Capítulo 4 Rejeitada

A vida que eu conhecia se tornou um pesadelo, e eu fui sendo empurrada para longe, cada vez mais, até me tornar uma estranha dentro da minha própria casa.

A partir do momento que Brenda entrou na minha vida, eu passei a ser uma intrusa em minha própria casa.

Meu pai, que antes se dedicava a mim, agora só tinha olhos para ela. E ela sabia disso. Ela se aproveitava de tudo. Quando via meu pai com os olhos cheios de amor e ternura, ela fazia questão de interromper, de falar, de se colocar entre nós como se não houvesse mais espaço para o que um dia existiu.

Eu não sabia mais quem era aquela mulher que estava no lugar da minha mãe, não sabia como lidar com o fato de que ela havia mudado meu pai. Eu sabia, no fundo, que ele nunca mais seria o mesmo.

O pior de tudo, porém, era Marlúcia. Ela começou a se infiltrar de maneiras sutis, minando tudo o que minha mãe havia criado. Quando meu pai se casou com Marlúcia, ela trouxe consigo a ideia de que nossa família seria um novo começo. Mas, em vez disso, ele trouxe a destruição.

Ele não apenas abriu as portas para Marlúcia, mas para todos os seus fantasmas, incluindo Brenda. E a dor de ser rejeitada por meu próprio pai só crescia.

Eu me sentia cada vez mais invisível.

Eu queria que as coisas voltassem a ser como antes, quando minha mãe ainda estava viva e tudo fazia sentido. Queria poder voltar ao tempo em que meu pai me olhava com orgulho, quando ele dizia que eu era a razão de sua felicidade.

Mas, em vez disso, eu era uma espectadora silenciosa da destruição daquilo que havia sido nossa família.

A dor de ser rejeitada por meu pai se multiplicava, e cada vez que ele sorria para Brenda, era um lembrete de que eu não era mais importante para ele. A criança que ele havia criado e amado um dia não significava nada.

Tudo o que ele via agora era a filha de sua esposa, aquela menina insuportável que ele tratava como se fosse a única pessoa que importava.

E eu, quem eu era agora? Quem era eu naquele lugar, naquela casa, com meu pai preferindo a filha de outro homem? Eu sentia a perda de minha identidade, a perda do meu lugar no mundo, e não havia mais como voltar atrás.

As noites eram os piores momentos. As horas em que o silêncio me esmagava e as lembranças tomavam conta de minha mente. Cada lembrança da minha mãe me trazia mais dor. Eu queria voltar para aquele tempo, quando ela me abraçava e dizia que tudo ficaria bem. Mas isso era impossível. Ela se foi, e com ela, parte de mim também se foi.

Brenda, com sua farsa de bondade, sua capacidade de fazer meu pai sorrir, seu jeito doce de se colocar entre nós, continuava sendo a causa de minha dor. A dor de ser rejeitada, a dor de perceber que meu pai jamais voltaria a ser o que era. Ele preferiu dar a Brenda o que deveria ser meu. Ela, que nunca precisou lutar por nada, que jamais teve que passar pelo que eu passei. Ela, que sempre teve tudo o que eu jamais pude ter.

Agora, tudo o que restava era a dor. O vazio. A sensação de ser a filha que ninguém queria. A sombra daquilo que um dia fui.

A escuridão da madrugada se tornava minha companheira, e eu me sentia perdida, sozinha, com os pedaços de uma vida que jamais poderia ser remontada. A vida que um dia tive havia sido roubada, e eu não sabia mais como encontrar meu lugar em um mundo onde meu próprio pai não me via mais.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022