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Naquela noite, Erick me chamou para ir ao cinema. Era o momento perfeito para falar tudo o que estava entalado. Enquanto o filme passava, minha mente não parava. As palavras de Tay ecoavam na minha cabeça: "Vai com calma, não coloca tanta expectativa". Mas como eu podia? Meu coração já tinha ultrapassado qualquer barreira e era tarde para voltar atrás.
Quando a sessão acabou, paramos na praça de alimentação do shopping. Ele estava distraído com o celular, rindo de algo que eu nem me importei em perguntar. Aproveitei que ele estava relaxado e criei coragem.
– Erick, posso te perguntar uma coisa? – minha voz saiu mais séria do que eu planejava.
Ele levantou os olhos, meio confuso, mas sorriu. – Claro, fala.
Eu respirei fundo, sentindo meu coração disparar. – Você gosta de mim?
Ele riu, como se fosse a pergunta mais óbvia do mundo. Pegou minha mão e deixou um beijo leve e doce ali. – Que pergunta é essa, May? É claro que eu gosto de você. Gosto muito.
Aquele gesto deveria ter me tranquilizado, mas, ao contrário, só aumentou o nó no meu peito. Eu precisava de mais.
– E o que a gente é? Quer dizer... pra você, o que somos?
A expressão dele mudou na hora. O sorriso desapareceu, e ele colocou o celular na mesa. Seus olhos me encararam, mas não com o mesmo brilho de antes. Havia algo diferente ali, algo que eu não queria enxergar.
– May... – ele começou, com a voz baixa, como se estivesse pisando em um campo minado. – A gente tá bem assim, não tá? Por que a gente precisa colocar rótulos? Desde o começo a gente combinou de deixar as coisas rolarem. Por que essa pergunta agora?
Foi como se ele tivesse jogado um balde de água frial
em mim. Meu estômago revirou, e meu coração pareceu diminuir.
Minha respiração ficou presa por um segundo, mas eu sabia que precisava ser honesta. Meu coração já estava na linha de fogo, então por que recuar agora?
– Porque eu preciso de mais – as palavras escaparam antes que eu pudesse racionalizá-las, cheias de urgência, como uma confissão que eu não conseguia mais conter.
Ele me olhou, surpreso, quase incrédulo. – Mais? – repetiu, como se a palavra fosse um enigma que ele não conseguia decifrar.
Houve um silêncio pesado entre nós, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou, a voz um pouco mais firme, quase defensiva.
– May, o que a gente tem já é muito mais do que eu tive com qualquer garota. Eu tô sendo sincero aqui. Não é suficiente pra você?
Aquelas palavras deveriam ter sido um alívio, mas, em vez disso, me cortaram como uma lâmina. Eu senti o peso por trás do que ele dizia, mas, ao mesmo tempo, era como se ele não conseguisse entender o que eu realmente queria dizer.
– Não é sobre ser suficiente, Erick – retruquei, minha voz saindo mais alta e trêmula do que eu planejava. – É sobre saber que isso é real, que a gente tá construindo algo de verdade, não só vivendo momento por momento. Eu preciso sentir que eu sou mais pra você do que... do que uma garota com quem você passa o tempo.
Ele passou a mão pelo cabelo, claramente desconfortável, o olhar desviando para longe de mim como se quisesse escapar daquela conversa. – Você é mais, May. Claro que é. Eu gosto de você. Muito. Mas eu não sei se tô pronto pra essa intensidade toda agora. Não sei se tô pronto pra assumir algo sério.
Pronto. As palavras que eu mais temia ouvir estavam ali, despidas de qualquer proteção. Tentei não demonstrar, mas meu coração estava se despedaçando. Ele percebeu o impacto, mas não fez nada. Apenas desviou o olhar, como se não suportasse a minha dor.
E foi aí que eu percebi. Por mais que ele dissesse gostar de mim, por mais que nossos momentos juntos fossem bons, nós estávamos em sintonias completamente diferentes, exatamente como Tay havia dito. E talvez ele nunca estivesse pronto para o que eu precisava.
O resto da noite foi um pesadelo silencioso. Cada segundo parecia me sufocar ainda mais. No caminho de volta pra casa, o ar dentro do carro estava envolto numa tensão aterrorizante. Eu me forcei a manter a cabeça erguida, mas por dentro, eu estava em ruínas.
Quando cheguei em casa, não consegui dormir. Revivi cada palavra dele na minha mente, procurando respostas que não existiam. Onde foi que eu errei? O que eu fiz pra ele não querer o mesmo que eu?
______
No dia seguinte, ainda com a cabeça cheia, fui para o colégio com Tay e Gael. Eles tentaram me animar no caminho, mas nada surtia efeito. Era como se uma nuvem pesada me seguisse, carregando o peso do que eu sentia.
Mas nada, absolutamente nada, me preparou para o que eu vi quando chegamos ao pátio.
Erick estava lá, encostado em um banco, sorrindo. Só que o sorriso não era pra mim. Era pra ela. Uma garota da minha sala, que eu nunca o vi falando com ela, mas que, naquele momento, parecia ser tudo o que ele queria. E então, como se o universo quisesse me atingir da pior forma possível, ele a puxou para perto e a beijou.
Meu mundo parou. Tudo ao meu redor ficou embaçado, como se o tempo tivesse congelado naquele momento. Eu não conseguia respirar, não conseguia pensar. Só conseguia olhar, completamente incrédula, para o garoto que, na noite anterior, tinha segurado minha mão e dito que gostava de mim.
– May... – Tay chamou meu nome, a voz dela baixa, como se tivesse medo de me quebrar.
Mas eu já estava quebrada. Uma parte de mim tinha despedaçado naquele instante.
Antes que ela pudesse me segurar, meus pés começaram a se mover. Sem pensar, sem planejar, comecei a caminhar na direção deles. Meu coração estava um misto de dor e raiva, uma chama que queimava e me consumia. Eu precisava de respostas. Mesmo que elas me destruíssem ainda mais.
Eu parei a poucos passos de distância, com o coração disparado e uma mistura de tristeza e indignação me consumindo. Erick percebeu minha presença antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Ele se afastou da garota, visivelmente desconfortável, mas já era tarde demais. O estrago estava feito.
– May, não é o que parece... – ele começou, a voz apressada, mas as palavras soaram vazias, como um eco distante.
– Não é o que parece? – repeti, tentando controlar o nó na garganta. Minha voz saiu baixa, mas carregada de mágoa. – Porque, pra mim, parece exatamente o que é.
A garota olhou de mim para ele, visivelmente confusa, mas não disse nada. Erick deu um passo na minha direção, mas eu levantei a mão, pedindo pra ele parar.
– Você sabe o que dói mais, Erick? – continuei, sentindo as lágrimas começarem a se formar, mas me recusando a deixá-las cair. – Não é o fato de você estar com outra. É o fato de eu ter acreditado em você. Acreditado que você sentia o mesmo que eu.
Ele abriu a boca pra falar, mas eu não deixei.
– Eu fui uma idiota, não fui? – soltei, rindo amargamente. – Uma completa idiota por achar que eu era diferente, especial, única... como você dizia.
– May, eu gosto de você, de verdade... – ele tentou de novo, mas aquilo só me deixou mais irritada.
– Gosta? – perguntei, cruzando os braços, minha voz ficando mais firme. – É assim que você demonstra? Porque, sinceramente, Erick, se isso é gostar de alguém, prefiro que você não sinta nada por mim.
Houve um silêncio pesado entre nós. Ele parecia sem palavras, e eu senti um vazio se abrindo dentro de mim. Não havia mais nada a ser dito.
Tay e Gael estavam parados um pouco atrás, observando tudo. Tay parecia pronta pra me segurar se eu desabasse ali mesmo, mas eu não ia dar esse gostinho. Não na frente dele.
– Sabe o que é pior? – murmurei, mais pra mim do que pra ele. – Eu estava pronta pra te dar meu coração. Mas, pelo visto, você nunca esteve pronto pra recebê-lo. Eu preciso de alguém, que me enxergue como algo importante demais para perder. E definitivamente, esse alguém não é você.
Com isso, virei as costas e caminhei na direção dos meus amigos, sentindo as lágrimas ameaçando transbordar. Tay colocou o braço ao redor dos meus ombros, me puxando pra perto.
– Você fez o que precisava fazer – ela disse suavemente. – Ele não merece você, May.
– Eu sei – respondi, minha voz saindo embargada. – Mas isso não faz doer menos.
Gael caminhava do outro lado, lançando olhares mortais na direção de Erick. – Se quiser, posso resolver isso pra você – ele ofereceu, sério, mas tentando aliviar o clima.
Eu sorri fraco, balançando a cabeça. – Não, Gael. Ele não vale a pena.
Mas a verdade era que, por dentro, eu sentia o contrário, eu demoraria para superar aquilo. Porque Erick tinha sido minha esperança, minha ideia de algo real, algo que poderia durar. E agora, tudo o que restava era um vazio devastador, um coração em pedaços e a terrível sensação de que o amor, de alguma forma, nunca mais teria o mesmo brilho para mim.
Caminhamos em silêncio por alguns minutos, o peso do momento pairando sobre nós. Eu tentava engolir o nó na garganta, mas as memórias insistiam em me assombrar. Os sorrisos de Erick, as promessas vazias que, por um instante, eu acreditei serem reais. Era como se cada passo que eu desse me afastasse dele fisicamente, mas deixasse um rastro de dor no meu coração.
Tay parecia sentir isso. Ela apertou meu ombro levemente e falou em um tom mais firme, como se quisesse me trazer de volta à realidade.
– Escuta, May. Você é incrível. E só porque ele foi um idiota que não soube enxergar isso, não significa que todo mundo será. Não deixe que o erro dele te faça duvidar do seu valor.
Eu a encarei, tentando absorver suas palavras, mas era difícil acreditar nisso agora.
– Eu só... sinto que perdi algo que nunca tive – confessei, minha voz saindo trêmula. – É como se eu tivesse me enganado esse tempo todo. Como se o amor fosse só uma ilusão bonita demais pra ser verdade.
Gael parou de andar e se virou para mim, seu olhar sério. Ele não era o tipo de cara que se abria facilmente, mas naquele momento parecia determinado a dizer algo que eu precisava ouvir.
– May, o problema não é o amor – disse ele, cruzando os braços. – O amor não machuca. Pessoas que não sabem amar, sim. Erick nunca foi digno de você. Ele só te usou pra alimentar o ego dele. E, honestamente? Ele vai perceber o que perdeu, mas aí já vai ser tarde demais. Você merece alguém que lute por você, não alguém que te faça lutar por migalhas.
As palavras de Gael me atingiram em cheio, e por um instante, senti uma faísca de força surgindo no meio da dor. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu estivesse errada ao culpar o amor por algo que, no fim das contas, era culpa de quem eu escolhi confiar. Eu estava tão desesperada para viver um romance que beijei o primeiro sapo que apareceu, achando que ele se transformaria em um príncipe.
Tay sorriu para mim, orgulhosa da fala de Gael, e entrelaçou o braço no meu.
– Agora, vamos sair daqui. Você não precisa de um coração partido e, definitivamente, não precisa passar mais um segundo pensando nele.
– Eu queria ser como você – falei, tentando me convencer de que era o mais sensato. – Pegar sem me apegar. Ficar e no dia seguinte agir como se nada tivesse acontecido. Sem sentimentos, sem sofrimentos.
– Eu aprendi a ser assim, May, mas isso também me custou um coração partido. Eu vivi uma história que me deu duas escolhas: nadar ou afundar. Eu tinha que escolher, então escolhi a mim mesma. Depois que eu percebi que o amor-próprio era o sentimento que eu deveria alimentar mais do que qualquer outro, nunca mais permiti receber menos do que mereço – ela falou, como se estivesse me confidenciando um segredo, o que, de certa forma, era, já que eu não sabia que ela tinha se apaixonado, muito menos que seu coração fora partido. – Os garotos acham que me usam, mas o que eles não percebem é que, na medida em que estão me "usando", eles também estão sendo usados. E, quando caem na real, é um choque pra eles – ela finalizou, com um sorriso mais triste do que satisfeito.
Eu respirei fundo, tentando me firmar. Voltamos a caminhar. Cada passo para longe de Erick era um passo para perto de mim mesma, ou pelo menos, era o que eu tentava acreditar. Mas, por mais que eu quisesse deixar tudo isso para trás, sabia que as cicatrizes ficariam. Por mais que aquilo ainda não fosse amor, era algo. Algo que eu queria muito que virasse amor.
E, enquanto o mundo ao nosso redor parecia seguir em frente, uma pequena voz dentro de mim sussurrava, persistente e cruel: "E se eu nunca mais enxergar o amor do mesmo jeito?"