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Sozinha na escuridão, a madrugada zombava de mim como um lembrete constante da minha insignificância naquela família.
O silêncio da casa parecia me engolir, cada segundo mais pesado do que o anterior. O ar que eu respirava estava saturado de rejeição, e meu peito doía, uma dor lancinante que parecia vir de dentro, de algo que jamais poderia ser curado.
Eu estava sendo rejeitada pelo meu próprio pai, o homem que deveria me proteger, que deveria estar ao meu lado não importa o que acontecesse.
Mas não.
Ele preferiu apoiar Brenda, a filha de outro homem, em vez de dar o que era meu por direito. A rejeição se alastrava por minha alma, e eu não sabia mais como me levantar daquilo.
Ele favorecia a filha de outra pessoa, a filha da mulher que ele escolheu para se casar, enquanto eu, a filha de seu sangue, era deixada de lado.
A dor da desilusão me consome mais do que qualquer raiva poderia. Isaías, meu pai, o homem que me viu crescer, que me ensinou tantas coisas, agora me olhava como se eu fosse apenas uma intrusa em sua vida.
Como se minha presença fosse algo indesejado, algo que ele teria que tolerar. Ele não via mais em mim a filha a quem ele havia dedicado tanto amor, tempo e carinho. O tempo havia mudado o que éramos, e ele não havia hesitado nem por um momento antes de escolher quem deveria estar em primeiro lugar em sua vida: Brenda, a filha de sua nova esposa.
A dor era crua, visível, e me fazia questionar se algum dia ele realmente me amou. Será que meu amor era suficiente para manter minha posição como filha dele?
Ou eu sempre fui apenas uma segunda opção, uma sombra que ele teve que tolerar até encontrar uma substituta?
A pergunta me rondava, sem respostas, apenas o eco vazio de minhas próprias inseguranças.
A escuridão da madrugada parecia zombar de mim, como se estivesse ciente de minha fraqueza, e cada lembrança de quando minha mãe ainda estava viva era um golpe a mais em minha ferida aberta.
Era como se o tempo se comprimisse, levando-me de volta aos momentos em que a vida parecia mais simples, mais leve. Quando a casa ainda tinha risos, quando meu pai ainda era alguém com quem eu me sentia segura.
Quando minha mãe ainda estava lá para me abraçar nos momentos difíceis, quando ela me dizia que tudo ficaria bem, que a dor passaria e que, no fim, o amor de nossa família seria suficiente para superar qualquer coisa.
Mas tudo mudou.
A morte da minha mãe foi o primeiro marco dessa mudança, e com ela, uma parte da minha infância também se foi. Mas não foi só a morte dela que destruiu a essência do que nossa família foi um dia. A mudança veio mais tarde, mais lentamente, como uma maré que invade sem que percebamos, até que a terra que antes parecia sólida já estava submersa.
Lembro-me de como meu pai era diferente naquela época. Ele sempre foi meu herói, o homem forte que cuidava de mim, que me fazia sentir que nada poderia dar errado enquanto ele estivesse ao meu lado.
Ele me fazia sentir especial, fazia questão de mostrar que eu era a razão de sua felicidade. Mas isso tudo se desfez quando ele conheceu Marlúcia, e tudo começou a mudar.
A imagem do meu pai amoroso e dedicado foi substituída por um homem distante e frio, que não se importava com o que acontecia na minha vida.
O casamento de meu pai com Marlúcia foi o primeiro passo em direção ao meu inferno. Quando ele trouxe Marlúcia para casa, não imaginava o impacto que isso teria sobre nossa vida.
Na época, eu tinha apenas 13 anos, mas eu já sabia o que estava acontecendo. Eu vi o modo como meu pai começou a se afastar, como suas atenções começaram a ser voltadas para outra pessoa, como ele passou a dedicar sua vida àquela mulher e à filha dela, Brenda.
A primeira vez que vi Brenda, eu estava na casa de um amigo, sem saber o que estava por vir. Era uma tarde comum, e quando entrei em casa, encontrei uma mulher de cabelos loiros e olhar frio, sentada no sofá.
A expressão em seu rosto parecia ser uma de indiferença, mas eu sabia que ela estava ali para tomar o meu lugar, para desestabilizar tudo o que eu conhecia.
Eu ainda não sabia o impacto que ela teria na minha vida, mas sabia que ela estava ali para mudar tudo. Ela chegou como quem não queria nada, mas logo conquistou meu pai, e eu não tinha mais lugar ali. Brenda, com sua falsa doçura e suas promessas de ser a boa filha, logo conquistou a posição que era minha de direito.