Aquela que o Don não pôde deixar partir
img img Aquela que o Don não pôde deixar partir img Capítulo 8 Uma reação
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Capítulo 10 Convidada img
Capítulo 11 Me vender ao diabo img
Capítulo 12 Meu anjo img
Capítulo 13 Monstros a menos img
Capítulo 14 Uma ordem img
Capítulo 15 Um avanço img
Capítulo 16 Não estavam img
Capítulo 17 É diferente img
Capítulo 18 O papai Noel img
Capítulo 19 A visão do céu img
Capítulo 20 Dúvidas img
Capítulo 21 Tudo escuro img
Capítulo 22 Ambulância img
Capítulo 23 Não foi acidente img
Capítulo 24 Defendendo img
Capítulo 25 Comprou img
Capítulo 26 Serva img
Capítulo 27 Namorada img
Capítulo 28 Meditação img
Capítulo 29 Impulso img
Capítulo 30 Quem matou meu pai! img
Capítulo 31 O Don img
Capítulo 32 Arriscando img
Capítulo 33 Duas putas img
Capítulo 34 Traidor img
Capítulo 35 Negociar img
Capítulo 36 Era Mariana Bazzi img
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Capítulo 8 Uma reação

Capítulo 8

Mariana Bazzi

Acordei assustada. Um barulho suave, quase imperceptível, me tirou do sono. Meus olhos demoraram alguns segundos para se ajustarem à luz suave que entrava pelas frestas da cortina. O quarto ainda estava em silêncio, mas eu sentia que não estava sozinha.

Foi então que o vi. De pé, próximo à porta, Ezequiel me observava. Me encolhi instintivamente na cama, puxando a manta até o queixo. O coração disparou. Meu corpo inteiro reagiu com tensão, como se esperasse um golpe, um grito, qualquer coisa.

- Bom dia - ele disse, com a voz baixa. - Dormiu bem?

- Sim... - respondi, quase num sussurro. Minhas mãos tremiam sob o cobertor.

Ele se aproximou devagar. Ainda assim, cada passo dele parecia um trovão nos meus ouvidos.

- Chamei o médico novamente. Gostaria que você fizesse alguns exames. Está muito pálida, quase não come. Pode ser algo sério.

- Não. - minha resposta foi automática, mais firme do que eu esperava. - Homem nenhum vai encostar em mim.

Ezequiel parou. Me encarou por um momento, com aquela expressão de quem analisa tudo, como se estivesse desmontando meus segredos.

- Você tem medo de homens ou de médicos? - perguntou, com uma calma estranha na voz. Eu abaixei o olhar, assenti lentamente. - Se eu trouxer uma mulher... você deixa te examinar?

Demorei alguns segundos. Então, balancei a cabeça afirmativamente, era o máximo que eu podia fazer.

Ele respirou fundo, desviando o olhar por um instante.

- Vou pensar no seu caso. Por ora, coma seu café da manhã. Se não comer, Luciana vai devolver tudo para a cozinha e você só come no almoço.

Sem esperar resposta, virou as costas e saiu, fechando a porta atrás de si.

Assim que fiquei sozinha, corri até a bandeja. Estava faminta. A boca salivava só com o cheiro dos pães quentinhos. Peguei um com as mãos trêmulas, desesperada, como um bicho que passou tempo demais preso.

Estavam deliciosos. Por um instante, quase esqueci onde estava. Tomei o suco, o chá e comi os bolinhos. Fazia muito tempo que não comia assim.

Horas depois, a porta abriu novamente. Uma mulher entrou. Vestia branco. Cabelos presos, rosto sereno.

- Mariana? Sou a doutora Samira. Posso te examinar?

Apenas a encarei por alguns segundos. Ela parecia... humana. Nada como os homens que conheci. Respirei fundo e assenti.

Ela pediu com delicadeza para que eu tirasse a parte de cima. Minhas mãos hesitaram. A vergonha e o medo colidiram dentro de mim. Comecei a chorar antes mesmo de levantar a blusa.

- Por que está chorando, querida? - ela perguntou, ajoelhando-se ao meu lado na cama.

- Estou tão cansada... Exausta dessa vida, de ficar roxa. De sentir dores. O que ele te pediu para fazer comigo? - minha voz saiu trêmula, cheia de mágoa e cansaço.

Doutora Samira parou. Os olhos dela se arregalaram ao ver as marcas espalhadas pelos meus braços, pela barriga, pelos seios. Ela não disse nada por um tempo. Apenas me cobriu de novo com delicadeza, após visualizar o que queria.

- Ninguém me pediu para fazer nada além de verificar se está bem. E ninguém vai te machucar agora, Mariana. Não comigo aqui. Você consegue confiar em mim?

As palavras dela me fizeram desabar de vez. Me encolhi nos braços dela como uma criança. Pela primeira vez em muito tempo, alguém me tocava com cuidado.

E por um momento... eu quis acreditar.

- Eles sempre me encontram. Eu nunca tenho para onde fugir, não sei o que fazer - chorei.

- Eles quem, minha querida?

- Homens. Todos eles. Não suporto ouvir voz masculina. Chego a sentir náuseas. - Fui mostrando as marcas das coxas - Estão roxas, mas aqui dentro é onde mais dói. - bati a mão no peito - É uma dor insuportável, eterna. Nunca vou conseguir arrancar de dentro de mim.

- Faz tempo que sente isso? Tipo, mais de seis meses?

- Sim, bastante tempo. Anos na verdade. Homens encostaram em mim a força, por isso essas manchas.

- Calma, vai passar. Você vai conseguir lidar com isso. Precisa enfrentar essa dor e tentar esquecer. Está segura agora. Como isso tudo aconteceu?

Contei um pouco da minha vida para ela, confesso que fiquei melhor. Ela prescreveu medicamento e pomadas, consegui descansar depois de tanto constrangimento.

***

Luciana apareceu no quarto.

- O Don a espera para o almoço. Eu trouxe uma roupa limpa. Sugiro que se comporte dessa vez. Quem sabe não vai embora.

- Está bem - respondi imediatamente.

Mesmo sem nenhuma vontade, segurei a roupa que ela trouxe. Tomei outro banho, deixei os cabelos soltos.

Dessa vez tentaria de outra forma. Se era uma refeição que abriria as portas para que eu estivesse livre, eu lhe daria.

Cheguei ao redor da mesa, inquieta. Ele estava sentado na ponta, a mesma mulher bonita de ontem estava ao lado dele, sentada ao lado de Yulssef.

- Sente-se aqui do meu lado, Maryam.

- Me chamo Mariana, Don. Não gosto quando me chama assim.

- Que seja. Em Árabe é Maryam, então tanto faz, é seu nome - nem questionei, só queria ir embora.

Sentei-me como ele pediu e vi muita comida boa na mesa. Fui me servir, mas...

- Espere... - ele disse enquanto segurava meu prato - Hoje vou servir você. - Arregalei os olhos. Era raro uma atitude como essa na minha vida.

Fiquei olhando enquanto ele servia tanta coisa com um sorriso discreto nos lábios e controlando as mãos trêmulas para não derrubar nada. Ezequiel tem uma boca linda. Seus lábios têm uma cor viva, a barba é discreta e seu cabelo charmoso. Um homem realmente atraente, embora me faça tremer o tempo inteiro.

Alguém pigarreou e imediatamente olhei para o lado vendo a moça me matar com o olhar.

- Se continuar olhando assim para o Don vai cortar a garganta dele - fiquei sem graça, me ajeitei na cadeira, imediatamente.

- Yulssef. - Ezequiel chamou.

- Sim Don.

- Acompanhe a Sara até a cozinha por favor. Quando estou com visitas não suporto ser interrompido.

- Mas eu sempre almocei aq... - ela tentou falar, mas bastou um olhar de Ezequiel e a moça se calou - Com licença.

Ela e o homem se levantaram e fiquei sozinha com o demônio de boca bonita.

- Se alguém fizer qualquer comentário que te desagrade pode me avisar. É minha convidada - colocou a mão sobre a minha, mas tirei tão rápido que derrubei os talheres no chão.

- Me desculpa. E... Eu...

- Relaxe, eu não mordo.

Sem graça, comecei a comer rapidamente. Olhava pra ele o tempo todo, vendo se fazia algum movimento, se tentava algo. Tudo que ele colocou parecia bom e não perdi tempo, mesmo sentindo pouco do gosto da comida pelo nervosismo. Vi que ele me olhava, mas eu só queria comer e cumprir com o combinado.

- Vejo que estava com fome.

- Estou liberada? Posso ir embora? - perguntei imediatamente. Ele mudou o humor.

- Você tem como se defender lá fora? Porque aqui está segura.

- Preciso tentar. Ir atrás das minhas irmãs.

- Não acho uma boa ideia.

- Não vai me deixar ir? - me encarou por alguns segundos.

- Estive procurando por você, Mariana. Não vou te deixar ir e correr riscos.

- Me envie para longe. Não é isso que faz?

- Eu não vou fazer isso! Você fica.

- Você mente o tempo todo. Disse que me deixaria, agora não quer. O que acontece com você? - ele se levantou e veio na minha direção. Quando segurou meus cotovelos entrei em desespero.

- Eu só quero você, Mariana! Não consigo pensar em outra coisa.

- Me solta!

- Não estou segurando, só estou me aproximando. Não é porque eu seguro, porque eu beijo sua boca, que estou te forçando. Só estou esperando por uma reação positiva, qualquer coisa.

Ele esticou a mão para mim e ficou me olhando.

- Segura você. Não estou forçando nada.

Fiquei olhando para a mão e para o rosto dele, mas eu não conseguia reagir. Senti meu corpo começar a tremer. Então ele me puxou e em pé, soltei dele.

Ele chegou bem perto, quase encostou em mim. Sua testa estava na altura da minha. Não posso negar que senti algo percorrendo meu corpo inteiro, mas também senti o medo ali presente e as náuseas que começaram a me deixar tonta.

- Não quero te machucar Mariana. Só estou sentindo seu cheiro, sua respiração. Me deixe te sentir só por um momento?

Quando senti os lábios dele encostando nos meus, agi no modo automático e o empurrei. Saí correndo em seguida. Era demais pra mim.

            
            

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