.

Ayla balançou a cabeça lentamente. - Não, Rick. Você não é "apenas você". Você é o Alfa da sua alcateia, sim, mas isso é só parte do que você é. Existe uma linhagem... uma conexão antiga. E você faz parte disso.

- Conexão? Que conexão? - Eu estava cansado de enigmas, mas algo no olhar dela me fez ficar em silêncio.

Ela se levantou devagar, o símbolo na mão dela brilhando fracamente agora, como se estivesse poupando forças.

- Essas criaturas não estão atrás de mim por causa do que eu carrego. Estão atrás de você, porque você carrega algo muito mais importante. - Ela apontou para o meu peito, como se pudesse ver algo dentro de mim que eu não conseguia.

- E o que eu carrego? - perguntei, rangendo os dentes. - Não me venha com metáforas, Ayla. Fala logo.

A menina, que havia permanecido calada, olhou para mim com uma expressão de culpa misturada com piedade. Era estranho ver isso no rosto de uma criança.

- Você é o portador, Rick. - Ela disse, com a voz baixa, mas firme. - O Alfa do Alfa. O escolhido para proteger o que resta do equilíbrio entre o que vocês são... e o que eles são.

- O equilíbrio? - Eu ri, mas foi um riso seco, amargo. - Isso parece coisa de uma história que alguém inventou para justificar por que as coisas dão errado.

Ayla se aproximou, colocando uma mão no meu ombro. O toque dela era firme, mas carregava uma suavidade que fez minha raiva vacilar por um instante.

- Rick, você sabe que tem algo dentro de você. Algo que sempre esteve lá, algo que te torna diferente. É por isso que elas te querem. Você é mais do que um alfa. Você é a chave para um poder que elas nunca tiveram... mas que você também nunca quis.

Eu a encarei, sentindo meu peito se apertar. O que ela estava dizendo fazia sentido de uma maneira que eu odiava. Sempre houve algo que me separava, algo que me fazia sentir como se eu carregasse um peso que nunca pedi.

- E você sabia disso o tempo todo? - perguntei, a voz mais baixa agora.

Ayla desviou os olhos por um momento, mas voltou a me encarar. - Eu suspeitava. Não sabia ao certo... até hoje.

Eu passei a mão pelo cabelo, tentando processar tudo. As criaturas, o símbolo, a menina. Tudo apontava para algo maior do que qualquer coisa que eu queria fazer parte.

- Então é isso? Sou algum tipo de peça em um jogo que nem sequer entendo? - perguntei, olhando para ela com um misto de frustração e decepção.

Ayla apertou os lábios, mas não respondeu de imediato. Quando finalmente falou, a voz dela estava baixa, quase um sussurro.

- Não é só um jogo, Rick. É uma guerra. E, quer você goste ou não, você é o único que pode decidir como isso termina.

As palavras dela pairaram no ar, pesadas, enquanto eu tentava processar tudo. Não era só sobre mim. Era sobre algo maior, algo que eu nunca quis fazer parte. E, de repente, todo o meu instinto de proteção fazia sentido. Não era só minha natureza como alfa. Era algo mais profundo, algo que eu ainda não entendia completamente.

A tensão entre nós era palpável, e eu sabia que não havia volta. Seja lá o que estivesse acontecendo, estava apenas começando. E, como sempre, eu teria que lutar. Mas, desta vez, não era só por mim. Era por tudo.

"Portador... Essa palavra ecoava na minha cabeça, mas não fazia sentido. Por que eu? Qual a lógica de tudo isso? Dizem que o destino escolhe, mas, sinceramente, isso mais parece um castigo do que uma escolha. Descobrir que minha linhagem carrega um fardo tão grande, algo que eu nunca pedi, só me faz querer lutar contra isso.

E, no meio de tudo, Ayla. Ela é a única que parece entender o peso que carrego, talvez porque ela também carrega os dela. O vínculo entre nós está ficando mais forte, isso é inegável, mas é assustador. É como se estivéssemos presos por algo muito maior, algo que nenhum de nós controla.

Enquanto o perigo cresce ao nosso redor, a única coisa que sei com certeza é que fugir não é uma opção. Por mais que eu odeie admitir, ser 'o portador' não é só sobre mim... É sobre ela também. E, de algum jeito, somos parte de algo que pode mudar tudo. Mas a que custo? Essa é a pergunta que não consigo ignorar."

            
            

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