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- Senhorita Anna?
- Sim...
- Se me permite um conselho, volte antes do sol se pôr, as regras mudaram e estão muito mais rigorosas, e tem mais, não deixe ninguém saber que foi buscar por Kaarl.
- Mas ele é meu noivo...
- Ainda assim, eu não sei do que Aleksis é capaz, precisamos ficar atentos e não provocá-lo até termos uma boa arma contra ele.
- Certo.
Eu subi as escadas correndo e entrei no meu quarto, logo percebi que tudo ali estava diferente, soltei a bolsa em cima da cama e abri meu closet vendo que todas minhas roupas tinham sumido e que agora aquele lugar estava cheio de vestidos pomposos e luxuosos, estremeci, não aquilo não podia estar acontecendo, olhei em volta vendo que meus livros novos já tinham chegado junto com as disciplinas a serem estudadas, nas grades curriculares, porém, além das aulas de magia estavam inclusas, "postura", "etiqueta" "dança" "artes domesticas" e é claro... Nada de lutas para mulheres, meu sangue ferveu aquilo era regredir! Eu não poderia aceitar isso!
Peguei minhas coisas e saí apressada, optei por sair pelos fundos, não queria que ninguém dos superiores me visse, assim que escapei pela cozinha e atravessei o pátio entrando no estabulo, me choquei contra alguém forte.
- Onde pensa que está indo Anna?
Olhei para as mãos que me seguravam e respirei aliviada vendo que era meu pai, sem pensar eu o abracei, agora ele era uma das poucas pessoas que eu podia contar.
- Pai... Que saudade...
- Também senti. – Ele respondeu o abraço me puxando para si com carinho. – Onde estava indo, saindo fugida como uma gata?
- Preciso ver o Kaarl, preciso saber o que está acontecendo, o castelo está um caos, tudo mudou! Estou perdida!
- Acredite, o horror está só começando, eu nunca vi um ditador como este, não sei o que faremos se ele convencer o ministério a entrar como rei!
- Eu ainda estou viva! A lei é clara, enquanto alguém de sangue real existir, não é possível que outra pessoa seja nomeada!
- Eu sei querida e por isso estou temendo tanto por sua segurança!
- Acha que Aleksis seria capaz de alguma coisa contra mim?
- Não sei querida, mas não podemos subestimá-lo, talvez seja bom fingirmos estar do lado dele, para o conhecermos melhor...
- Não sei se vou suportar tudo nele me irrita, suas regras, seu machismo, sua arrogância, ele exterminou minhas roupas! Quer que eu aprenda etiqueta! Isso é voltar no tempo!
- Concordo com você, e daremos um jeito de encontrar uma solução, porém por hora precisamos nos manter frios, ele precisa confiar em nós, para assim o derrubarmos.
A ideia de meu pai era muito inteligente eu tinha que concordar, porém, eu não sabia se eu conseguiria aquilo, ia contra quem eu era e se eu visse alguma injustiça acontecendo eu certamente não iria me calar.
A casa de Kaarl era bem diferente do que eu havia imaginado, fiquei parada atrás de uma das árvores admirando enquanto ele regava as plantas próximas dali, a casa era grande, porém muito pequena se comparada a um castelo, nada de exuberância ou luxo, apenas uma casa muito antiga e extremamente bela, levantada a pedra, ela tinha uma arquitetura encantadora, os pilares eram altos e havia uma varanda com vista para o castelo, no canto esquerdo uma flor trepadeira dava toda uma graça ao local, eu me aproximei devagar, mas Kaarl pareceu sentir minha presença e se virou assustado.
- Tiina...
Paralisei como ele podia se lembrar daquele nome? Sua memória tinha sido completamente apagada, ele tinha nascido de novo, por que ia se lembrar dela?
- Como se lembra desse nome?
Ele parou piscando algumas vezes e então veio em minha direção analisando minhas roupas.
- Não, desculpe, é Anna, você é a Anna.
- Sim, sou a Anna. Sua noiva. – Recuei um pouco receosa.
Ele abaixou a cabeça sem graça e então olhou para os lados observando se não havia ninguém por perto.
- Venha comigo, aqui não é seguro, ninguém pode ver que veio até aqui sozinha.
Ele me puxou até dentro da casa e fechou a porta atrás de si, assim que eu entrei, porém fiquei paralisada ao ver a quantidade de pinturas que havia ali, todas... Todas dela.
- São quadros da Tiina?
- É o que parece, ou pelo menos é o nome que está nas telas, assim como a minha assinatura em baixo, o que me leva a crer que fui eu que pintei, mas como posso ter pintado uma mulher exatamente igual a você, mas que claramente não é você porque estes quadros tardam de 1800, ou seja, muito antes de você ter vindo aqui.
Soltei o ar de forma pesada, o que dizer a ele? Que eu tinha um clone?
- Bom, de fato não sou eu. – Voltei a puxar o ar com dificuldade. – Tiina, existiu.
- Tenho muitos quadros dela, alguns bastante insinuadores, íntimos, por que eu pintaria esses quadros de alguém igual a você.
Mordi meu lábio, eu não era a pessoa certa para contar essa história, talvez Hermes fizesse isso melhor que eu.
- Acho que deveria perguntar ao Hermes, eu não convivi com você nessa época, aliás, nessa época eu nem existia...
Ele me segurou pelos ombros.
- Tem sido muito difícil para Hermes vir até mim agora com as novas regras, por favor, Anna, estou enlouquecendo, preciso saber quem é essa mulher!
Desviei-me dele e caminhei até uma das telas, não era eu, porém eu não podia deixar de admirar aquele trabalho, Kaarl tinha muito talento, aquela pintura estava intacta, como se tivesse sido pintada há pouco tempo.
- Você e Tiina tiveram um breve relacionamento, ela era minha avó tecnicamente.
- Avó? Isso pode explicar a semelhança, mas vocês não são apenas semelhantes, são iguais!
- Eu não sei como te explicar essa parte, apenas sei que por algum motivo, nos parecemos muito.
- Eu era apaixonado por ela?
Eu não queria responder aquela pergunta, doía admitir.
- Sim.
- Quão apaixonado?
- Muito.
Meus olhos estavam húmidos e virei-me para que Kaarl não percebesse, mas ele percebeu mesmo assim.
- Me desculpe por isso Anna, foi grosseiro e impróprio da minha parte lhe fazer essas perguntas, porém eu precisava saber...
- E não tinha ninguém para quem perguntar.
- Exatamente. – Ele tocou meu ombro me fazendo me virar para ele, à luz do sol batia em seus olhos os deixando claros como esmeraldas. – Quero que saiba, que eu não faço a menor ideia de quem essa mulher foi, então nada disso importa, na verdade eu já devia ter me livrado desses quadros.
- Não precisa se livrar de nada por minha causa, querendo ou não ela fez parte da sua história, é normal querer saber sobre ela.
Ele tocou meu rosto de leve e com carinho.
- Fez, não faz mais... Vamos esquecer isso, tudo bem? Vou me livrar dessas velharias. – Ele sorriu e me abraçou com carinho. – Senti saudades.
- Sentiu mesmo?
- Sim, gosto do seu cheiro, algo em você me acalma, me senti muito mal quando vi esses quadros, parecia você, mas, não podia ser a pessoa nesses quadros não tem a sua energia, é algo ruim, pesado.