Ao chegar em casa, corri para o banho onde lavei meus cabelos com o habitual shampoo de morangos que uso desde a minha adolescência e sai apressada envolta na toalha. Vasculhei o guarda roupa jogando tudo para fora em busca de alguma roupa apresentável repetindo mentalmente o conselho de Íris quando falei com ela antes de sair da empresa mais cedo.
Ela não concordava com minha ida ao pub e muito menos com a parte de me meter com homens da máfia, mas quando viu que eu não tinha a pretensão de mudar de ideia alegou que pelo menos me aconselharia na vestimenta.
"Use seu charme, Mia. Toda mulher carrega uma chama feminina dentro de si que atrai os homens. Se fizer direito, no mínimo só precisará dormir com um deles e terá tudo que precisar para essa bendita matéria." - zombou ela.
O único detalhe era que eu jamais me prostituiria por isso, ficava horrorizada só de imaginar tal coisa! E íris me conhecia bem.
- "Algo bonito e decotado"... - repeti suas palavras e fiz careta. Peguei uma blusa com mangas xadrez nas cores preta e cinza, uma calça preta social e um blazer. Me olhei no espelho e achei que estava bom, era o melhor que eu podia fazer.
Ajeitei os cabelos castanhos-claros, deixando-os presos em um rabo de cavalo e passei apenas um batom levemente avermelhado nos lábios, nunca fui muito de usar maquiagem, mas uma vez ou outra eu me permitia.
Caminhei pela casa repetindo os nomes do que iria precisar: "bolsa, bloco de notas, celular, chaves..." e assim segui pela casa pegando um após o outro.
Quando abri a porta e desci para o estacionamento, encontrei Petúnia, que agora parecia renovada com mais uma visita a oficina de Max. A impressão que eu tinha era que a descarada debochava de mim, como se eu finalmente tivesse dado a devida atenção depois de sua birra.
- Vamos lá, teve seu dia de beleza. É hora de trabalhar! - falei ao entrar e ligar Petúnia. Ela rangeu, resmungou e, por fim, funcionou.
Dirigi para fora e segui pelas ruas que o GPS do meu celular indicava. Estacionei a alguns metros do pub e desci, pegando minha bolsa e as demais coisas que precisaria.
Ao entrar no local, tudo que vi foram homens, bebendo, jogando e conversando. Todos tinham pelos menos uma tatuagem à vista e alguns olhos frios e analíticos me avaliaram de cima a baixo quando entrei. Fora as garçonetes, eu era a única mulher presente, plantada na entrada olhando de um lado para o outro.
Estava completamente perdida, pois só tinha planejado meu plano até aquela parte, agora o outro passo era encontrar a pessoa que Cameron havia falado por ligação, mas eu sabia apenas seu sobrenome: Zhao.
Como de costume, cutuquei o canto da unha da mão com o indicador, era uma mania irritante e que muitas das vezes causava feridas no canto do meu dedão, mas eu jamais consegui mudar esse hábito que tinha desde pequena.
Dei dois passos à frente e me aproximei do lindo balcão negro do bar, apoiei meu caderno de anotações nele junto ao celular e examinei em volta. O Pub era moderno, mas tipicamente decorado de maneira estratégica com design masculino. A atmosfera é impregnada com o cheiro de uma mistura de cigarros e charuto, bebida e drogas. Sou envolvida pelo aroma familiar de madeira envernizada e cerveja fresca. O espaço é intimidante, com mesas de madeira robusta e cadeiras de couro caro e novo, todas dispostas estrategicamente. Os tons escuros das paredes são adornados com uma coleção eclética de itens decorativos que variam de dragões e espadas. Há cartazes vintage de marcas de cerveja, uma bandeira da China e quadros com palavras que representam "honra", "lealdade", "família" e "poder".
A iluminação é suave, criando uma atmosfera misteriosa e nada convidativa para mim. As luminárias penduradas sobre o balcão de madeira antiga lançam uma luz âmbar sobre os rostos sorridentes e embriagados dos frequentadores, alguns mais sérios ou entediados.
O barman, uma figura nenhum pouco simpática com um sorriso menos amigável ainda e um avental de couro limpo. Ele está ocupado servindo cerveja para um dos homens e eu aguardo pro sua atenção, que não demora muito a ser voltada para mim.
Seus olhos me medem de cima a baixo e ele franze a sobrancelha.
- Posso ajudar? - pergunta colocando a jarra no balcão. Sua atitude demonstrando que claramente não esperava que eu pedisse um drink.
- Um Plum Wine, por favor. - ele hesitou, indeciso. - Algum problema? - ele negou com a cabeça e saiu com um sorriso de canto que não entendi.
Era tão evidente que eu estava desconcertada naquele lugar?
O vinho de ameixa chegou em uma taça elegante, dei apenas alguns goles enquanto observava o ambiente.
- Procurando por alguém? - perguntou o barman. Pensei em negar, mas ele completou dizendo: - Todas sempre estão. - e deu de ombros.
Mas o que diabos aquilo queria dizer?
- S-sim, estou, na verdade... - ele fez sinal com a cabeça para que eu prosseguisse. Me atrapalhei ao abrir a agenda para ler o nome corretamente. - Sr. Zhao. - ele endireitou a postura de imediato, olhou para o meu caderno e pareceu reparar nas coisas que carregava em mãos e pela milésima vez me analisou.
- É jornalista? - assenti e não gostei nenhum pouco da cara que ele fez. - Terceira cadeira à sua esquerda.
Encarei o homem a quem ele se referia, asiático como a maior parte deles. Ele encarava o copo à sua frente, sem muito interesse.
- Obrigada! - ele assentiu, sério e se afastou. Porém, pude sentir seus olhos em minhas costas quando caminhei até o Sr. Zhao.
- Com licença... Hmm... O senhor deve ser o Sr...? – ajeitei os óculos com um dedo e quase deixei cair meu celular. – Oh! – segurei antes que deslizasse e me voltei para ele novamente. Céus! Que desastre! Esqueci completamente o que ia perguntar com toda a minha confusão. – Prazer, meu nome é Mia Harris, sou jornalista da News Cooperative! – ergui minha mão para ele, mas para completar a bolsa caiu de meu ombro, o bloco de anotações foi parar no chão junto com minha caneta. – Oh, céus... Só um instante. – não pude conter soltar um "droga", "desastrada" e "que vergonha", permitindo que meus pensamentos fossem externalizados.
Dificilmente eu seria levada à sério dessa forma!
Ele se abaixou para me ajudar, e pegou meu bloco e canetas, oferecendo-me de volta. Um cavaleiro, de fato, mas isso em nada mudava a queimação em minhas bochechas. Num último ato de dignidade, retomei a postura novamente ajeitando meus óculos e me colocando de pé, agradecendo por sua ajuda em seguida.
Foi nesse momento que encarei os olhos repuxados e negros que me encaravam, com um sorriso encantador que por um segundo me fez esquecer como praticar o simples ato de respirar. Me perdi por alguns segundos observando o rosto terrivelmente bonito, com a barba por fazer, os cabelos também negros e lisos.
Me senti tonta quando, com sua aura de sedução e imponência, o ouvi dizer com a voz grave e rouca:
- Meu nome é Jun Zhao, em que posso ajudá-la? - Me forcei a sorrir saindo do transe que sua mera presença parecia ter me colocado, esperando que não tenha o encarado tanto. - Que modos os meus! Sente-se comigo. - Jun me ofereceu a cadeira a sua frente, fazendo questão de afastar a cadeira para que eu me sentasse.
Obedeci, agradecendo mais uma vez e apoiando a bolsa diante de mim, com cuidado para que nada mais caísse e enquanto ele próprio se acomodava não pude deixar de reparar em seus músculos definidos por debaixo da camisa leve branca, com mangas dobradas até os cotovelos, um suspensório preto de couro e o coldre de sua arma visível na cintura. As coxas eram grossas, impossíveis de ignorar na calça preta, acompanhados de um sapato social. As veias evidentes quando ele estendeu a mão para pegar o copo de uísque à sua frente que também mostrava uma parte da tatuagem em seu antebraço que parecia um dragão.
Desviei os olhos, o que me pareceu um gesto difícil demais a realizar.
Por Deus! Jamais havia me sentido atraída assim por um homem...
Foi quando sua voz soou mais uma vez que senti minhas mãos tremerem.
- E então... Em que lhe posso ser útil? - respirei fundo enquanto cogitava o quão arrependida eu poderia me sentir por vir aqui.