Aquela que o Don não pôde deixar partir
img img Aquela que o Don não pôde deixar partir img Capítulo 7 Choro
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Capítulo 10 Convidada img
Capítulo 11 Me vender ao diabo img
Capítulo 12 Meu anjo img
Capítulo 13 Monstros a menos img
Capítulo 14 Uma ordem img
Capítulo 15 Um avanço img
Capítulo 16 Não estavam img
Capítulo 17 É diferente img
Capítulo 18 O papai Noel img
Capítulo 19 A visão do céu img
Capítulo 20 Dúvidas img
Capítulo 21 Tudo escuro img
Capítulo 22 Ambulância img
Capítulo 23 Não foi acidente img
Capítulo 24 Defendendo img
Capítulo 25 Comprou img
Capítulo 26 Serva img
Capítulo 27 Namorada img
Capítulo 28 Meditação img
Capítulo 29 Impulso img
Capítulo 30 Quem matou meu pai! img
Capítulo 31 O Don img
Capítulo 32 Arriscando img
Capítulo 33 Duas putas img
Capítulo 34 Traidor img
Capítulo 35 Negociar img
Capítulo 36 Era Mariana Bazzi img
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Capítulo 7 Choro

Capítulo 7

Ezequiel Costa Júnior

Tranquei a porta atrás de mim, ouvindo o som metálico da chave girando na fechadura. Sem olhar de volta, caminhei pelo corredor da casa com o coração pulsando feito um tambor de guerra. Cada passo transbordava minha raiva contida. Meus olhos encontraram os rostos curiosos dos funcionários, todos parados no meio de suas tarefas, fingindo que não viam, mas desejando saber a fofoca.

- Ninguém abre aquela porta - minha voz foi firme.

Luciana, a governanta, hesitou por um instante antes de se aproximar.

- Nem mesmo para levar comida, senhor? A moça parece fraca...

Cerrei os dentes.

- Nada de regalias. Apenas uma sopa. - Vi a dúvida no olhar dela, mas esperava o quê?

"Preparei um jantar inteiro e ela não valorizou, quem sabe a sopa não come." - pensei, passando direto por Luciana sem dar chance de réplica.

Fui até a sala dos fundos e abri a porta com força.

- Chame o Yulssef. Agora.

O funcionário que estava por ali se apressou. Eu respirei fundo, tentando conter o impulso de descontar minha fúria em mais alguém.

Yulssef não demorou a aparecer. Postou-se diante de mim como sempre fazia, sóbrio, silencioso, entendendo o que vinha sem precisar que eu dissesse.

- Traga a Raquel. Agora.

Ele assentiu e saiu, já sabendo do que se tratava. A porra da empregada. A mesma que sempre tenho vontade de enterrar viva, e só não faço porque fiz uma promessa a alguém importante.

Demorou menos de dois minutos até que voltasse com ela. A mulher vinha sendo arrastada pelo braço, a outra mão tentando se desvencilhar, mas sem sucesso. Tentei conter o impulso de partir pra cima dela de imediato, mas só até ela abrir a boca.

- Senhor, eu só...

- Cala essa boca! - avancei, segurando-a pelos cabelos com força. - Quer morrer, é isso?! Quer desafiar as ordens da porra do dono desta casa?!

Ela tentou explicar, balbuciando alguma coisa sobre "pena", "injustiça" e "ela parecia tão frágil".

- Frágil? E você é o quê? Juíza agora? - falei mais alto, puxando o rosto dela pra perto do meu. - Eu te dei uma pequena chance, Raquel. Um espacinho neste inferno. E o que você faz? Fode com tudo! Libertou uma mulher que EU NÃO LIBERTEI! E ainda a colocou em risco, exposta, à mercê de qualquer porco no meio da estrada!

- Eu não queria que ela se ferisse... Ela parecia...

- Ah, você não queria?! - empurrei-a contra a parede. - E EU, POR ACASO, QUERIA VER ELA ASSIM?! EU SALVEI AQUELA MULHER COM ESSAS MÃOS QUE EU USARIA PRA ENTERRAR QUALQUER UM QUE ENCOSTASSE NELA!

A respiração dela estava trêmula, os olhos arregalados.

- Acha que isso aqui é brincadeira? Quer pagar de boazinha? Salvar alguém de mim?! PORQUE NÃO SE SALVA AGORA, CARALHO!?

Soltei os cabelos dela com força, como quem joga fora algo sujo. Me afastei dois passos, sentindo o gosto amargo do desprezo na boca.

- Sabe qual a sorte que você tem? Que eu sou mais paciente do que pareço.

- Senhor, eu... por favor... Sou irmã da Valéria. Há de ter algo aí dentro que lembra disso, que um dia gostou dela.

- Não. Cala a boca. Você não tem o direito de falar da Valéria. - virei o rosto para Yulssef.

- Tire ela da minha frente antes que eu esqueça que ainda preciso dela respirando.

- Algum pedido em especial, Don?

- Entregue ela pra Sara - falei e virei o rosto. Ouvindo as súplicas da infeliz.

- NÃO! SARA NÃO! POR FAVOR, DON!

- Quando voltar pensará mil vezes antes de tomar qualquer decisão estúpida.

Yulssef assentiu, puxando Raquel pelos braços. Ela chorava agora. O tempo de compaixão havia passado.

Fiquei ali, parado, sozinho por um instante. A casa parecia quieta demais.

Ela estava me confundindo. Aquela garota, Maryam, ou como diabos ela se chama.

"Você quer protegê-la ou quer possui-la?"

Não sabia mais. Mas ela era minha. E ninguém mexia com o que era meu. Nem ela mesma, ou não me chamo Ezequiel. Estou cansado dessa merda! Essa ladainha de não poder ter o que quero.

Ouvi duas batidas na porta, era Luciana.

- O que é agora?

- Senhor, ela não quis a sopa.

- Azar o dela, guarde o prato e não leve mais nada.

- Ela parece que não está bem, Don.

- Amanhã estará melhor. Agora me dê licença.

Luciana saiu e respirei fundo. Levantei e comecei a andar de um lado para outro, inquieto. Pensando se talvez ela estivesse passando mal. Por que diabos não aceitou ser examinada pelo médico?

Abri a porta e sem pensar mais nada fui até o quarto dela. Fiquei procurando por ela, preocupado. Estava dormindo.

Parei por um instante, olhando-a deitada sobre o lençol branco, agarrada na manta. Mariana tem uma pele linda, morena iluminada. Me aproximei observando novamente a tatuagem que tem na nuca. Uma rosa vermelha que já me chamou tanta a atenção desde a primeira vez que vi.

Ouvi seu choro baixinho, encostei a mão no seu ombro, mas estava dormindo. Certamente estava tendo um pesadelo.

- Ei! Acorda Mariana! - abriu os olhos assustada - Calma... Só te acordei porque parecia estar sofrendo enquanto sonhava.

Ela puxou a manta se cobrindo ainda mais. Me afastei.

"O que fizeram com você, Maryam?"

Não consegui sair daquele quarto. Sentei na poltrona ao lado, enquanto ela fechava os olhos novamente.

            
            

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