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O dia deslizou lentamente para a tarde, e Bahar retornou à mansão com a cabeça cheia de pensamentos turbulentos. O encontro com aquele desconhecido no mercado lhe deixou uma sensação estranha, algo entre curiosidade e desafio. Mas o que mais a incomodava não era o homem em si, mas o fato de que, por um breve momento, ela sentiu algo inexplicável. Algo que ela não deveria sentir. Por que aquele olhar, aquele brilho de cumplicidade nos olhos dele? Bahar não conseguia tirar a imagem do rosto dele da cabeça.
No entanto, naquela tarde, a tranquila rotina da mansão Asian seria alterada. A notícia do encontro entre Bahar e o desconhecido chegou rapidamente aos ouvidos de Nasuh. Em Midyat, nada acontecia sem que ele soubesse. E o que mais o enfurecia era a ideia de que sua neta tivesse conversado, embora brevemente, com alguém que, aos seus olhos, não era nada mais do que uma ameaça ao seu controle sobre a família.
Nasuh, sentado em seu escritório de madeira escura, olhava com fúria as cartas e documentos à sua frente. Seu olhar, fixo nos papéis, parecia imutável, mas sua mente estava acelerada. A porta se abriu suavemente, e Faruk, seu filho e pai de Bahar, entrou com um passo vacilante. Ele sabia que algo não ia bem.
- Pai - começou Faruk, sem ousar olhar diretamente nos olhos de Nasuh, como sempre acontecia quando a conversa era séria. - Bahar... teve um problema no mercado hoje.
Nasuh levantou lentamente os olhos, sua expressão gélida.
- Um problema? - repetiu, sua voz baixa, mas carregada de ameaça. - Do que você está falando?
Faruk hesitou, mas não podia esconder a verdade. Nasuh havia ordenado a seus espiões que estivessem atentos a qualquer movimento de Bahar, e logo chegou a notícia de que a jovem teve uma discussão com um homem no mercado. Inicialmente, pensou que não passaria de um incômodo passageiro, mas logo a descrição do homem com quem Bahar conversou foi dada: um jovem de postura distinta, com olhar desafiador. Faruk não precisou pensar muito para identificá-lo.
- Esse homem... - murmurou Faruk, antes de olhar nervoso para seu pai. - É Emir Demir.
Nasuh ficou em silêncio, e por um momento, parecia que o ar na sala se tornava mais denso. Emir Demir. O nome ecoou em sua mente com desdém. O filho daqueles malditos que ele jurou destruir. A família Demir, responsável pela tragédia que marcou sua vida.
- Emir Demir? - repetiu Nasuh com um sorriso frio. - Claro, não poderia ser outro. E o que minha neta fez com ele?
Faruk hesitou, mas antes que pudesse responder, Nasuh o interrompeu.
- Bahar tem um dom para se meter em problemas, não é? - disse Nasuh, levantando-se da cadeira com uma calma inquietante. - Eu disse a ela para não se aproximar dessa família. Como ela foi tão imprudente?
- Pai, ela não sabia quem ele era, só que eles discutiram no mercado. - Faruk tentou acalmá-lo, embora sua voz transmitisse temor.
Nasuh o olhou com desprezo.
- Imprudente ou não, ela não vai ver esse canalha novamente - disse ele, sua voz firme como aço. - Bahar é minha para casá-la com quem eu escolher, não para perder tempo com um filho dessa gente. E se ela quer fazer parte da nossa família, não pode ficar distraída com tolices. Esse assunto acaba agora.
Faruk assentiu rapidamente, sentindo que a conversa estava prestes a tomar um rumo perigoso.
- O que você vai fazer, pai? - perguntou, temeroso pela resposta.
Nasuh sorriu, um sorriso cheio de intenções sombrias.
- Vou mostrar à minha neta qual é o lugar dela. Ninguém, nem ela, pode desafiar minha autoridade. Além disso, já decidi o que farei com essa família. Se a garota acha que pode brincar de ser livre, vai ter que aprender que essa não é uma opção.
Enquanto isso, nas ruas escuras de Midyat, Emir Demir caminhava com passos calculados, como sempre fazia quando se sentia no controle da situação. Seu encontro com Bahar no mercado ainda girava em sua mente, e ele não conseguia parar de pensar na atitude desafiadora dela. Havia algo nela que o intrigava. Algo que ele não conseguia identificar, mas que lhe dizia que ele precisava saber mais.
Seu plano, sua vingança, era claro: destruir a família Asian, derrubá-los de dentro para fora. Mas Bahar, com sua beleza e coragem, o fazia duvidar. Deveria seguir sua vingança a todo custo, ou seu destino estava entrelaçado com o dela de uma forma mais perigosa do que ele antecipara?
Enquanto caminhava, Emir foi interceptado por seu amigo mais próximo, Azad Yilmaz, que o olhava com uma mistura de preocupação e curiosidade.
- Emir, você ainda está com essa ideia de destruir os Asian? - perguntou Azad, sem rodeios. - Você tem se obcecado com isso desde que era criança. Mas o que eu vi hoje... não sei. Talvez nem tudo seja o que você pensa.
Emir franziu a testa e olhou firme para Azad.
- Você não entende, Azad. A família Asian é responsável pela morte dos meus pais. O que eles me fizeram não tem perdão. - sua voz estava baixa, mas cheia de veneno.
Azad ficou em silêncio, sem saber o que mais dizer. Não compartilhava a sede de vingança de Emir, mas não podia fazê-lo mudar de ideia. Nesse instante, Emir viu algo que mudou a direção de seus pensamentos.
Bahar.
Esse nome ressoou em sua mente com mais força. A maneira como ela o olhou, desafiadora mas vulnerável, o fez reconsiderar algo importante: a jovem Bahar Asian era ilegítima. Ele havia confirmado isso através de suas fontes, e a revelação lhe deu uma oportunidade que ele não havia considerado antes. A filha de Nasuh, a peça-chave, não tinha a mesma legitimidade perante seu avô, algo que poderia ser usado a seu favor.
Emir sorriu para si mesmo, um sorriso frio e calculista.
- Talvez meu plano não precise mudar tanto assim, depois de tudo, Azad - murmurou para si, enquanto se afastava de seu amigo, já com a mente focada na próxima jogada de sua vingança.
Bahar, sem saber, havia começado a fazer parte de seu jogo. E ele usaria cada pedaço dessa vulnerabilidade em benefício próprio.
Na mansão dos Asian, Nasuh estava decidido a dar um golpe final que colocaria sua neta em seu devido lugar. E nas sombras, o destino de Bahar e Emir se tecia a cada decisão que tomavam.