Capítulo 6 A volta do pesadelo

Clara havia se estabelecido em sua nova vida, mas o passado nunca está completamente enterrado. Ricardo, que nunca aceitou o fim do relacionamento, começou a sentir o vazio deixado por Clara de uma forma que o consumia. Ele a observava de longe, estudando seus movimentos, suas rotinas, e alimentando uma obsessão que crescia a cada dia.

Ele descobriu onde ela morava através de um antigo conhecido que trabalhava no abrigo. Ricardo não era um homem que aceitava derrotas, e a ideia de Clara seguir em frente sem ele era insuportável. Ele começou a aparecer em lugares onde ela frequentava: o mercado, o parque, até mesmo perto de seu novo apartamento. No início, eram apenas aparições rápidas, como se ele quisesse que ela soubesse que ele estava lá, observando.

Clara notou sua presença quase imediatamente. A primeira vez que o viu, ela estava no mercado, escolhendo frutas. Ele estava do outro lado do corredor, parado, olhando fixamente para ela. Seu coração disparou, e ela deixou o carrinho para trás, saindo rapidamente do local. Quando chegou em casa, trancou todas as portas e janelas, sentindo-se como se estivesse de volta ao apartamento que compartilhara com ele.

Pedro percebeu a mudança nela.

- O que aconteceu? - ele perguntou naquela noite, segurando suas mãos enquanto ela tremia.

- Ele está me seguindo - Clara respondeu, sua voz quase um sussurro. - Eu o vi no mercado. Ele estava me observando.

Pedro ficou sério. Ele sabia sobre Ricardo, sobre o que Clara havia passado, e a ideia de que ele pudesse estar de volta a assustava profundamente.

- Vamos à polícia - ele sugeriu. - Eles podem fazer algo.

Clara hesitou. Ela sabia que Ricardo era inteligente e manipulador. Ele saberia como contornar as acusações, como fazer parecer que ela estava exagerando. Mas, no fundo, ela sabia que Pedro estava certo.

Eles foram à polícia no dia seguinte, mas, como Clara temia, não havia muito que pudessem fazer. Ricardo não havia feito nada além de aparecer em lugares públicos, e isso não era crime. O policial que os atendeu foi gentil, mas firme:

- Se ele fizer algo, qualquer coisa, ligue para nós imediatamente. Até lá, tentem evitar lugares onde ele possa estar.

Clara se sentiu impotente. Ela havia lutado tanto para reconstruir sua vida, e agora tudo parecia estar desmoronando novamente.

Nos dias seguintes, as aparições de Ricardo se tornaram mais frequentes. Ele começou a enviar mensagens para o celular de Clara, textos curtos e perturbadores:

"Você sabe que não pode escapar de mim."

"Eu sempre vou te encontrar."

"Você é minha."

Clara bloqueou o número, mas as mensagens continuaram chegando, vindas de números diferentes. Ela começou a se sentir como se estivesse sendo encurralada, como se não houvesse para onde correr.

Pedro tentou ajudá-la, sugerindo que eles mudassem de cidade, que começassem de novo em um lugar onde Ricardo não pudesse encontrá-la. Mas Clara relutou. Ela não queria deixar sua vida para trás novamente, não queria que ele tivesse tanto poder sobre ela.

- Eu não vou deixar que ele me controle - ela disse, com uma determinação que surpreendeu até a si mesma.

No entanto, o medo estava sempre presente. Ela começou a ter pesadelos novamente, acordando no meio da noite com o coração acelerado, convencida de que Ricardo estava ali, no quarto, esperando por ela.

Uma noite, após um desses pesadelos, Clara olhou para Pedro, que dormia ao seu lado, e sentiu uma onda de gratidão. Ele estava ali, firme e constante, mesmo quando tudo parecia desmoronar. Ela sabia que não poderia enfrentar isso sozinha, e que precisava confiar nele.

- Vamos nos mudar - ela disse na manhã seguinte, enquanto tomavam café. - Vamos encontrar um lugar onde possamos começar de novo, longe dele.

Pedro sorriu, aliviado.

- Vamos fazer isso juntos - ele respondeu, segurando suas mãos. - Você não está sozinha.

Mas, antes que pudessem colocar o plano em ação, o pesadelo se intensificou. Em uma noite chuvosa, enquanto Clara voltava para casa após uma sessão de terapia, ela sentiu que estava sendo seguida. As ruas estavam desertas, e os passos atrás dela ecoavam no silêncio. Ela acelerou o passo, mas os passos também aceleraram.

Quando ela finalmente chegou em casa, trancou a porta rapidamente, respirando fundo. Foi então que ela ouviu uma voz do lado de fora, suave e familiar:

- Clara, amor, você não pode me evitar para sempre.

Ela olhou pela janela e viu Ricardo parado na rua, olhando diretamente para ela. Seu coração parou. Ele estava lá, tão real quanto o medo que ela sentia.

Pedro chegou pouco depois, encontrando Clara sentada no chão, tremendo. Ele a abraçou, prometendo que não deixaria que nada acontecesse com ela.

- Vamos embora amanhã - ele disse. - Não importa para onde, mas vamos sair daqui.

Clara concordou, mas, no fundo, sabia que Ricardo não desistiria tão facilmente. Ele havia cruzado uma linha, e ela não tinha mais ilusões sobre o que ele era capaz de fazer.

A volta do pesadelo era real, e Clara sabia que, desta vez, não seria fácil escapar.

                         

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