A Nerd e o Mafioso
img img A Nerd e o Mafioso img Capítulo 2 Mia - Capítulo 2
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Capítulo 6 Jun - Capítulo 6 img
Capítulo 7 Mia - Capítulo 7 img
Capítulo 8 Jun - Capítulo 8 img
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Capítulo 10 Mia - Capítulo 10 img
Capítulo 11 Jun - Capítulo 11 img
Capítulo 12 Mia - Capítulo 12 img
Capítulo 13 Jun - Capítulo 13 img
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Capítulo 2 Mia - Capítulo 2

Precisei juntar toda a minha coragem quando me deparei com a porta de John. Sabia que ficar parada ali não adiantaria, então dei dois toques e abri uma fresta depois de ouvir o seu "entre", colocando a cabeça para dentro. John olhou por cima dos óculos e sua expressão piorou ao me ver, se é que isso era possível.

Meu Chefe de Redação tem uma aparência imponente e marcante, mesmo aos cinquenta anos. Sua sabedoria transparece em cada ruga que marca seu rosto. Os óculos que repousam sobre o nariz realçam sua postura altiva, acompanhados por um olhar penetrante e sério. Sua pele negra mal denuncia a passagem do tempo, fazendo-o parecer mais jovem. Tudo nele carrega a história de sua carreira notável. Ele é alto e magro, com uma postura ereta que denota a confiança de alguém que conquistou seu espaço no jornalismo. Seus cabelos grisalhos se destacam contra sua pele escura, testemunhando sua experiência e maturidade. John é um homem respeitável, cujo olhar crítico e expressão severa podem intimidar até os mais corajosos. Eu definitivamente não me considerava corajosa.

- Olá, Mia. – disse ele, ainda escrevendo em seu caderno enquanto verificava a tela do notebook.

- Oi, John. – fechei a porta atrás de mim e o encarei, segurando os papéis. – Eu gostaria de me desculpar, tive um problema com o meu c...

- Carro? – completou ele, e percebi que as pessoas já estavam acostumadas com minhas crises de relacionamento com Petúnia. Engoli em seco, incapaz de responder, e meu silêncio foi suficiente para que ele entendesse. A sensação desconfortável de sempre dar desculpas me atingiu, senti-me irresponsável e me vi olhando para o chão. Não poderia dar nenhuma explicação diferente para John, não podia dizer o quanto havia trabalhado duro até tarde da noite, porque era meu trabalho e eu tinha obrigação de equilibrar as coisas como uma mulher adulta. Nada disso era culpa de John ou de qualquer outra pessoa, ou coisa, no caso de Petúnia. Embora ela não estivesse facilitando as coisas ultimamente.

John respirou fundo, alheio à confusão de pensamentos em minha mente. Ele largou a caneta, se encostou na cadeira de couro preta e passou a mão pelos olhos abaixo dos óculos quadrados, buscando paciência.

- Eu lhe trouxe a matéria sobre o caso da Bonjour La Vie que me pediu na semana passada... – comecei, mas John ergueu uma das mãos para me interromper, e eu abaixei os papéis que oferecia.

- Tyler já me entregou essa matéria esta manhã. Antes de você chegar. – ele me olhou seriamente, especialmente na última parte da frase.

- O quê? Mas essa matéria era minha! Como ele...

- Mia, eu realmente queria conversar com você. – ele fechou seu notebook, levantou-se e rodeou a mesa, parando em frente a ela e cruzando os braços. – Quero saber o que está acontecendo? Porque, sinceramente, você não parece mais a mesma garota que conheci há dois anos. – mais uma vez me vi sem resposta, aquilo me atingiu como um soco, pois sabia que não estava alcançando o que pensei que alcançaria quando comecei a trabalhar aqui. – Olha, eu nem deveria falar isso, mas houve uma reunião e falaram sobre cortes, e seu nome foi mencionado. – meus olhos se arregalaram, o desespero imediatamente tomando conta.

Eu sabia que se isso acontecesse, eu seria obrigada a voltar a morar com meus pais, não teria condições de manter meu apartamento aqui recebendo um salário inferior ao que eu ganho atualmente. Tudo iria por água abaixo! Tudo pelo que lutei para chegar aqui.

- Tudo bem... – John foi até as janelas e fechou as persianas, sinalizando que não queria ser interrompido. – Não estou falando como seu chefe agora, mas como um amigo, Mia. Você é uma jornalista incrível, e sou suspeito para falar, já que particularmente sou fã da matéria que você fez quando se inscreveu para o programa de estágio. Aquela garota, mesmo tão jovem, impactou o mercado ao expor empresas conhecidas envolvidas em desvio de dinheiro. Foi essa garota que me fez aceitar sua admissão nesta empresa e lhe dar uma mesa. Não quero menosprezar o trabalho de ninguém aqui, mas eu não a aceitei em minha equipe para escrever matérias sobre produtos de skincare da Bonjour La Vie que causaram bolhas na pele de uma influenciadora qualquer. Isso, Mia, não é notícia. Isso não é jornalismo! – não consegui sustentar seu olhar, tamanha era minha vergonha.

De fato, eu havia feito uma matéria para o processo de admissão na News Cooperative, onde o aluno precisava apresentar uma boa matéria. Geralmente, elas não eram publicadas, mas serviam para avaliar o perfil jornalístico do candidato. No entanto, acabei usando uma matéria sobre uma empresa fake que estava sendo investigada por desvio de dinheiro. Tive a brilhante ideia de usá-la no meu teste de admissão e, para minha surpresa, a matéria foi publicada no mesmo dia em que fui aprovada. Eu não entendia como havia chegado aqui, escrevendo matérias medíocres quando essa não era minha verdadeira vocação.

- Preciso daquela garota de volta, Mia. Ou sinto muito, não poderei mais manter uma mesa para você neste jornal. – finalmente consegui encará-lo e vi compaixão em seus olhos.

- Me dê uma última matéria! – pedi, minha voz saindo mais firme do que pretendia, mas mantive a postura. – Uma última chance de garantir meu lugar nesta mesa, John. E eu prometo que farei por merecer! – joguei os papéis sobre a Bonjour La Vie na poltrona ao meu lado. – Mas não algo assim... Quero algo grande... Algo... – procurei pelas palavras, fechei os olhos e respirei fundo para me acalmar. – Apenas me dê algo em que eu possa realmente trabalhar! – John semicerrou os olhos em minha direção, considerando minha proposta. Pareceu uma eternidade até que ele finalmente disse algo.

- Muito bem. Tenho uma matéria em potencial que talvez possa ser adequada para você.

- Mas...? – ele me olhou sugestivamente, sabia que agora não havia mais como voltar atrás.

- Mas é perigosa demais, especialmente para uma mulher. Não sei se é uma boa ideia. Eu estava pensando em entregá-la ao Tyler.

- Isso é machista! – acusei, provocando-o em tom de brincadeira, e ele apenas negou com a cabeça enquanto ria e voltava para perto de sua cadeira. – Qual é? Posso fazer um trabalho muito melhor do que Tyler, seja perigoso ou não. – ele me encarou desafiadoramente. – Faz parte do trabalho...? - tentei mais uma vez.

- Certo! – ele soltou uma risada pelo nariz. – Essa é uma matéria sobre um incidente que aconteceu há um ano e meio. Alguns decks pegaram fogo e alguns outros lugares também foram incendiados no mesmo dia. – ele colocou uma pasta sobre a mesa e se sentou em sua cadeira, girando-a para me encarar e me oferecendo a pasta com um gesto de mão. Sentei-me em uma das cadeiras em frente a ele e peguei a mesma, abrindo-a diante de mim e verificando seu conteúdo. Havia várias fotos dos locais incendiados e várias folhas explicando o ocorrido. – Isso foi investigado por alguns dias, mas misteriosamente pararam de investigar. O problema é que muitas informações vazaram para a mídia, e agora todos estão comentando sobre o envolvimento da Tríade nesse caso. –fiquei incrédula enquanto folheava o conteúdo. – Houve outras situações que parecem ter o dedo da Tríade, mas nesse caso, parece que eles estão agindo como uma organização apoiadora da sociedade, ajudando regiões desfavorecidas e diminuindo a ocorrência de crimes hediondos. Algumas pessoas os defendem, outras os odeiam. Quero que pesquise essas opiniões, ouça as pessoas que moram nessas áreas e tire suas próprias conclusões. E Mia, todos os bons jornalistas que conheço estão com medo de falar sobre isso, não querem ser alvo de represálias. É muito perigoso! – seu tom de voz ficou sério e preocupado.

- Somos uma empresa de jornalismo, John, é isso que fazemos, não é? "Ir onde ninguém mais vai e dizer ao mundo o que ninguém tem coragem de dizer". Foi isso que você me disse quando me aceitou na equipe! – dei de ombros, guardando o material e fechando a pasta, ciente de que não podia deixar aquela sala sem ela. – Eu sei que posso voltar a ser a jornalista que você conheceu, mas preciso da sua ajuda mais uma vez. – meu olhar suplicante pareceu surtir o efeito desejado, pois John fez aquela expressão que sempre fazia quando eu conseguia convencê-lo a algo.

- Tudo bem, a matéria é sua! – precisei me segurar para não pular de alegria. – Mas prometa que terá cuidado e me mantenha informado sobre o andamento disso. – ele cutucou a mesa com o dedo indicador.

- Sim, sim. Eu prometo! – agarrei a pasta e a abracei contra o peito. – Não vou decepcionar, eu garanto

- Eu sei que não vai. Leve o tempo que precisar. Dispensada. – agradeci mais uma vez antes de me levantar e ir em direção à porta, mas parei ao segurar a maçaneta.

- John? – ele respondeu com um murmúrio enquanto abria novamente seu notebook e segurava a agenda, ajustando os óculos e folheando as páginas. – Você poderia, por favor, não comentar nada disso com o Tyler? – ele me olhou desconfiado e analítico por cima das lentes novamente. – Tenho boas razões para acreditar que ele anda sabotando minhas matérias. Pode manter isso entre nós?

- Eu estava me perguntando quando você iria perceber... Tem minha a minha palavra! – e com isso ele voltou a se concentrar em seu trabalho, e eu assenti, sorrindo.

Saí da sala muito mais feliz do que jamais imaginaria estar. Tinha uma nova matéria, e das grandes. Tinha tudo para ser um sucesso, e eu daria o meu melhor. Isso não só salvaria meu emprego, mas também minha carreira como jornalista investigativa. E eu sabia que John havia me dado essa oportunidade porque sabia que eu poderia ir além do que qualquer um teria coragem de ir.

- Você está com aquela expressão sinistra de novo. – comentou Iris, quando depositei a pasta em sua mesa e respirei fundo. – Ele te deu uma nova matéria? – ela sussurrou. Nós duas não gostávamos muito de Tyler, e eu já havia comentado com ela sobre ele sempre tentar pegar os trabalhos que eram destinados a mim.

Assenti, incapaz de não sorrir. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, Tyler apareceu como uma assombração sendo invocada.

- Bom dia, meninas! – disfarcei minha expressão e peguei a pasta de volta, mantendo-a perto do peito. Íris o cumprimentou a contragosto, também disfarçando, e voltou ao trabalho.

- Bom dia, Tyler. – seus olhos me analisavam desconfiados e se fixaram no material que eu segurava.

- Matéria nova, Harris? – seu sorriso debochado surgiu, provavelmente pensando que era a matéria que ele já havia entregado a John no meu lugar hoje.

- Ah... Isso? Era sobre a Bonjour La Vie, mas John disse que não precisava mais. – seu sorriso presunçoso cresceu ainda mais, mas eu o deixaria acreditar naquilo. Seria um prazer ver a expressão em seu rosto quando ele descobrisse que lancei uma matéria à qual ele não teve acesso. – Bem, eu preciso ir. Até mais, Íris! – dei as costas a Tyler para evitar qualquer provocação e fui direto para a minha mesa, abrindo o notebook e começando a pesquisar.

No entanto, antes de tudo, havia uma ligação que eu precisava fazer, e esperava que ele pudesse me ajudar mais uma vez. Isso seria um divisor de águas para o meu sucesso ou fracasso.

            
            

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