- Alfa. - Disse Darius, o beta mais velho e meu braço direito. - O que está acontecendo? O território está inquieto, e ouvimos rumores sobre uma força sombria.
Eu parei no centro do círculo, deixando meu olhar passar por cada um deles. Homens e mulheres que eram minha família, que haviam lutado ao meu lado incontáveis vezes. Eles estavam prontos para lutar novamente, mas era exatamente isso que eu queria evitar.
- Estamos enfrentando algo que vocês não podem imaginar. - Comecei, minha voz firme. - Uma força das sombras, algo que pode destruir não apenas este território, mas tudo o que conhecemos.
O murmúrio de inquietação começou, mas levantei a mão, exigindo silêncio.
- É exatamente por isso que estou aqui. Quero que vocês fiquem fora disso.
A declaração caiu como um trovão.
- Fora disso? - Perguntou Lila, uma das betas mais jovens, sua voz carregada de descrença. - Alfa, somos sua alcatéia. Sua força. Não podemos simplesmente ficar parados enquanto você enfrenta isso sozinho.
Darius deu um passo à frente, o olhar dele sério.
- Lutar ao seu lado é nosso dever. Proteger você é nosso instinto.
Eu inspirei fundo, sentindo o peso de suas palavras. Eles estavam certos. Sempre lutamos juntos, como uma unidade. Mas desta vez, não era uma batalha comum.
- Eu sei o que vocês sentem. - Disse, tentando manter a calma. - Mas isso não é uma luta que vocês possam vencer. Essas sombras não são como os inimigos que enfrentamos antes. Elas não têm corpos para derrubar ou sangue para derramar.
Os murmúrios aumentaram, mas eu continuei, minha voz mais firme.
- Vocês são minha família. Minha alcatéia. E, como alfa, minha primeira responsabilidade é proteger vocês. Não vou arriscar suas vidas contra algo que não podem derrotar.
- Mas e você? - Perguntou Darius, a voz dele mais baixa agora. - Você vai enfrentar isso sozinho?
Eu hesitei, mas sabia que precisava ser honesto.
- Não estou sozinho. Tenho alguém ao meu lado. Alguém que entende o que estamos enfrentando.
Lila franziu a testa, confusa.
- Quem?
- Ayla. - Respondi, minha voz carregada de convicção. - Ela é parte do equilíbrio que precisamos para enfrentar essa força.
A menção de Ayla trouxe mais murmúrios, mas Darius ergueu a mão, pedindo silêncio.
- Então, você confia nela?
- Com minha vida. - Respondi sem hesitar.
Os olhos de Darius encontraram os meus, e por um momento, houve apenas silêncio. Finalmente, ele assentiu.
- Então confiamos também.
Lila parecia relutante, mas finalmente deu um passo atrás, juntando-se aos outros.
- Se essa é sua ordem, alfa, vamos obedecer.
Eu senti o alívio misturado com o peso da responsabilidade. Eu sabia que eles não estavam felizes com a decisão, mas também sabia que era o certo a fazer.
- Obrigado. - Disse, olhando para cada um deles. - Protejam o território. Se algo acontecer comigo, vocês precisam continuar. A alcatéia deve sobreviver.
Darius colocou a mão no peito, um gesto de respeito que os outros imitaram.
- Vamos proteger o território, alfa. Você tem nossa palavra.
A noite estava mais pesada do que o habitual quando me preparei para sair do território da alcatéia. Tinha acabado de dar minhas ordens para que ninguém interferisse, mas o peso nos olhares de meus betas ainda estava em minha mente. Eu sabia que eles não estavam felizes, especialmente Lila.
Ela sempre foi leal, mas havia algo mais em suas ações que eu havia ignorado por muito tempo. Eu podia sentir o olhar dela em mim enquanto me preparava para deixar o círculo. Antes que pudesse ir muito longe, ouvi sua voz firme me chamando.
- Alfa!
Eu parei, virando-me para encará-la. Lila estava parada ali, o olhar dela era uma mistura de raiva e preocupação.
- O que foi, Lila? - Perguntei, tentando manter minha paciência.
Ela deu um passo à frente, os outros betas observando de longe, mas sem intervir.
- Você está indo se sacrificar por alguém que nem faz parte da nossa alcatéia. Uma estranha.
Seus olhos estavam fixos nos meus, mas não havia apenas preocupação neles. Havia algo mais profundo, algo que ela nunca havia dito em voz alta.
- Ayla não é uma estranha. - Respondi, minha voz firme. - Ela é parte disso, Lila. Parte de algo maior do que nós.
Ela deu outro passo à frente, sua voz agora um sussurro carregado de emoção.
- Ela não é parte de você. Não como eu sou.
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Era a primeira vez que ela dizia algo tão abertamente. Mas, ao invés de recuar, ela continuou.
- Você vai se matar, Rick. Vai enfrentar essas sombras por alguém que mal conhece, enquanto aqueles que sempre estiveram ao seu lado são deixados para trás.
Houve um murmúrio entre os outros betas, mas ninguém se aproximou. Sabiam que essa era uma conversa entre mim e ela.
- Você terminou? - Perguntei, mantendo minha voz calma, mas com firmeza suficiente para silenciá-la.
Ela hesitou, mas balançou a cabeça.
- Não. Porque você precisa entender. Eu faria qualquer coisa por você, Rick. Qualquer coisa. Mas você está escolhendo protegê-la em vez de proteger a nós.
Minha paciência estava acabando, mas havia algo em suas palavras que me incomodava. Não era apenas ciúme. Era medo.
- Lila. - Comecei, minha voz mais baixa, mas cheia de autoridade. - O dever de um alfa é proteger o que é importante. E, neste momento, Ayla é parte disso. Não porque eu a escolhi acima de vocês, mas porque ela é a chave para salvar tudo o que conhecemos.
Ela piscou, surpresa com minha sinceridade. Mas antes que pudesse responder, dei um passo à frente, aproximando-me dela.
- E mais uma coisa. - Acrescentei, minha voz mais fria agora. - Não quero ouvir mais nada sobre isso. Não questione minha decisão novamente.
Os olhos de Lila se encheram de lágrimas, mas ela manteve a cabeça erguida, um sinal de respeito misturado com teimosia.
- Sim, alfa. - Disse finalmente, sua voz carregada de emoções que ela estava tentando esconder.
Eu me afastei, ignorando os olhares dos outros betas enquanto voltava para a floresta.
Enquanto caminhava de volta para Ayla, não conseguia tirar as palavras de Lila da cabeça. Ela não estava completamente errada. Estava me colocando em risco por algo que parecia impossível, mas eu sabia que não havia outra escolha.
O lobo dentro de mim rosnava de aprovação. Ele entendia o que Ayla significava, mesmo que minha alcatéia não pudesse ver isso ainda.
Mas, mesmo assim, uma pergunta permanecia: se eu falhasse, quem protegeria minha alcatéia?