Capítulo 4 O Reencontro

Era uma manhã gelada em Londres. Helena, médica dedicada e imersa na rotina frenética de seu hospital, se apressava para o trabalho. O frio cortante fazia a cidade parecer ainda mais apressada e caótica, mas ela já estava acostumada com essa agitação. Seus passos ressoavam no concreto da cidade, acompanhados pelo som abafado da movimentação do metrô à distância.

Ela entrou na estação e seguiu para o vagão do metrô, cheia de pensamentos e preocupações com o dia que a aguardava. O trem estava relativamente cheio, mas, como sempre, Helena encontrou um espaço vazio para se acomodar. Enquanto o metrô descia pelos trilhos, ela se entregava ao ritmo repetitivo do seu dia, observando distraidamente as pessoas ao seu redor. Seus olhos passavam de um rosto a outro sem realmente se fixarem, até que, de repente, houve um pequeno esbarrão.

Ela levantou os olhos rapidamente, pensando que alguém havia se precipitado ao passar. Para sua surpresa, o impacto não havia vindo de alguém próximo, mas de um homem que estava no meio do corredor. O choque foi suave, mas ele parecia estar tão absorto em seus próprios pensamentos quanto ela.

"Desculpe", ele disse, com uma leve expressão de surpresa, se afastando um pouco.

"Não foi nada", respondeu Helena, com um sorriso leve, olhando para ele mais por educação do que por real interesse. A situação parecia um simples acidente. Ela estava prestes a voltar a observar os outros passageiros, quando seus olhos ficaram fixos nos dele por um breve momento.

Havia algo nos olhos do homem - um azul profundo, quase hipnótico - que fez Helena sentir um calafrio sutil, como se já tivesse olhado para ele antes. Ela franziu a testa, tentando afastar essa sensação desconcertante. O homem também pareceu desconcertado por um segundo, mas logo desceu os olhos, como se tivesse sentido algo semelhante.

Ela virou a cabeça rapidamente, tentando ignorar o que havia acabado de acontecer. Mas não conseguia afastar a sensação de que aquele olhar, aquele esbarrão, havia sido mais do que um simples acaso.

Helena tentou se concentrar em sua rotina, no celular, até mesmo nas conversas que aconteciam ao redor, mas, quanto mais pensava nisso, mais sentia que algo estava se movendo em seu interior - uma memória distante e fragmentada, como se aquela situação já tivesse ocorrido, mas em outra vida, em outro tempo.

Aquela sensação não era forte o suficiente para ser considerada uma revelação, mas estava ali, persistente e incômoda. Como um sussurro que ela não conseguia entender, mas sabia que algo o acompanhava. Um peso, uma familiaridade que se esgueirava em sua mente, como se ela estivesse em um lugar que já conhecia, sem saber ao certo como.

O homem, depois de alguns momentos de silêncio, deu um passo à frente, indo em direção à porta do vagão, prestes a sair. Antes que pudesse se afastar por completo, ele olhou novamente para Helena, como se estivesse prestes a dizer algo, mas, então, hesitou e disse apenas:

"Meu nome é Daniel", ele falou, sua voz baixa, quase um sussurro. "Eu... acho que nos veremos por aí."

Helena, ainda um pouco perdida em seus próprios pensamentos, respondeu automaticamente, sem realmente processar as palavras: "Helena. Foi um prazer."

Ela o observou sair do vagão e, à medida que ele se afastava, a sensação de déjà vu a atingiu com força renovada. Não era uma lembrança vívida ou clara, mas um sentimento distante, como se tivesse vivido aquele momento, de alguma forma, antes. Mas não sabia quando, nem onde. Era um pensamento confuso, como uma memória que ela não conseguia alcançar totalmente.

O metrô seguiu seu caminho, mas a sensação de que algo estava errado - ou talvez, mais precisamente, algo estava certo - persistiu.

Helena não conseguia tirar Daniel da cabeça. O encontro no metrô foi breve, quase insignificante, mas o olhar entre eles tinha sido algo impossível de ignorar. Ela se pegou revivendo o momento várias vezes nos últimos dias, tentando entender o que havia acontecido. Era como se a alma dela tivesse reconhecido a dele, mas ela não sabia explicar porquê.

Nos dias seguintes, Helena tentou se concentrar em seu trabalho, mas a imagem de Daniel, com seus olhos azuis profundos, surgia a qualquer momento, como uma presença que se recusava a desaparecer.

Foi então que, no terceiro dia após o encontro no metrô, algo inesperado aconteceu. Ela estava indo para o seu trabalho, atravessando a rua apressada, quando, de repente, ela o viu de novo.

Daniel estava ali, parado em frente a uma pequena livraria, com um livro nas mãos. Ele a viu, e seu rosto se iluminou com um sorriso discreto. Mais uma vez, o mundo ao redor deles pareceu desaparecer. O silêncio entre os dois foi palpável, como se ambos estivessem tentando entender o que estava acontecendo.

Ela deu um sorriso tímido, mas não soube o que dizer. Daniel parecia tão próximo, mas ao mesmo tempo tão distante, como se estivesse em um espaço que só ele podia compreender. Ele então fez o gesto de dar um passo à frente, mas parou antes de falar.

- Helena, certo? - perguntou ele, a voz grave e suave, como se tentasse manter a conversa leve, apesar da tensão no ar.

- Sim, Daniel. - Ela respondeu, sua voz quase um sussurro, sentindo o peso da química entre eles, mas sem palavras suficientes para expressá-la.

Eles ficaram ali, em silêncio por alguns segundos, observando-se. Não havia mais nada a ser dito. O que quer que estivesse acontecendo entre eles não precisava de palavras. A conexão estava ali, óbvia para ambos, e não havia como negar.

Sem mais nada a acrescentar, ele sorriu e acenou com a cabeça, despedindo-se de maneira breve.

- Nos vemos por aí, Helena. - E se afastou, a sensação de algo inacabado pairando no ar.

Helena ficou ali, observando-o se afastar. Ela não conseguia entender o que aquilo significava, mas algo dentro dela sabia que esse não seria o último encontro. A tensão, o desejo não resolvido, estavam crescendo, e ela sentia isso com cada fibra de seu ser.

            
            

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