A lembrança veio de repente. Ele se recordou da pessoa que havia indicado a jovem como enfermeira. Na ocasião, essa pessoa mencionou que Patrícia estava desesperada por um emprego para pagar o hospital onde o avô estava internado.
Rafael pegou o telefone e ligou para seu contato, indo direto ao ponto:
- O que o avô dela tem?
Do outro lado da linha, houve um breve silêncio antes da resposta:
- Está morrendo. Patrícia só quer diminuir o sofrimento dele.
Rafael ficou em silêncio, digerindo a informação.
Uma ideia começou a se formar em sua mente, algo que poderia resolver dois problemas ao mesmo tempo.
Rafael decidiu que conversaria com Patrícia assim que chegasse na mansão. Por ora, deu o assunto por encerrado e olhou para o relógio. Ainda tinha outra reunião antes do almoço.
Suspirando, voltou a se concentrar no trabalho. Precisava limpar a mesa o mais rápido possível para evitar acumular pendências para o dia seguinte.
Enquanto isso...
Patrícia deslizava as mãos delicadamente pelos ombros de Augusto Avelar. Aplicava uma leve pressão, tentando aliviar a rigidez dos músculos, mesmo sem saber se ele conseguia sentir. Ela queria acreditar que sim.
- O senhor sempre recebia massagens, não é? - murmurou, lembrando do que ouvira na cozinha. - Espero que goste dessa também.
Conforme descia pelos braços, notou algo que a fez parar por um instante. Poderia jurar que sentiu uma leve contração nos músculos.
Foi imaginação dela ou ele realmente reagiu?
Patrícia mordeu o lábio inferior e voltou a massageá-lo, agora descendo para os antebraços e mãos.
Ela terminou a massagem e, mesmo relutante, decidiu tomar o desjejum. Precisava manter as forças para continuar cuidando de Augusto.
Sentou-se à mesa e levou o copo de suco aos lábios, mas sua mente estava longe dali. Ela realmente tinha visto aquele movimento ou foi apenas sua imaginação?
Se fosse real, significava que ele estava reagindo aos estímulos, e isso era uma grande esperança. Mas e se fosse apenas um reflexo involuntário?
Suspirou, pegando um pedaço de mamão com o garfo. Ela precisava acreditar.
Foi tirada de seus pensamentos pelo mordomo, que entrou no quarto com sua postura impecável.
- Senhorita Patrícia, o grupo médico está a caminho. Devem chegar antes do almoço.
Ela arregalou os olhos.
- Tão cedo?
- O senhor Rafael pediu urgência.
Patrícia assentiu, sentindo o coração disparar. Era agora.
Às onze em ponto, o grupo médico entrou no quarto. Cada movimento era meticulosamente calculado, como se todos soubessem que este momento era decisivo.
Patrícia, vestida com seu jaleco branco, ficou ao lado da cama do senhor Avelar. Seus olhos estavam fixos nele, como se estivesse disposta a captar o menor sinal de movimento.
Cada minuto parecia uma eternidade. O médico responsável, o Dr. Costa, aproximou-se da cama com uma expressão séria. Sua equipe seguiu-o com cuidado, preparando-se para os procedimentos finais. Ele observou o paciente por um momento, mexendo nos equipamentos e verificando os monitores.
Após os exames, que parecia uma eternidade, ele olhou para ela, seu olhar cauteloso refletia um certo.
- Senhora, o senhor Avelar não está mais em coma. Ele está dormindo, o quadro é estável. Podemos esperar que ele acorde a qualquer momento - disse o médico, com calma.
Ela respirou fundo, sentindo um nó se desfazer em seu peito.
- Ele vai acordar? - perguntou, a voz trêmula.
- Sim, mas vamos precisar de cautela. A remoção das máquinas e da alimentação intravenosa é necessária, mas ainda precisamos monitorar cada detalhe. O despertar dele pode ser gradual - respondeu o Dr. Costa, com uma leve hesitação. - Vamos manter tudo sob controle.
Com a confirmação do diagnóstico, a equipe iniciou a remoção das máquinas que o haviam mantido vivo durante todo aquele período angustiante. O som do "bip" das máquinas desapareceu aos poucos, e a maçã, que ele usava como sinal de alimentação intravenosa, foi cuidadosamente retirada.
Ela não conseguia desviar os olhos do senhor Avelar. A cada segundo, ela esperava que ele abrisse os olhos, que os sinais de vida, ainda tímidos, se transformassem em um despertar pleno. Mas, por enquanto, ele continuava quieto, repousando como se estivesse simplesmente em um sono profundo.
- Você vai acordar, senhor - sussurrou ela, segurando sua mão com mais força, como se sua presença fosse um farol para ele voltar à realidade.
Os minutos seguintes foram silenciosos.
Após acomodarem o senhor Avelar na cama e retirarem todos os equipamentos do quarto, Patrícia se viu sozinha com ele, observando-o de pé no meio do cômodo. A angústia da espera a consumia. Pegou o celular e ligou para o senhor Rafael, relatando tudo o que havia acontecido.
Assim que desligou, o mordomo apareceu à porta, convidando-a para o almoço. Relutante, ela aceitou e saiu do quarto.
No exato momento em que Patrícia atravessava a porta, Augusto franziu a sobrancelha, como se estivesse perdido em um sonho.
Patrícia caminhou até a cozinha com passos apressados. Apesar da fome, sua mente estava inquieta, temendo que algo mudasse enquanto estivesse fora.
O almoço já estava servido. Ela tentou se alimentar, mas cada garfada parecia insossa diante da preocupação que a consumia. O tempo parecia arrastar-se, e cada minuto longe do senhor Avelar era uma tortura.
Assim que terminou o prato, recusou a sobremesa educadamente e se levantou.
- A senhorita não quer descansar um pouco? - sugeriu o mordomo. - O senhor Avelar estará bem.
- Eu prefiro voltar para o quarto dele. Qualquer mudança pode acontecer a qualquer momento.
O mordomo suspirou, mas não insistiu. Patrícia saiu apressada, atravessando os corredores da mansão até alcançar a porta do quarto.
Ao entrar, parou por um instante, prendendo a respiração.
Augusto Avelar continuava imóvel, mas algo estava diferente. Seu rosto parecia menos rígido, e sua respiração mais profunda. Patrícia se aproximou e, instintivamente, pegou sua mão, apertando de leve.
- Estou de volta... - murmurou, sentindo um aperto no peito.
Ela se acomodou na poltrona ao lado da cama e segurou a outra mão dele entre as suas, aguardando.
O tempo parecia se arrastar naquele quarto silencioso. Patrícia manteve-se atenta a qualquer mínimo movimento do senhor Avelar, mas.
O dia passou devagar, entre pequenas tarefas, como ajeitar os travesseiros e refrescar o ambiente. Sempre que podia, falava com Augusto, contando-lhe sobre o noticiário ou qualquer assunto aleatório, na esperança de que ele a ouvisse. Até que voltou a ler.
Quando o sol começou a se pôr, ela ouviu o som do motor de um carro se aproximando. Rafael estava de volta.
Minutos depois, o mordomo apareceu na porta do quarto.
- Senhorita Patrícia, o senhor Rafael pediu que a senhorita o encontre no escritório.
Ela assentiu, lançando um último olhar para Augusto antes de sair. Seu coração acelerou um pouco. Embora soubesse que Rafael queria falar sobre o pai, a seriedade do pedido a deixou tensa.
Ao chegar ao escritório, bateu levemente na porta entreaberta.
- Com licença.
Rafael ergueu os olhos dos papéis que folheava e indicou a cadeira à sua frente.
- Entre, Patrícia. Sente-se.
Ela obedeceu e cruzou as mãos sobre o colo, esperando.
- Como ele passou o dia? - Rafael perguntou, recostando-se na cadeira.
- Igual, mas... - Patrícia hesitou por um instante. - Hoje de manhã, achei que ele reagiu à massagem. Foi um movimento sutil, mas pode ter sido um reflexo involuntário.
Rafael assentiu, pensativo.
- Os médicos acham que há boas chances de ele despertar logo. Mas, enquanto isso... eu queria falar sobre outra coisa.
Ela franziu o cenho.
- Outra coisa?
Ele respirou fundo e a encarou com seriedade.
- Eu tenho uma proposta para você. Algo um pouco... incomum.
Patrícia permaneceu em silêncio, intrigada, esperando que ele continuasse.