Capítulo 5 5

Ravenna

Inclino o queixo para cima, olhando meu reflexo no espelho. Três camadas de base fizeram seu trabalho. O hematoma no meu pescoço não é visível, e a gargantilha larga de diamantes cobre o que a maquiagem não conseguiu. Já se passaram quatro dias, portanto, espero que desapareça logo.

Pegando meu casaco no encosto da cadeira, saio do meu quarto. O quarto do meu marido fica bem em frente ao meu e não consigo reprimir um estremecimento quando meus olhos se voltam para a porta dele antes de seguir pelo corredor até a escada principal. Em breve, digo a mim mesma. Só preciso de mais alguns meses.

Rocco está parado no pé da escada, observando-me descer. Seus olhos passam rapidamente pelo vestido que estou usando e seus lábios se alargam em um sorriso satisfeito. Quando ele veio ao meu quarto mais cedo, jogou o vestido e o colar em mim, ordenando que eu o usasse esta noite. Esperei que ele saísse para dar uma olhada no vestido vermelho. É pior do que o vestido anterior que ele me comprou, e a ideia de sair, especialmente para ir ao teatro com essa coisa, me faz sentir muito envergonhada, mas isso não é novidade.

Estou tão concentrada em calcular quanto dinheiro ainda preciso para escapar e qual seria a maneira mais rápida de ganhar mais, que não noto o homem parado na porta até chegar ao patamar. Quando o faço, meus passos vacilam por um momento, mas, de alguma forma, consigo disfarçar meu quase tropeço. Meu marido é um homem alto, mas a pessoa atrás dele é quase uma cabeça mais alto.

- Ravenna, bellissima, você está deslumbrante. - Rocco sorri quando me aproximo e pega minha mão. - Este é Alessandro Zanetti, seu novo guardacostas.

Esforçando-me ao máximo para manter o rosto em branco, dou outra olhada no homem que está de pé com as mãos atrás das costas. A postura enfatiza sua estrutura ampla, enquanto os músculos de seus braços se tensionam contra o material de seu paletó preto. Ele é provavelmente o maior homem que já conheci. Meu olhar percorre seu peito largo e para em seu rosto. Sinistro. Essa é a primeira palavra que me vem à mente. Ele tem uma barba bem feita, um maxilar forte e maçãs do rosto afiadas, mas não é seu rosto ou seu enorme volume que me faz querer dar um passo para trás. São as coisas que vejo em seus olhos escuros. Ódio. Aversão. E uma raiva mal contida. Quero desviar o olhar, mas não consigo. É como se seus olhos me prendessem e me mantivessem prisioneira. Se olhares pudessem matar, tenho certeza de que eu estaria morta na hora.

Eu me obrigo a assentir e finalmente desvio o olhar, concentrando-me na entrada da frente. Quando passamos pela porta que Alessandro está segurando aberta para nós, posso sentir seus olhos em mim o tempo todo, até ao carro do meu marido. Somente quando deslizo para o banco do passageiro e Rocco fecha a porta do carro é que me permito exalar.

Pelo espelho retrovisor lateral, vejo meu novo guarda-costas caminhando em direção a uma SUV preta, com passos lentos e calculados. Pouco antes de entrar, ele olha para cima em direção ao nosso carro. Não há como ele perceber que o estou observando, mas, de alguma forma, sei que ele percebe. A vibração de hostilidade que ele está emitindo é como um ser vivo. Não me lembro da última vez que alguém causou uma impressão tão forte em mim logo no primeiro encontro, sem sequer dizer uma palavra. Ele está com raiva por ter sido designado para esse trabalho? Ele provavelmente já ouviu as histórias sobre como os últimos três guarda-costas acabaram - com um buraco de bala da arma de Rocco em suas testas.

A porta do motorista se abre, e eu rapidamente desvio os olhos do

espelho.

- Bem, parece que encontrei a segurança perfeita para você, - diz Rocco ao sentar-se ao volante. - Este não vai cair em seus encantos.

Aperto a bolsa que estou segurando nas mãos e mordo a parte interna da

bochecha, tentando controlar a necessidade de olhar para ele e gritar na sua cara.

- Sim, Rocco, - murmuro, mantendo o olhar fixo em meu colo.