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Eu mordi meu lábio querendo acreditar nele, porém Kaarl estava apenas desmemoriado, ele tinha amado muito Tiina, ele tinha feito muitas loucuras por ela, agora ele podia se sentir mal, mas já tinha sido muito feliz com ela.
- Disse que sentiu saudades, porém não me escreveu nenhuma carta, pensei que escreveria...
Ele se afastou ficando sério como se eu tivesse cobrado algo absurdo.
- Eu escrevi! Escrevi uma carta todos os dias em que esteve fora! Foram 52 cartas, para 52 dias de ausência sua! – Engoli minha saliva, ele tinha contado os dias? Pisquei várias vezes, mas se ele tinha escrito, para onde as cartas tinham ido?
- Não recebi nenhuma carta sua.
- Isso explica ter voltado, eu pedi tanto que não voltasse.
Congelei e voltei a me afastar, ele não queria que eu voltasse? Mas, por quê? Tinha acabado de dizer que sentira minha falta, então por que não queria me ver de volta?
- Por favor, não me entenda mal, eu expliquei tudo nas cartas, porém... É claro que você desconhece meus motivos, afinal, não leu nenhuma. – Ele ficou sem jeito. – Com a quebra da maldição, Taika ficou vulnerável para que outros reinos pudessem entrar, por mais ruim que a barreira fosse, ela também nos protegia, ninguém ousaria entrar no circulo sabendo que não sairia mais, com o fim disso, ficamos a mercê de outros reinos, mais ricos, mais poderosos e com muita sede por nossas terras.
- Reinos com magia?
- Reinos com muita magia, e que não pararam no tempo, eles têm tecnologias que nunca vimos, estão prontos para guerra, nós até então temíamos apenas a rainha, nos preparamos para ela, mas agora, agora os inimigos são outros, agora os inimigos são muitos.
- E tem o Aleksis e as mudanças do reino...
- Exato. - Ele segurou minhas mãos. – Prometa que não irá confiar nele.
- Como assim?
- Apenas prometa. Algo não está certo com ele, algo nele é estranho, eu devorei o livro dos guardiões, seria impossível o anel escolher alguém como ele, mas enfim, é ele o guardião e não há nada que possamos fazer.
- Ele era de Taika? Eu nunca o vi.
- Hermes me disse que sim, mas parece que quando criança os pais dele tentaram escapar da barreira, criaram um feitiço que deveria ser eficaz.
- Deveria?
- Os dois morreram ao atravessar para o outro lado, porém, Aleksis sobreviveu, por que... Ninguém sabe.
- Mas se ele era uma criança, como pode ter se mantido vivo?
- Os mais antigos contam que por dias ele ficou ao lado das cinzas dos pais, recusava-se a ir embora, porém também não podia voltar, assim como ninguém podia atravessar para ajudá-lo, então as pessoas se uniram para enviar alimentos para o outro lado, e assim foi por muito tempo, até que um belo dia, ele desapareceu, e ninguém mais ouviu falar dele, todos acreditavam que ele tinha sido capturado pela rainha e morto, mas ao que se vê, está bem vivo agora.
- E pelo visto, não se lembra da ajuda que recebeu.
- Nem um pouco.
- Chamo isso de ingratidão.
- Pergunte a Hermes sobre ele, ele foi quem me contou a história, talvez ele saiba mais detalhes e possa encontrar uma forma de você dobrá-lo.
- Não tenho certeza se é o que eu quero, acho que manter distância é melhor.
- Precisa encontrar um ponto fraco nele, acredite, ele não irá deixar você em paz, então será melhor se você tiver uma carta na manga.
Kaarl tinha razão, eu precisava encontrar algo em Aleksis que eu pudesse usar a meu favor, caso contrário ele me destruiria em pouco tempo, ainda mais agora que eu estava sozinha no castelo, Deus! Como eu sobreviveria sem Kaarl, Parvii ou Aila? Suspirei pelo menos eu ainda tinha Hermes, mas eu tinha que tomar cuidado, se não acabaria o pondo em risco também, até porque Aleksis já tinha percebido que eu e Hermes éramos próximos.
- Anna?
Ele disse tentando chamar minha atenção, só então percebi que eu tinha ficado muito tempo em silêncio.
- Sim?
- Evite vir me visitar, isso pode lhe causar problemas.
- Precisamos encontrar um jeito para isso! Com quem vou me abrir? Não posso falar com Hermes, caso contrario o colocarei em perigo, também não posso falar com meu pai, não quero chamar atenção para ele, Parvii não está mais lá e nem Aila! Preciso desabafar com alguém, ou vou surtar!
Ele fez um carinho em meu rosto e se aproximou de mim encostando sua testa na minha.
- Vamos dar um jeito, já estou vendo com o ministro, ele ficou de nos ajudar...
- O pai de Parvii?
- Sim, ele disse que veria o que poderia fazer, confio nele, sei que ele encontrará uma forma.
- Não entendo como Aleksis convenceu todo ministério contra você, e nem como tem corrompido as pessoas a favor dele.
- Dinheiro, poder, cargos públicos, há muitas coisas que pessoas como ele são capazes de comprar com um piscar de olhos, quem joga sujo sempre encontrará mais um porco para se juntar a vara.
- Acho que isso não é muito diferente do seu mundo para o meu.
Ele alisou meu rosto com os dedos.
- Vamos superar isso juntos.
Seu dedo deslizou e repousou em meus lábios.
- Tem algo que eu desejo fazer, por favor, me impeça se eu estiver sendo muito atrevido...
Voltei a engolir minha saliva quando percebi o que ele queria dizer com aquilo, ele estava prestes a me beijar e eu não sabia se devia recuar ou permitir, meu coração disparou e eu umedeci os lábios, no fundo eu esperava por isso, Kaarl foi cuidadoso, seu beijo foi tão sútil quanto o de um sopro, fechei meus olhos e me deixei levar por aquela brisa, os lábios dele contornaram os meus e ele me puxou para si aprofundando a carícia, senti minhas pernas amolecerem e me entreguei completamente, Kaarl sorriu interrompendo o beijo e se afastou.