Patrícia parou por um instante, respirando fundo para se recompor. Levou a mão ao rosto para limpar as lágrimas e, no mesmo instante, algo chamou sua atenção.
Seu coração quase parou.
Por um breve momento, viu dois dedos do senhor Avelar se moverem rapidamente.
Ela prendeu a respiração, seus olhos arregalados fixos na mão dele. Teria sido apenas sua imaginação... ou ele realmente havia se mexido?
Patrícia congelou. Seu coração disparou no peito, e a respiração ficou presa na garganta. Ela piscou várias vezes, incerta se tinha realmente visto aquilo ou se sua mente estava lhe pregando uma peça.
Os dedos do senhor Avelar haviam se movido. Rápido, quase imperceptível, mas ela tinha certeza do que viu.
- Senhor Avelar? - sussurrou, inclinando-se para mais perto.
Ela observou atentamente sua mão, esperando algum outro sinal. A emoção tomou conta de seu peito, uma mistura de esperança e nervosismo. Será que ele estava saindo do coma?
Engolindo em seco, ela segurou a mão dele com delicadeza.
- Se pode me ouvir, tente mexer os dedos de novo... - pediu suavemente.
Os segundos seguintes pareceram uma eternidade. O quarto estava em completo silêncio, apenas o som do monitor cardíaco ecoava no ambiente.
E então, lá estavam eles de novo. Dois dedos se moveram ligeiramente.
Um soluço escapou dos lábios de Patrícia. Seu coração disparou de emoção.
Ela precisava contar para Rafael.
Levantou-se apressada, mas hesitou. E se fosse apenas um espasmo involuntário? Não queria alarmar ninguém sem ter certeza.
Respirou fundo e decidiu observar por mais alguns instantes. Tocou delicadamente o braço dele, esperando outro sinal.
- Senhor Avelar, se puder me ouvir, mexa os dedos mais uma vez.
Dessa vez, nada aconteceu.
A enfermeira mordeu o lábio, sentindo a incerteza se instalar. Mas seu instinto lhe dizia que aquilo não era uma coincidência.
A esperança brotou dentro dela. Talvez, só talvez... ele estivesse finalmente despertando.
Patrícia hesitou por um instante antes de correr e bater na porta do quarto de Rafael. Seu coração acelerado denunciava sua inquietação. Não demorou mais que dois segundos para a porta se abrir, como se ele já estivesse acordado e alerta.
Rafael surgiu diante dela, de calça, descalço e sem camisa. Seu peito largo e definido denunciava a rotina disciplinada que ele mantinha, mas Patrícia desviou o olhar rapidamente, sentindo as bochechas queimarem.
- O que houve? - ele perguntou, a preocupação evidente no tom de voz.
Ela respirou fundo, tentando manter o foco no motivo que a levou até ali.
- Senhor Avelar... eu acho que vi seu pai se mexer - revelou, ainda incerta.
Os olhos de Rafael se estreitaram ligeiramente, e ele deu um passo mais perto.
- Se mexer? Como assim?
- Eu estava lendo para ele e... por um segundo, vi os dedos dele se moverem. Mas não sei se foi um espasmo involuntário - acrescentou rapidamente, sem querer criar falsas esperanças.
Rafael passou a mão pelos cabelos, a expressão séria.
- Tem certeza do que viu?
Patrícia mordeu o lábio, lutando contra a insegurança.
- Não posso ter certeza absoluta... mas foi real o suficiente para me trazer até aqui.
Ele prendeu a respiração por um segundo e, sem mais hesitar, passou por ela e caminhou decidido na direção do quarto do pai. Patrícia o seguiu de perto, sentindo a tensão no ar.
Se o que viu fosse mesmo um sinal de melhora... tudo poderia mudar a partir daquela noite.
Rafael caminhou até o lado da cama de seu pai, o coração apertado. Ele segurou suavemente a mão do homem. Olhou para o rosto do pai com os olhos umedecidos.
- Você sempre foi o meu exemplo, pai - disse ele com a voz embargada, quase um sussurro. A emoção tomava conta de seu peito, mas ele manteve a compostura. Rafael fez um carinho delicado na testa do pai.
Antes de sair do quarto, ele olhou para Patrícia, que o observava em silêncio. Rafael a encarou com seriedade, com confiança em seus olhos.
- Não saia de perto dele - disse Rafael, com firmeza. Sua voz, agora mais controlada. - Ele vai precisar de você. Não importa o que aconteça, fique com ele.
Patrícia assentiu, reconhecendo a intensidade das palavras de Rafael, e com um olhar compreensivo, disse:
- Pode deixar, eu estarei aqui.
Rafael a observou por mais um momento, e, com um suspiro, saiu do quarto, deixando Patrícia sozinha com o pai.
Patrícia dormia profundamente na poltrona ao lado do Senhor Avelar. O receio de ir para o próprio quarto e ele precisar dela a manteve ali, mesmo com o desconforto. Seu rosto sereno demonstrava o cansaço do primeiro dia, e seu corpo estava completamente relaxado pelo sono.
Rafael entrou no quarto do pai e parou ao vê-la adormecida. Observou por alguns instantes, notando como ela parecia pequena e delicada ali, como se estivesse determinada a cuidar do seu paciente a qualquer custo. Suspirou e murmurou baixinho:
- Deve estar exausta...
Com cuidado, ele se aproximou e a pegou no colo, sentindo o corpo dela se encaixar contra o seu. Caminhou até o quarto dela e a deitou suavemente na cama. Retirou seus sapatos e a cobriu com o edredom macio, certificando-se de que ela estava confortável. Antes de sair, deixou a porta que ligava os quartos entreaberta, caso algo acontecesse.
De volta ao quarto do pai, ele se sentou ao lado da cama e pegou a mão dele, apertando-a levemente.
- Eu chamei a equipe médica, papai. Hoje à tarde eles virão examiná-lo para ver se o senhor está realmente despertando.
Ficou ali por alguns minutos, observando o pai, esperando por qualquer outro movimento, qualquer sinal de que ele realmente estivesse voltando. Mas o silêncio e a respiração ritmada continuaram.
Precisava ir para o escritório. Tinha uma reunião às nove na cafeteria próxima à empresa, mas antes precisava assinar um documento importante. Com um último olhar para o pai, levantou-se e saiu, pronto para enfrentar mais um dia de trabalho.
Ao chegar ao escritório, Rafael não perdeu tempo. Pegou a caneta e assinou o documento que precisava ser resolvido com urgência. Assim que terminou, chamou sua secretária para dar algumas instruções. Enquanto conversavam, ele se levantou e pegou o paletó, preparando-se para sair.
No instante em que colocou um braço na manga do paletó, seu celular vibrou na mesa. Ele olhou para a tela e franziu a testa, número privado. Ignorou a chamada e continuou a se vestir, mas o telefone tocou novamente.
Soltando um suspiro de irritação, ele atendeu.
- Rafael.
Uma voz feminina soou do outro lado da linha, carregada de arrogância e impaciência.
- Seu pai já acordou?
Ele reconheceu a voz imediatamente.
- Estela... - sua voz saiu carregada de frustração. - Não. E, por favor, não ligue novamente.
Ela riu suavemente, como se sua resposta não significasse nada.
- Eu ligo quando quiser, Rafael. Augusto é meu e de mais ninguém. Aliás, irei até a mansão vê-lo nos próximos dias.
Rafael sentiu o sangue ferver. O atrevimento dela era irritante, mas ele não podia permitir que se aproximasse.
- Fique longe, Estela. A esposa do meu pai não vai gostar de ver outra mulher rondando por lá.
O silêncio se estendeu do outro lado da linha. Por um breve momento, Rafael pensou que ela tivesse desligado, mas então ouviu um sussurro hesitante.
- Você está mentindo...
Ele sorriu, satisfeito com a reação dela.
- Então vá e comprove com seus próprios olhos.
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele encerrou a ligação.
Rafael passou a mão no rosto, exasperado. Sabia que Estela era a principal suspeita pelo que aconteceu com seu pai e agora, sem querer, havia criado um novo problema para si.
- E agora? Onde vou arrumar uma esposa para ele? Merda!
Sentou-se na cadeira, encarando o teto enquanto sua mente trabalhava rapidamente. Precisava de uma solução, e precisava dela rápido.