Capítulo 5 Ignorada

Levantei na manhã seguinte sem vontade de sair da cama.

A dor em meu peito parecia insuportável, como se uma faca afiada estivesse cravada, sem querer sair, sem me deixar em paz.

As lembranças do dia anterior, as palavras ditas por Isaías, minha dor ao ser ignorada, tudo isso ainda girava dentro de mim, como uma tempestade que não se acalmava.

A cada movimento, a dor aumentava. Era um aperto tão profundo que me fazia questionar se havia algum remédio para esse tipo de sofrimento.

Eu estava completamente exausta, não de cansaço físico, mas de uma fadiga emocional que me consumia por dentro.

E, ainda assim, me obriguei a levantar. Não havia como ficar ali, na cama, esperando que as coisas se resolvessem por si mesmas. A vida continuava, mesmo que a minha estivesse em pedaços.

Respirei fundo e, com esforço, me arrastei até o banheiro para me preparar.

Quando finalmente desci para o café da manhã, a cena que encontrei na sala de jantar foi a última coisa que eu esperava ver.

A família feliz estava toda ali, como se nada tivesse acontecido, todos sentados à mesa, como uma unidade. Marlúcia, meu pai, Brenda e Matias, com seu sorriso arrogante.

Tudo estava em ordem, como se tudo estivesse perfeito. Como se eu fosse uma estranha, alguém que não deveria fazer parte daquele momento.

Eles estavam conversando entre si, rindo, compartilhando histórias enquanto eu permanecia em silêncio, parada na porta, olhando para eles.

Não fui convidada a sentar. Não fui cumprimentada. Eu não era mais parte daquilo.

Até os empregados me desprezavam, eles nem mesmo se dignificavam a me cumprimentar.

O vazio tomou conta de mim, como se uma parede invisível tivesse sido erguida entre mim e eles.

Fui ignorada de forma completa. Não houve um "bom dia", não houve um olhar de compaixão, nada. Eu estava ali, fisicamente presente, mas invisível aos olhos deles.

Meu pai foi o primeiro a perceber minha presença. Ele me olhou por um momento, sem expressão, como se me estudasse, e logo desviou o olhar.

Ele não parecia se importar com a dor que eu sentia. Não parecia perceber que, por dentro, eu estava despedaçada.

Ele continuava a conversar com Marlúcia como se tudo estivesse normal, enquanto minha alma sangrava silenciosamente.

Então, finalmente, ele falou. Não me olhou diretamente, mas sua voz cortou o silêncio pesado da sala.

- Letícia, eu queria que você fosse com Brenda para a lua de mel. Ela vai precisar de cuidados e você é a pessoa mais indicada para isso.

As palavras caíram como um peso sobre mim. Eu não estava preparada para ouvir aquilo.

Eu estava ali, cheia de feridas abertas, e ele me jogava em um papel de cuidadora, como se minha presença fosse necessária apenas porque Brenda, a querida filha, estava grávida.

Grávida do meu homem. Esse bebê é fruto da falta de caráter deles. É o lembrete constante de que todos sabiam sobre o caso de Brenda e Matias.

Eles sabiam e apoiaram isso, me apunhalando pelas costas.

O peso dessa responsabilidade caiu sobre meus ombros, mas o pior não era a responsabilidade em si.

O pior era o fato de ele achar que isso era o melhor para mim. Que eu deveria ser a babá da minha irmã, mesmo quando eu estava perdendo tudo ao meu redor, inclusive ele.

Eu fiquei paralisada por um momento, incapaz de reagir imediatamente. A palavra "cuidados" soava como uma ironia.

Eles não estavam me pedindo para cuidar de Brenda por amor ou por um desejo genuíno de me incluir na família.

Estavam me pedindo porque eu era a opção óbvia - a filha que estava ali, disponível para cumprir suas ordens. A filha que ninguém queria, mas que ainda assim teria que ser útil para o bem de todos.

Eles me viam assim, uma mera obrigação, alguém que, de alguma forma, deveria ceder tudo por eles, sem direito a opinião ou voz.

- Por favor, mana, eu preciso da sua ajuda! - Brenda exclamou passando a mão pela barriga de forma teatral.

E, claro, ela olhou para mim com um sorriso vitorioso. Ela estava radiante, e não era difícil entender o motivo.

Ela acabara de se casar com Matias, o homem com quem eu havia compartilhado tantas lembranças e sentimentos.

Agora, ela estava grávida, e meu pai parecia dedicar toda sua atenção a ela e a esse "neto".

Ela não precisava se preocupar com mais nada. Ela tinha tudo o que queria, e eu estava ali para ser apenas uma sombra, uma funcionária, alguém para fazer o trabalho sujo.

                         

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