Capítulo 4 Declarações inesperada

As pizzas chegaram quase ao mesmo tempo que os pais de Tay, obrigando a gente a desligar o som alto e focar em comer, conversar e fechar a noite com um filme. Gael revirou os olhos quando escolhi "Belo Desastre", mas eu não me importei. Era o meu tipo de filme preferido: um pouco de luta, um toque de romance meloso, um cara mau que muda por amor. Parecia perfeito.

A galera começou a se ajeitar: uns nos sofás, outros no chão. Esperei todo mundo se acomodar antes de decidir onde ficar. Só que Erick não esperou. Ele simplesmente me puxou, como se eu já tivesse lugar marcado, e me fez sentar no chão entre as pernas dele. Por um momento, fiquei sem reação, mas não forcei nada. Deixei que ele tomasse a iniciativa. E isso me deixou mais ansiosa, pois nunca havia deixado alguém tomar o controle por mim.

Mas sentada ali, com os braços dele ao meu redor, o calor do corpo dele nas minhas costas e aquele perfume que parecia um convite para me perder, eu me senti estranhamente... segura. Reconfortada de um jeito que me assustava.

O filme começou, mas a verdade? Eu mal conseguia prestar atenção. Meu foco estava todo nele: na forma como ele ajeitava os braços ao meu redor, na leveza do toque dele, na proximidade que me fazia querer coisas que eu nem sabia se podia querer. E então, sem perceber, me deixei levar. O calor, o momento,o cansaço acumulado talvez , e a sensação de estar tão bem, me fizeram adormecer.

Foi um sono breve. Quando acordei, não foi pelo som do filme ou pela voz de alguém. Foi pelo olhar dele. Erick estava me olhando. Não era um olhar qualquer, distraído. Era um olhar intenso, como se ele pudesse enxergar além de mim, como se soubesse exatamente o que estava se passando na minha cabeça, derrubando todas as minhas defesas.

Eu engoli seco, ajeitando minha postura, tentando esconder minha vergonha e o nervosismo. Mas ele não me deu tempo.

– Eu não sabia que os anjos dormiam – ele murmurou no meu ouvido, a voz baixa, rouca, cheia de promessas que eu não sabia se deveria acreditar.

Um sorriso tímido escapou dos meus lábios, e eu tentei acompanhar o jogo. – Eles dormem, conquistam corações, beijam incrivelmente bem... e ainda tocam como DJs – brinquei, tentando parecer casual.

Ele riu alto, uma risada tão genuína que me fez sorrir também. Antes que eu percebesse, ele me apertou mais forte nos braços, como se quisesse me prender naquele momento.

Mas, junto com o calor aconchegante que aquele momento me trouxe, veio também uma pontada de tristeza que eu não conseguia ignorar. Era bom demais. Intenso demais. E, por isso mesmo, parecia impossível que pudesse durar. Nós vivíamos em mundos diferentes, bolhas que se tocavam por um instante, mas que estavam destinadas a se afastar.

Eu sabia disso. Sabia que, para ele, aquilo provavelmente não era nada mais do que uma diversão, um momento fugaz, algo que ele poderia esquecer com a mesma facilidade com que começou. Mas, pra mim... pra mim poderia ser tudo. Era como um conto de fadas que eu sempre sonhei.

Na minha cabeça, aquilo não era apenas um beijo ou um abraço casual. Era o começo de algo maior. Eu via um príncipe, promessas silenciosas no ar, uma chance de finalmente viver o "felizes para sempre" que eu tanto li nos livros e desejei em segredo.

E essa esperança era o que mais me assustava. Porque, lá no fundo, eu sabia que a realidade nem sempre entregava finais felizes. Que o que eu estava sentindo talvez não passasse de uma ilusão criada por uma garota que sonhava alto demais. Uma garota que se entregava ao momento, mas que já estava se preparando para a dor de um "adeus" não dito.

E, mesmo assim, eu não conseguia evitar. As expectativas que cresciam dentro de mim eram como um furacão, me arrastando para algo que eu sabia que poderia me quebrar. Porque, enquanto ele via uma noite, eu via um começo. E era isso que me destruía por dentro.

Só que então, ele falou algo que me desmontou.

– A gente podia se conhecer melhor, sabia? – A voz dele era firme, mas ao mesmo tempo suave. – Porque, sério, eu tô ficando louco por você.

Eu pisquei, surpresa. Não era isso que eu esperava. Meu coração vacilou, bateu mais rápido, como se quisesse me convencer de que talvez fosse possível. Mas minha cabeça insistia no contrário. Algo gritava: Fuja! Isso é uma armadilha.

– Erick... – comecei, mas minha voz saiu fraca, hesitante. – Eu não quero ser só mais uma das suas conquistas. Não tenho... estabilidade emocional pra isso.

Ele segurou meu rosto, me obrigando a olhar pra ele. O olhar dele, tão cheio de segurança e, de algum jeito, algo que parecia vulnerável, me desarmou.

– E quem disse que você seria? – Ele sorriu de leve, mas havia tanta convicção em sua voz que fez meu coração tremer. – Vamos deixar rolar, May. Sem pressa, sem cobranças. Só... deixa eu te mostrar como pode ser bom.

Era perigoso. Ele era perigoso. Mas, naquele momento, eu não sabia mais se tinha forças pra lutar contra aquilo. Contra ele.

A respiração ficou presa no meu peito, como se o tempo tivesse parado por um instante. As palavras dele ecoavam na minha mente, misturando-se com o turbilhão de emoções que eu sentia. Ele estava ali, tão perto, tão real, me oferecendo algo que parecia tão simples e, ao mesmo tempo, assustadoramente complicado.

– Erick... – sussurrei, mas a verdade era que eu não sabia o que dizer. Eu estava dividida entre a razão e o desejo, entre o medo de me machucar e a vontade de me deixar levar.

Ele soltou um suspiro leve, como se pudesse sentir o peso da minha indecisão, e passou o polegar pela minha bochecha de um jeito tão suave que quase me fez derreter ali mesmo.

– Eu não vou te machucar, May. – Sua voz era firme, mas havia uma vulnerabilidade ali, escondida nas entrelinhas. – Eu só quero te conhecer de verdade. Te fazer sorrir, te fazer esquecer o mundo por um tempo. É pedir demais?

Aquela pergunta me atingiu em cheio. Não era justo. Ele estava me oferecendo algo que parecia tão perfeito, tão certo, mas eu não sabia se estava pronta para confiar. Para acreditar que poderia ser diferente dessa vez.

– Não é justo. – Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. – Você fala como se fosse fácil, como se eu não tivesse tudo isso aqui – apontei para minha cabeça –, me dizendo pra correr antes que seja tarde demais.

Ele sorriu de canto, aquele sorriso que me desarmava.

– Eu acho que é isso que te faz tão especial, sabia? – Ele inclinou a cabeça, os olhos presos nos meus. – Você sente tudo com tanta intensidade que parece que o mundo gira ao seu redor. E, May, eu quero fazer parte disso. Quero sentir isso com você. Você é especial, única.

Minha garganta apertou, e eu precisei desviar o olhar. Não podia ser real. Não podia ser tão simples assim. Tão rápido.

Eu queria acreditar nele. Queria me jogar de cabeça naquele momento, naquele sentimento, mas ainda havia algo dentro de mim que gritava para ter cuidado.

– Você não entende... Eu não sei como fazer isso. – Minha voz saiu pequena, quase um sussurro.

– Então deixa eu te mostrar. – Ele sorriu, aproximando os lábios dos meus, mas sem pressa, como se estivesse me dando tempo para recuar.

E eu poderia ter recuado. Poderia ter colocado um fim naquele momento antes que fosse tarde demais. Mas eu não quis. Porque, pela primeira vez, eu queria acreditar. Queria tentar.

E então, quando seus lábios finalmente tocaram os meus, todo o resto desapareceu. Não havia medo, nem dúvidas, nem aquela voz insistente na minha cabeça. Havia apenas o agora, o momento, e o calor de um beijo que parecia prometer muito mais do que eu poderia imaginar.

A noite chegou ao fim, mas eu não queria que acabasse. Despedir-me dele parecia errado, como se cortar aquele momento fosse contra todas as leis do universo. Eu queria congelar o tempo, guardar cada detalhe, cada sorriso, cada toque que ele me deu. Porque, no fundo, eu sabia: eu queria mais. Eu queria viver aquilo por completo.

Talvez fosse cedo demais para chamar de romance, mas o desejo de transformar aquilo em algo maior, em algo mais real, mais profundo, já crescia dentro de mim. A ideia de um "felizes para sempre" parecia agora, mais possível do que nunca, como uma luz no fim de um túnel que eu nem sabia que estava atravessando. Claro, uma parte de mim temia que tudo pudesse acabar antes mesmo de começar de verdade, mas outra parte – a parte esperançosa e apaixonada – queria arriscar. Porque, com ele, qualquer risco parecia valer a pena.

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Os dias que se seguiram foram como um borrão. Quando estávamos juntos, o tempo parecia correr depressa demais, como se as horas se transformassem em segundos. Mas, quando estávamos longe, cada minuto se arrastava, me deixando inquieta, ansiando por mais um momento ao lado dele. Era uma sensação nova, estranha, mas que eu começava a gostar.

Erick era tudo o que eu não sabia que precisava: atencioso de um jeito leve, meio despretensioso, mas que tocava fundo. Ele sabia como me fazer rir, como me fazer esquecer o resto do mundo, e, quando me olhava daquele jeito tão intenso, era como se fosse impossível duvidar de qualquer coisa. Ele tinha uma confiança que me atraía, mas também uma suavidade que me fazia querer ficar.

O tempo passava e continuavamos assim: juntos, mas sem rótulos. Não falávamos sobre o que éramos, e isso parecia funcionar. Pelo menos por enquanto. Mas, no fundo, eu sabia que estava cada vez mais envolvida. Eu sentia isso no jeito como meu coração disparava quando ele me mandava mensagens de madrugada, no modo como eu sorria sozinha ao lembrar de algo que ele disse.Mas ele também parecia envolvido. Eu percebia nas pequenas coisas: o toque, a maneira de me beijar, o carinho cuidadoso,a forma como ele me olhava, como se enxergasse algo em mim que nem eu mesma conseguia ver.

Erick era a distração perfeita para tudo o que estava acontecendo na minha vida. Depois de ser dispensada das aulas de dança – algo que deveria ter me devastado – ele apareceu como uma espécie de cura. Um escape. Mas, mais do que isso, ele estava se tornando importante. Rápido demais, talvez. Mas eu não me importava. Porque, pela primeira vez, eu sentia que estava pronta para isso. Pronta para arriscar meu coração, e enquanto ele continuasse me olhando como olhou naquela primeira noite, enquanto me fizesse sentir tão viva e tão especial, eu sabia que não seria capaz de resistir.

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Naquela tarde, com Erick no treino de futebol, aproveitei o tempo livre para ficar com Tay e Gael. Eu precisava da companhia deles, mas, acima de tudo, precisava falar. Colocar pra fora algo que estava me consumindo. Então, sugeri um passeio que chamamos de "programa de meninas": salão, umas compras, e depois uma parada na praça de alimentação pra encerrar o dia.

Estávamos sentados à mesa, e eu mexia no canudo do meu milkshake, enrolando pra criar coragem. Meu coração batia rápido, e o silêncio entre nós parecia cada vez mais alto. Tay e Gael me olhavam, curiosos, esperando que eu finalmente dissesse o que tinha me deixado tão pensativa.

– Tá, eu preciso falar uma coisa – soltei, quase num sussurro, mas foi o suficiente pra captar toda a atenção deles. Respirei fundo antes de continuar. – Eu acho que tô apaixonada pelo Erick.

Tay arregalou os olhos, surpresa. Gael, por outro lado, soltou um assobio, um meio sorriso no rosto, como se já tivesse sacado isso antes mesmo de mim.

– Uau – Gael comentou, com aquele tom descontraído que só ele conseguia ter. – Isso foi rápido.

– Não foi tão rápido assim – rebati, revirando os olhos. – Já faz um mês. E não é só isso, sabe? Eu acho que quero levar a sério. Fazer as coisas ficarem mais... oficiais.

Os olhos de Tay mudaram. O susto inicial deu lugar a algo mais sério, quase protetor. Ela apoiou o copo na mesa e cruzou os braços, me encarando com aquela expressão de quem estava prestes a me dar um sermão.

– May, olha, você sabe que eu te adoro – ela começou, num tom suave, mas firme. – Mas acho que você tá indo rápido demais. Essas últimas semanas, você tá tão... apegada a ele. Eu sei que o Erick é incrível, mas você precisa tomar cuidado.

Minha testa franziu, e eu me ajeitei na cadeira, já me preparando pra defender o que sentia. Tay não me deu essa chance.

– Olha, eu entendo – ela continuou, sua voz ficando um pouco mais gentil. – Ele tá sendo fofo, atencioso, parece até um sonho, né? Mas, às vezes, esses sonhos podem virar pesadelos se a gente colocar expectativa demais.

– Tay, ele me dá sinais – eu interrompi, sentindo a frustração crescer. – Ele me manda mensagem todo dia, faz questão de passar tempo comigo. Se ele não sentisse o mesmo, ele já teria se afastado, né?

Ela respirou fundo, olhando pra mim como quem escolhia bem as palavras. – Eu não tô dizendo que ele não gosta de você, May. Só tô dizendo que homens nem sempre estão na mesma sintonia que a gente. Às vezes, quando você coloca muita pressão, eles se assustam.

– Exatamente – Gael finalmente entrou na conversa, com um sorriso mais sério. – Tipo, se ele tá mesmo tão na tua, deixa ele tomar a iniciativa. Às vezes, o jeito que vocês estão agora é exatamente o que ele quer, sem rótulos, sem pressão.

Eu mordi o lábio, olhando de Tay pra Gael, sentindo uma mistura de dúvida e irritação.

– Então vocês acham que eu deveria só... esperar? – perguntei, tentando esconder a insegurança na minha voz.

– Acho que você deveria viver o momento – Tay respondeu. – Aproveitar o que vocês têm agora, sem ficar pensando no futuro. Se ele quer algo sério, ele vai te mostrar isso. Mas se você pressionar, May... pode acabar quebrando alguma coisa que ainda tá sendo construída.

Eu respirei fundo, tentando absorver o que ela disse, mas, no fundo, minha mente já tinha decidido. Eles não estavam na minha pele. Eles não sentiam o que eu sentia quando ele estava por perto.

            
            

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