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A lua erguia-se sobre Midyat, mergulhando a cidade em um manto de mistério. Sua luz fria e distante iluminava a majestosa mansão Demir, que parecia sussurrar segredos à brisa noturna. Emir estava em seu escritório, cercado por velhos papéis e fotografias desbotadas que pareciam carregar o eco de um passado esquecido. O ar estava denso, como se a própria mansão respirasse com ele, conhecendo os desejos que consumiam sua alma. Em sua mente, as memórias se amontoavam - redemoinhos de emoções intensas e suspeitas que o devoravam por dentro.
Com a taça de raki tremendo levemente entre seus dedos, seus olhos percorreram os relatórios e documentos que havia acumulado ao longo dos anos. A morte de seus pais fora apresentada como um simples acidente, mas Emir nunca acreditara nas mentiras oficiais. A palavra "acidente" soava para ele como um eco vazio, uma desculpa conveniente demais para um acontecimento tão cruel. Cansu, sua avó, havia plantado em seu coração as sementes da dúvida desde a infância, contando-lhe sobre os Asian como aqueles cujas mãos estavam manchadas de sangue. Mas ele precisava de algo além de palavras; precisava da verdade, aquela que brilharia com força suficiente para rasgar o véu da mentira. Somente então poderia se vingar, e a vingança, como uma sombra escura, o cercava cada vez mais.
Azad, seu amigo mais leal, entrou no quarto com uma expressão tensa, quase palpável, refletindo a mesma ansiedade que Emir sentia em cada fibra do seu ser.
- Encontrou algo novo? - perguntou Azad, o peso da incerteza presente em sua voz, enquanto seus olhos varriam o caos de papéis sobre a mesa.
Emir soltou um suspiro profundo, pesado, como se as respostas o sufocassem. Deslizou um documento na direção do amigo. Era um relatório policial detalhando o trágico acidente. Mas ao analisá-lo, Emir percebeu que algo não fazia sentido. As marcas de frenagem que não existiam, as testemunhas que haviam desaparecido no tempo, e o mais inquietante de tudo: Nasuh Aslan Asian, uma das últimas pessoas a estar perto de seu pai antes de sua morte.
- Tudo aponta para Nasuh - murmurou Emir, sua voz grave e tensa, enquanto cerrava os punhos com raiva contida. - Sempre soube que aquele homem estava envolvido, mas agora eu vejo isso com meus próprios olhos. Só preciso de mais provas, e eu as encontrarei. Não descansarei até conseguir.
Azad folheou os papéis com um olhar incerto, sua testa franzida refletindo o peso da gravidade do que Emir estava desenterrando.
- Se isso for verdade, Emir, estamos lidando com algo muito maior do que uma simples vingança. Nasuh é o homem mais poderoso de Midyat. Desmascará-lo pode ser nossa ruína se não tivermos um plano sólido.
Emir assentiu lentamente, mas seu olhar se fixou em uma fotografia sobre a mesa. Era uma imagem de seu pai e Nasuh, tirada em uma época em que pareciam amigos, quase irmãos. Ele sabia que não podia agir impulsivamente; se quisesse justiça, teria que se mover com astúcia, sem deixar rastros. A vingança, tão desejada, só teria um gosto doce se viesse acompanhada da verdade.
Na manhã seguinte, Emir decidiu procurar seu tio Kemal, o único que ainda conhecia os segredos enterrados nas profundezas da família. Kemal, embora afastado dos negócios da família, nunca perdera seus contatos nem sua memória. Emir o encontrou em sua vinha, cultivando a terra como se pudesse plantar respostas entre as raízes.
- Eu sabia que você voltaria um dia, buscando respostas que rastejam sob o solo deste lugar - disse Kemal, sem sequer olhar para o sobrinho, sua voz carregada de um tom amargo, como se ele também soubesse que o momento havia chegado.
Emir cruzou os braços, seu olhar fixo no chão, como se não quisesse que as palavras de seu tio o atingissem com muita força.
- Me diga o que sabe, tio. Minha paciência está se esgotando.
Kemal largou sua ferramenta e o olhou diretamente nos olhos, como se o peso da verdade finalmente o tivesse alcançado.
- Seu pai e Nasuh eram sócios, mas algo escuro aconteceu. Alguma coisa destruiu tudo o que construíram juntos. Seu pai temia por sua vida muito antes do acidente... e então aconteceu. A tragédia foi apenas a culminação do que já havia começado.
Emir engoliu em seco, sentindo o impacto das palavras de seu tio como um golpe no peito.
- Minha mãe sabia sobre isso? - perguntou com a voz trêmula, como se a resposta pudesse quebrá-lo por dentro.
- Ela suspeitava - respondeu Kemal, seu olhar duro e melancólico. - Mas nunca teve provas. Foi por isso que deixou aquela carta que você encontrou. Mas há alguém, alguém que pode ajudá-lo a entender o que realmente aconteceu.
Emir ergueu os olhos, o desespero e a esperança misturando-se em seu olhar.
- Quem? - exigiu, quase sem fôlego.
Kemal hesitou por um instante, o silêncio pesando no ar.
- Elif Karahan - disse finalmente, suas palavras afiadas como uma lâmina. - Ela esteve perto da sua família naquela época. Se alguém sabe a verdade, essa pessoa é ela.
O nome de Elif ressoou na mente de Emir como um trovão. Ele sabia que encontrá-la seria como perseguir uma sombra entre as sombras. Mas não importava. Ele precisava de respostas, e se a vingança era seu destino, então o caminho para ela começava com Elif.
Enquanto isso, o plano de vingança de Emir tomava forma na escuridão de sua alma, como uma chama que consumia qualquer esperança de redenção para aqueles que se colocassem em seu caminho. Midyat em breve conheceria o peso da verdade - uma verdade oculta por tempo demais.