Ela suspirou, mas se recusou a desanimar. Forçou um sorriso e, com carinho, falou:
- Tudo bem, talvez não seja hoje, mas sei que vai acontecer. Eu sinto isso.
Olhou ao redor e teve uma ideia.
- Vou ligar a TV e colocar no jornal para o senhor. Aposto que sente falta de acompanhar as notícias, não é?
Pegou o controle remoto e ligou a televisão, ajustando para o canal de notícias.
- Vamos ver o que está acontecendo no mundo hoje... Quem sabe alguma notícia ruim sobre a economia o faça abrir os olhos de indignação, hein?
Ela soltou uma risadinha, tentando aliviar a tensão. Então, voltou a segurar a mão dele, como um gesto silencioso de apoio.
- Eu estou aqui, tá? Vou cuidar do senhor...
Minutos depois, ela saiu do quarto apenas pelo tempo necessário para lavar o rosto, escovar os dentes e arrumar os cabelos. Enquanto isso, um dos dedos de Augusto Avelar se moveu rapidamente, quase imperceptível, ao som das notícias que ecoavam na televisão.
Ao retornar, Patrícia se sentou ao lado dele, aguardando o noticiário terminar. Assim que a última matéria foi ao ar, pegou o controle e desligou a TV, deixando o quarto em um silêncio tranquilo.
Ela sorriu, satisfeita por ter conseguido tornar aquele momento mais confortável para ele, mas algo a fez franzir a testa. O rosto do senhor Avelar parecia avermelhado. Preocupada, ela se inclinou e segurou seu rosto entre as mãos delicadas.
- Mas o que é isso...? - murmurou, sentindo a pele quente sob seus dedos.
Pegou o termômetro e mediu sua temperatura. Estava um pouco alta, mas não o suficiente para ser febre. Ainda assim, decidiu agir.
Com cuidado, puxou as cobertas para baixo, retirando-as completamente. Depois, descalçou as meias dele e passou as mãos pelos pés. Estavam quentes demais.
- Está abafado aqui, não é? - comentou, mais para si mesma.
Sem hesitar, abriu os primeiros botões da camisa do paciente para ajudá-lo a se refrescar, mas assim que fez isso, congelou.
Os olhos dela se arregalaram ao se deparar com um peito largo, definido e surpreendentemente bem cuidado. A pele firme, os músculos evidentes... Era impossível acreditar que aquele homem estava desacordado há tanto tempo.
Seu olhar percorreu o peitoral largo e desceu lentamente, quase por conta própria. A boca ficou entreaberta, e ela engoliu em seco.
- Meu Deus... - sussurrou, apenas percebendo que estava encarando demais quando sentiu o próprio rosto esquentar.
Rapidamente, balançou a cabeça e se repreendeu mentalmente.
- Patrícia, pelo amor de Deus, você está babando no seu paciente!
Fechou a camisa dele com dedos trêmulos, virou-se de costas e respirou fundo algumas vezes para recuperar a compostura.
- Isso foi um erro... um grande erro... - murmurou, abanando o próprio rosto.
Mas, enquanto tentava se acalmar, não percebeu que, por um breve momento, os dedos de Augusto voltaram a se mover.
- Eu preciso ser profissional... - Patrícia murmurou para si mesma, fechando os olhos por um instante antes de se virar novamente.
Com o máximo de concentração que conseguiu reunir, abriu a camisa de Augusto mais uma vez, tentando ignorar o peitoral firme que lhe tirava a compostura. Mantendo o foco na respiração controlada, pegou o termômetro e esperou alguns segundos antes de verificar a temperatura novamente.
Ao observar o visor do aparelho, franziu a testa. A temperatura dele havia normalizado.
- Ele estava com calor... - comentou consigo mesma, estranhando a situação.
Curiosa, aproximou-se e tocou as mãos dele. Na noite anterior, estavam frias, mas agora a sensação era completamente diferente. Passou as mãos pelos pés, percebendo que também estava numa temperatura normal.
- Que estranho... - sussurrou, inclinando-se um pouco mais para observá-lo de perto.
A pele de Augusto tinha um tom mais saudável do que antes, o que a fez se perguntar se seu corpo estava reagindo de alguma forma.
Seu coração acelerou. Será que aquilo significava que ele realmente estava despertando?
Um misto de empolgação e ansiedade tomou conta dela. Sem pensar, segurou uma das mãos grandes e fortes de Augusto entre as suas.
- Senhor Avelar, se o senhor pode me ouvir, me dê um sinal... - pediu baixinho.
Ficou alguns segundos em silêncio, esperando alguma reação. Mas nada aconteceu.
Suspirando, soltou a mão dele com delicadeza e se recostou na cadeira ao lado da cama.
- Talvez eu esteja imaginando coisas... - murmurou, mordendo o lábio.
Ainda assim, um pressentimento lhe dizia que algo estava mudando. E, por algum motivo, isso a deixava mais ansiosa do que deveria.
O mordomo entrou no quarto e olhou para Patrícia com preocupação.
- A senhorita não desceu para o café da manhã. Não está se sentindo bem?
Patrícia suspirou, ainda inquieta com a situação de Augusto.
- Estou sem apetite... - respondeu, desviando o olhar para o homem na cama.
O mordomo franziu a testa, desaprovando sua resposta.
- Mesmo assim, vou pedir que tragam um suco de laranja com mamão. Ficar muito tempo sem comer pode fazê-la perder as forças.
Ele já se preparava para sair quando parou na porta, como se tivesse se lembrado de algo importante.
- Ah, o senhor Rafael pediu para avisá-la que, no horário do almoço, virá um grupo médico para avaliar o patrão. Ele quer um diagnóstico mais preciso, já que a senhorita o viu se mexer.
Patrícia sentiu o coração acelerar. A notícia a deixou ansiosa, mas também aliviada.
- Isso é ótimo... - murmurou, voltando a olhar para Augusto.
O mordomo assentiu e saiu do quarto, deixando-a sozinha novamente.
Ela suspirou e passou os dedos pelos cabelos, tentando organizar os pensamentos. Em poucas horas, saberia se aquele pequeno movimento que presenciou era mesmo um sinal de que ele estava voltando à consciência.
- Espero que sim... - sussurrou para si mesma, apertando de leve a mão dele.
Seus olhos escuros analisaram o rosto adormecido de Augusto. Eles pousaram sobre a cômoda ao lado da cama, onde estavam alguns perfumes alinhados com perfeição. Ao lado deles, uma embalagem chamou sua atenção: óleo de massagem.
Instantaneamente, lembrou-se da conversa das funcionárias no dia anterior. Disseram que Augusto costumava receber massagens regularmente.
Talvez isso ajude na circulação... e quem sabe estimule os músculos a reagirem.
A ideia pareceu boa, e ela se aproximou da cômoda, pegando o frasco com hesitação. No entanto, antes que pudesse começar, uma batida leve na porta interrompeu seus pensamentos.
Uma das funcionárias entrou com uma bandeja.
- Aqui está seu café, senhorita. Suco de laranja e mamão, como o mordomo pediu.
Patrícia forçou um pequeno sorriso e assentiu.
- Obrigada.
A mulher saiu, e Patrícia observou a bandeja por alguns segundos. Seu estômago estava vazio, mas a ansiedade era maior que a fome. Não conseguia pensar em comida naquele momento.
Sem tocar no café da manhã, voltou sua atenção para Augusto.
- Vamos ver se isso te ajuda...
Ela despejou um pouco do óleo nas mãos e esfregou-as para aquecê-lo. Então, hesitante, abriu ainda mais os botões da camisa dele, revelando o peito forte e bem cuidado.
Ao tocar a pele quente, sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Foco, Patrícia... você está aqui para cuidar dele.
Com movimentos delicados, começou a massagear os ombros e o peitoral de Augusto. Conforme deslizava as mãos pela pele firme, percebeu algo estranho, parecia que ele reagia sutilmente ao toque.
Seu coração disparou.
Ela parou por um momento, mas não houve resposta. Ainda assim, teve certeza de que, por um instante, os músculos dele tinham enrijecido sob suas mãos.
Patrícia continuou a massagem, agora com mais esperança do que nunca.