Na garagem, liguei Petúnia que como sempre precisou de algumas insistidas para enfim funcionar apropriadamente e segui todo o caminho pedindo a Deus que ela não desse nenhum "piti" no caminho.
Ao chegar, me sentei em minha mesa, abri o notebook e comecei a revisar tudo que eu havia lido, verificando se não havia perdido nenhuma informação importante e escrevendo a introdução. Sequer notei quando Íris se aproximou de minha mesa com sua bolsinha térmica onde carregava seu almoço.
- Você vai se matar de trabalhar ou vamos almoçar hoje? - a encarei por cima dos óculos, demorando alguns segundos para compreender suas palavras e me desconectando de minha própria mente. - Céus! Você está com aquele olhar de novo. - ela fez uma expressão exagerada de assustada. - Sim, é esse mesmo! Aquele olhar de quando está obcecada por alguma matéria nova.
- Eu não tenho uma "cara" assim! - rebati, fechando meu notebook e pegando minhas coisas.
- Sim, você tem! - ela riu. - Não me leve a mal, fazia anos que eu não a via dessa forma, fico feliz que sua versão jornalista louca esteja de volta. - a encarei confusa e ela abriu um enorme sorriso. - Você é minha melhor amiga, Mia. E isso é o que você ama fazer, então... - ela deu de ombros e segurou a bolsinha em frente o corpo. - Fico feliz por você! - sorri de volta e balancei a cabeça negativamente. - E então? Cadê sua comida? - ela olhou para as minhas mãos procurando pela minha bolsa que era quase igual a dela.
- Hoje vou almoçar fora. Consegui um contato da... - me interrompi imediatamente quando notei Tyler passar por nós e pelo visto buscava ouvir alguma informação relevante, pela forma como me olhou de soslaio antes de se afastar. - Da matéria nova.
Íris entendeu imediatamente o que eu queria dizer.
- Um contato? Você só pode estar brincando! - ela parou à minha frente impedindo meu caminho. - Homem? - assenti e isso a levou à loucura. - Finalmente! Mal posso crer que vivi para ver Mia Harris viver uma aventura perigosa com um mafioso... - A última parte ela sussurrou.
- Não é nada disso! Ele aceitou me ajudar de bom grado.
- Oh Mia, apenas você para ser tão inocente, querida. - retomamos nosso caminho para fora. - Eu sei que quer dar tudo de si nisso e sei o que está em jogo para você, mas... Tome cuidado. Homens não são confiáveis, muito menos desse tipo. Me prometa que vai ser cuidadosa!
- Claro. - a forma distraída que respondi foi notada e ela fechou a cara para mim. - Ok! Entendi, serei cuidadosa.
- Srta. Harris? - uma voz masculina e familiar que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem me chamou atrás de nós.
Na calçada, ao olhar para trás, lá estava o Sr. Zhao em um belo terno preto, camisa branca por baixo e terrivelmente bonito.
- Uau! - exclamou Íris ao meu lado e lhe dei um puxão em aviso.
Zhao se aproximou de nós, com um sorriso de canto e postura imponente.
- Íris esse é Jun Zhao, o meu... Contato sobre a matéria nova que falei. - Íris pareceu ter esquecido como falar, então a incentivei com um empurrãozinho no cotovelo.
- É um gran... Grande pra... Prazer Sr. Zhao! - ela fez um leve aceno de cabeça enquanto o encarava descaradamente.
Depois de um silêncio constrangedor em que o homem a nossa frente parecia bastante à vontade e auto confiante com o típico sorriso sedutor de canto.
- Bem, vamos indo! - anunciei. - Até logo, Íris.
- Foi um prazer conhecê-la! - disse ele, o que só piorou a situação dela que ficou mais vermelha que um pimentão.
Mas antes que eu me virasse para seguir ao lado dele, minha amiga segurou meu braço e cochichou em meu ouvido:
- Esqueça tudo que falei sobre ser cuidadosa e monta nesse homem na primeira oportunidade!
- Íris! - falei entredentes e me afastei. Zhao nos olhou de esguelha, ainda sorrindo, parecia saber que ele era o assunto e aposto que minhas bochechas agora quentes denunciavam o suficiente.
Depois de alguns segundos caminhando ao lado dele, o silêncio que não parecia afetá-lo em nada, começou a fazer a palma de minhas mãos coçarem. Eu sequer sabia para onde estávamos indo.
- Muito obrigada pelo convite, Sr. Zhao! - falei, evitando encara-lo.
- Você pode me chamar de Jun. - me surpreendi com a informalidade, mas concordei. - E eu que agradeço por ter aceitado, a Tríade não trata assuntos de trabalho por telefone. Você sabe, podem estar grampeados. - ele me olhou de forma sugestiva, como se estivesse analisando minha reação, apenas horas mais tarde ao pensar nisso fui entender que ele me testava.
Quando enfim chegamos até o restaurante que ficava a poucos minutos da empresa, Jun abriu a porta para mim e então entendi porquê um homem como ele não fez questão de irmos até lá de carro.
Agradeci o gesto e ao entrar no restaurante, sou imediatamente envolvida por uma atmosfera de elegância e sofisticação. As paredes revestidas de mármore reluzente refletem a suave luz das lustres de cristal, criando um brilho sutil que ilumina o ambiente. O som suave de música clássica preenche o ar, complementando a sensação de luxo que permeia o local.
As mesas elegantemente decoradas com arranjos de flores frescas e delicados guardanapos de linho branco transmitem um cuidado meticuloso aos detalhes. Garçons elegantemente vestidos circulam pelo salão, prontos para atender às nossas necessidades com um sorriso cordial e um serviço impecável.
O cardápio, ricamente elaborado, oferece uma seleção de pratos esquisitos que desconheço e com ingredientes frescos e de aparente alta qualidade. Cada prato é considerada uma obra-prima nesse lugar e percebi que no cardápio havia opções de comida japonesa, o que eu acreditava que seria a primeira opção do meu acompanhante. O que ele não sabe é que o meu tipo preferido de comida também, mesmo que eu não tenha raízes em sua cultura.
Jun me direcionou para uma mesa próxima à janela e antes que eu pudesse me sentar, ele se apressou em afastar a cadeira para mim, com aquele maldito sorriso encantador.