Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo.
- Acorda, pai... - murmurou, a voz embargada. - Você faz tanta falta pra mim...
Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeiro a cada quinze dias para manter a aparência do pai, mas nada poderia apagar a ausência que aquele homem deixava ao permanecer inerte.
O som da porta se abrindo o fez piscar rapidamente, afastando a emoção que ameaçava dominá-lo. O mordomo entrou com a postura impecável de sempre, mas a voz saiu baixa e respeitosa:
- Senhor Rafael, a enfermeira chegou. Está esperando no escritório.
Rafael apenas assentiu, sem tirar os olhos do pai. Apertou levemente sua mão uma última vez antes de soltá-la, passando os dedos pela pele áspera do dorso. Suspirou fundo, endireitando os ombros.
Agora que a enfermeira estava ali, seu pai teria companhia por mais tempo. Talvez isso ajudasse de alguma forma.
Com um último olhar para o homem que tanto admirava, Rafael se levantou e seguiu para o escritório, pronto para conhecer a mulher que, de alguma maneira, poderia mudar o rumo daquela história.
Rafael foi até o escritório para entrevistar a enfermeira, tentando manter a postura firme, embora sua mente ainda estivesse presa à imagem do pai deitado na cama.
Ele entrou no escritório ajustando o terno com um gesto automático, a expressão séria e controlada. Caminhou até a mesa, contornando-a com firmeza, e estendeu a mão para a mulher à sua frente.
- Rafael Avelar. - Sua voz era firme, analisou-a com um olhar atento enquanto aguardava sua resposta.
Ela apertou a mão de Rafael com firmeza, mantendo a postura profissional. Seus olhos encontraram os dele com confiança enquanto dizia:
- Patrícia Mendes. É um prazer conhecê-lo, senhor Avelar.
Rafael indicou a cadeira à sua frente com um gesto discreto.
- Por favor, sente-se.
Enquanto ela acomodava-se, ele pegou o currículo e começou a folheá-lo, sua expressão séria. Patrícia percebeu quando seu olhar se tornou mais crítico. Ele não disse nada de imediato, mas o leve franzir de cenho revelava sua preocupação. Ela era mais jovem do que imaginava, e agora tinha certeza de que sua experiência era mínima ou inexistente.
O silêncio que se instalou a deixou nervosa. Engoliu em seco, apertando as mãos sobre o colo antes de decidir se explicar:
- Senhor, eu sei que não tenho experiência... Acabei de me formar, mas... - respirou fundo, tentando manter a calma. - Eu sou dedicada, estudiosa e prometo que darei o meu melhor para cuidar do seu pai.
Seus olhos transmitiam sinceridade, mas Rafael não parecia convencido. Ele pousou o currículo sobre a mesa, cruzou os dedos e a encarou, avaliando suas palavras.
Rafael apoiou os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando os dedos enquanto a observava com atenção. Sua voz saiu firme, cheia de emoção:
- O meu pai é tudo para mim. Ele é o meu alicerce.
Patrícia sentiu o peso daquelas palavras caírem sobre seus ombros. Não era apenas uma entrevista de emprego, era uma prova de confiança. Ela precisava mostrar que era capaz, que podia cuidar daquele homem que significava tanto para Rafael. Então, respirou fundo e decidiu lutar por aquela oportunidade.
Patrícia ergueu o olhar para Rafael, deixando de lado qualquer insegurança.
- Senhor Avelar, eu sei que sou jovem e não tenho anos de experiência, mas tenho dedicação e vontade de aprender. Seu pai precisa de cuidados constantes, e eu estou disposta a dar o meu melhor para garantir que ele receba toda a atenção e carinho que merece. Sei que pode ser difícil confiar em alguém novo, mas me dê uma chance de provar que sou capaz. Não vou decepcioná-lo.
Sua voz carregava firmeza, e Rafael percebeu que, apesar da delicadeza, havia uma força inabalável naquela mulher.
Rafael, após se convencer, a conduz com cuidado até o quarto de seu pai no térreo.
Ela se aproximou da cama, onde estava o paciente, e parou por um momento, observando com atenção. Seu olhar se alternava entre Rafael e o homem na cama, como se tentasse absorver a semelhança evidente entre ambos. Ela piscou várias vezes, ainda processando a imagem, até finalmente olhar para Rafael.
- Somos muito parecidos - disse ele, com um sorriso discreto, ao perceber que ela notara a grande semelhança entre pai e filho. A voz dele tinha um tom suave, carregado de um certo orgulho.
Ela assentiu, surpresa. Nunca em sua vida tinha visto tanta semelhança entre pai e filho: a única diferença era a idade.
- Sim, é impressionante - ela respondeu, com um pequeno sorriso, mas sua mente ainda estava absorvendo o que estava diante dela.
Por mais que tivesse achado Rafael bonito e atraente, não se comparava ao pai dele. O homem deitado na cama parecia emanar uma força silenciosa, uma presença imponente que, mesmo na quietude, dominava o ambiente. Seus traços, mais marcantes com a idade, eram dignos de respeito, e o simples fato de ser o pai de Rafael tornava-o ainda mais impressionante aos olhos dela.
Ela afastou esses pensamentos rapidamente, focando no que precisava fazer, mas não pôde evitar uma última olhada contemplativa, admirando a dignidade do homem que agora estava à sua frente.
Rafael observou a expressão dela, notando a fascinação que ela parecia ter pelo pai. Mas ele não deu muita importância àquilo naquele momento. Com um olhar sério, ele se aproximou, quebrando o silêncio no quarto.
- O emprego é seu - disse ele com firmeza, sua voz calma e autoritária. - Se estiver pronta para começar, pode começar imediatamente.
Ela o olhou, surpresa. A proposta de Rafael era direta, sem rodeios. Era uma chance que ela sabia que não podia deixar passar, mas a rapidez com que as coisas estavam acontecendo a fez hesitar por um momento. Rafael percebeu a pausa dela e, com um leve sorriso, continuou.
- Sei que pode ser muito para digerir. O que acha? Está pronta para assumir a responsabilidade?
Ela engoliu em seco, sentindo a intensidade daquele momento, mas também uma certa excitação diante da oportunidade que se apresentava. Olhou novamente para o homem na cama, agora com uma sensação de dever se instalando dentro dela.
- Eu... eu aceito - respondeu ela, finalmente. E, com um olhar decidido, completou: - Vou começar agora mesmo, senhor.