Capítulo 4 Encontro no Mercado

O mercado de Midyat estava lotado, um burburinho constante de vozes, cheiros e cores. As barracas, repletas de frutas frescas, especiarias exóticas e tecidos brilhantes, se alinhavam ao longo das ruas estreitas, criando uma paisagem que vibrava com a vida cotidiana da cidade. Bahar caminhava entre a multidão, com seus pensamentos ainda presos no confronto com seu avô. A decisão de Nasuh estava a sufocando, mas ela não podia se render. Precisava de um respiro, um momento de paz longe do pesado fardo de sua família.

Era uma manhã quente, mas o ar parecia denso, carregado das preocupações que Bahar não conseguia afastar de sua mente. Caminhava distraída, esquivando-se das pessoas que cruzavam seu caminho, quando, de repente, alguém a empurrou com força, fazendo com que suas mãos se levantassem instintivamente para evitar cair.

- Cuidado! - disse uma voz masculina, profunda e quase áspera.

Bahar, furiosa pelo empurrão brusco, levantou o olhar, pronta para repreender o desconhecido. E foi exatamente nesse momento que seus olhos se encontraram com os dele. Um homem jovem, de cabelos escuros e olhar desafiador, a observava fixamente, um tanto surpreso, mas também com uma expressão que ela não conseguia decifrar.

Bahar deu um passo para trás, seu coração acelerado. Havia algo nele que a desconcertava, algo que ela não sabia se a atraía ou a inquietava.

- Você não olha por onde anda? - disse ela, sem se controlar. Sua voz, carregada de frustração, soou com força.

O jovem levantou uma sobrancelha, um leve sorriso surgiu em seus lábios. Não era um sorriso amigável, mas um sorriso que parecia desafiador, quase como se ele estivesse acostumado a se confrontar com os outros.

- Não é só você que está com pressa, sabia? - respondeu ele, com tom cortante. Seus olhos se fixaram nela com uma intensidade que fez Bahar se sentir desconfortável, mas ela não conseguia desviar o olhar.

Bahar não entendia por que esse desconhecido a olhava daquela maneira, como se algo mais estivesse acontecendo naquele breve instante. Ela, por sua parte, estava furiosa demais com a situação para parar e pensar no enigma que ele representava.

- Você não tem o direito de me empurrar! - continuou Bahar, com o rosto vermelho de raiva. Seu tom não deixava dúvidas de que estava pronta para se defender.

O homem a observou em silêncio por um segundo, como se estivesse a avaliando. Então, com um suspiro de aparente indiferença, levantou a mão em um gesto quase desdenhoso.

- Desculpe. Não achei que você fosse tão dramática - disse ele, como se tudo aquilo fosse um incômodo para ele.

Bahar sentiu a raiva subir pelo seu pescoço. Dramática? Ele era um sem-vergonha!

- O que você disse? - disse ela, franzindo a testa e dando um passo em direção a ele, pronta para enfrentá-lo.

O homem não se moveu, mas seus olhos brilharam com um toque de diversão. Por um momento, parecia que a situação o entretinha. Bahar sentia que algo estava sendo formado entre eles, mas não sabia o quê. O que mais a incomodava era o fato de que esse homem parecia não demonstrar um mínimo de respeito por ela.

- O que eu quero dizer é que, se você continuar perdendo tempo com essas discussões, sugiro que procure alguém mais para brigar - disse ele, com um tom de zombaria que só aumentou a irritação de Bahar.

- Você não está me ouvindo! Isso não é um jogo! - exclamou, com as mãos cerradas em punhos ao lado do corpo.

O homem a olhou por um instante, e algo em seu olhar parecia mudar. Não era um olhar desafiador dessa vez, mas de curiosidade. Bahar, por sua vez, não entendia o que estava acontecendo, mas o encontro se sentia... estranho. Como se ambos, sem saber, estivessem medindo forças.

A multidão ao redor parecia alheia à discussão, mas, nesses breves segundos, tudo parecia parar para Bahar. O único que restava era aquele homem que a sobrecarregava com sua atitude e sua presença. Ele, por outro lado, a estudava, como se visse algo nela que ela mesma não conseguia reconhecer.

Finalmente, o jovem suspirou, parecendo cansado da disputa sem sentido.

- Tá bom, cansei. Mas saiba que, se continuar agindo como uma criança, não espere que eu me desculpe pelo empurrão - disse ele, virando-se novamente, pronto para ir embora.

Bahar ficou momentaneamente em silêncio, desconcertada pelo que acabara de acontecer. Quem era ele? Por que ele a olhou daquele jeito? Seu orgulho disparou, mas algo dentro dela a fez ficar ali, observando enquanto o homem se perdia na multidão.

E, embora ela ainda não soubesse, algo havia mudado naquele encontro. O ar estava carregado de uma tensão inexplicável. Ambos haviam deixado escapar um pedaço de si mesmos sem saber, como se o destino tivesse começado a escrever uma história que nenhum dos dois estava preparado para ler.

No momento em que Bahar deu um passo para trás, se preparando para continuar seu caminho, uma sombra passou rapidamente ao seu lado. Em sua mente, as palavras do desconhecido continuavam a dar voltas. Quem era aquele homem? O que estava acontecendo? E o mais importante: por que ela sentia, apesar de tudo, uma estranha conexão com ele?

Enquanto ela desaparecia entre as pessoas, Emir Demir, com um sorriso esquivo, observou sua figura se afastar. Não a reconheceu de imediato, mas algo dentro dele dizia que, de alguma forma, aquele encontro não havia sido casual. O destino estava se tecendo a cada passo.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022