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A mansão dos Asian estava envolta em uma quietude que parecia irreal. Bahar, com a alma despedaçada, caminhava pelos corredores de mármore com passos lentos, como se cada um fosse uma condenação. No dia anterior, seu avô, Nasuh Aslan Asian, lhe dera uma ordem que mudaria sua vida para sempre: um casamento arranjado com Hakan Ersoy, um empresário que seria benéfico para a família. Mas ela não estava disposta a aceitá-lo.
O som de seus sapatos ecoava pelas paredes enquanto ela se aproximava do grande salão onde Nasuh a esperava. Seu avô estava sentado em sua imponente cadeira de madeira, com as costas retas e um olhar frio, como se nada nem ninguém pudesse desafiar sua autoridade. Bahar sentiu o ar ficar denso ao seu redor.
- Bahar - a voz de Nasuh soou profunda e grave, como sempre. - Sente-se.
Bahar permaneceu de pé, olhando para o avô com uma mistura de indignação e dor. Sabia que aquela conversa não seria fácil, mas não tinha ideia do que a aguardava.
- Por quê? - perguntou, sua voz tremendo de raiva, embora tentasse manter-se firme. - Por que está me obrigando a fazer isso?
Nasuh a encarou fixamente, seu rosto implacável. Não havia traço de carinho, apenas o peso da autoridade que sempre exerceu sobre ela.
- Esse casamento é necessário, Bahar. Hakan Ersoy é um homem que pode fortalecer nossa família. É o que precisamos para manter nosso poder e nossa posição. E você será a responsável por unir-nos a ele.
Bahar sentiu uma onda de desespero invadi-la. Como seu próprio avô podia pensar que poderia impor-lhe algo assim? Tudo o que ela queria era uma vida própria, livre das expectativas da família, mas isso nunca tinha sido uma opção.
- Não! - gritou, incapaz de conter sua raiva. - Não vou me casar com ele! Você não pode me obrigar a fazer isso!
A resposta de Nasuh foi imediata e cortante.
- É uma ordem, Bahar! - sua voz se elevou, afiada como uma lâmina. - A honra desta família está acima dos seus desejos. Este casamento fortalecerá nossa posição. Você não tem o direito de recusar.
Bahar deu um passo para trás, sentindo que seu mundo estava desmoronando. As palavras de seu avô eram uma sentença da qual não poderia escapar. Mas algo dentro dela a impulsionava a lutar, a desafiar tudo o que ele representava.
- Não quero ser uma peça no seu jogo de poder, avô! - gritou, com os olhos cheios de lágrimas que se recusavam a cair. - Sou sua neta, não um objeto!
Nasuh permaneceu em silêncio por um momento, observando-a com um olhar frio e calculista. Para ele, Bahar não passava de uma peça no grande tabuleiro de xadrez da família, e seus sentimentos não significavam nada.
- Você precisa entender, Bahar - disse com um tom mais suave, mas igualmente firme. - Isso é o melhor para todos. Se você não se casar com Hakan, perderemos tudo o que conquistamos. A lealdade da sua família depende disso.
Bahar sentia como se uma grande pressão esmagasse seu peito. As palavras de seu avô continuavam a atingi-la, e ela não conseguia parar de pensar em como tudo aquilo era injusto. Por que sempre tinha que ser ela a sacrificar seus desejos pela família?
De repente, sem saber como, saiu correndo em direção à porta, seus passos rápidos e frenéticos, tentando escapar do peso esmagador que havia caído sobre ela. Precisava de ar, precisava escapar de seu avô e de tudo o que ele representava.
Nasuh, impassível, observou-a partir, sabendo que ela não tinha outra escolha senão voltar. Não estava disposto a ceder aos caprichos de Bahar. Já havia tomado sua decisão, e ninguém, nem mesmo sua neta, poderia mudá-la.
Bahar correu pelos corredores, dominada pela dor e pela ira. Saiu para o jardim, onde a brisa fresca acariciou seu rosto, mas nada poderia acalmar a tempestade dentro dela. Sua vida sempre foi uma sombra sob a vontade de seu avô, mas agora a situação havia atingido um ponto crítico.
Deixou-se cair no chão, abraçando os joelhos com força. As lágrimas finalmente começaram a cair, e, pela primeira vez em muito tempo, ela não tentou contê-las. O sofrimento de toda a sua vida, o desprezo constante de Nasuh, a falta de amor e respeito, tudo explodiu naquele momento.
- Eu não posso fazer isso! - sussurrou entre soluços, olhando para o céu. - Não posso me casar com um homem que não amo!
Enquanto isso, à distância, Emir Demir observava a cena da esquina do jardim. Chegara a Midyat com um propósito: vingar-se da família Asian, a quem culpava pela morte de seus pais. Mas algo no olhar de Bahar, sua dor palpável, o fez duvidar de tudo o que havia planejado. Ele ouvira rumores sobre a beleza da jovem, mas nunca imaginou que seu sofrimento fosse tão real.
Seus olhos se encontraram por um instante, e, embora não houvesse palavras, o ar entre eles se carregou de uma tensão desconhecida. Emir percebeu que sua vingança, que até aquele momento parecia ser o sentido de sua vida, já não era tão clara. Algo dentro dele estava mudando.
Bahar, alheia ao olhar de Emir, levantou-se lentamente do chão, com uma nova determinação. Não permitiria que sua vida fosse decidida por outros. Algo dentro dela dizia que precisava lutar, que precisava encontrar seu próprio destino, não importava o que seu avô ou o destino quisessem para ela.
Mas o caminho não seria fácil. Nasuh já havia tomado sua decisão, e as sombras da família Demir estavam mais próximas do que ela poderia imaginar.
A guerra estava prestes a começar, e Bahar, sem saber, já estava no centro dela.
No horizonte, a figura de Emir desaparecia entre as sombras, enquanto Bahar, com o coração cheio de dúvidas, começava a caminhar rumo a um futuro incerto.