img img img Capítulo 5 Chuva Sobre Ruínas
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Capítulo 9 A Primeira Vitória img
Capítulo 10 O Beijo Queimou Mais Que o Vinho img
Capítulo 11 A Noiva Cativa img
Capítulo 12 Bem-vinda à Jaula img
Capítulo 13 A Bastarda e o Herdeiro img
Capítulo 14 No Salto e na Lâmina img
Capítulo 15 Planejando a Guerra de Vestido img
Capítulo 16 Entre Sorrisos e Facas img
Capítulo 17 A Bastarda e as Cobras img
Capítulo 18 A Arte de Sobreviver ao Inferno img
Capítulo 19 Vestidos, Veneno e Verdades img
Capítulo 20 O Eco da Bastarda img
Capítulo 21 Bebê de Ferro img
Capítulo 22 Quarto Compartilhado, Gaiola de Ouro img
Capítulo 23 Pesadelos em Véu Branco img
Capítulo 24 Baile de Espinhos img
Capítulo 25 Cala a Boca e Sorria img
Capítulo 26 A Marca da Besta img
Capítulo 27 Poder em Letra Cursiva img
Capítulo 28 O Preço de Ter Voz img
Capítulo 29 A Bastarda de Aluguel img
Capítulo 30 Mentiras ao Vivo img
Capítulo 31 Não se Toca no que é Meu img
Capítulo 32 Silêncio sob Vigilância img
Capítulo 33 Quando a Porta se Abre Errado img
Capítulo 34 Onde a Dor Começa img
Capítulo 35 O Anjo Tem Olhos Verdes img
Capítulo 36 O Vulto que Sorri com Elegância img
Capítulo 37 Toda Herança É uma Maldição img
Capítulo 38 Família é Onde se Cavam as Covas img
Capítulo 39 As Mulheres Que Sobrevivem img
Capítulo 40 O Lado Suave do Predador img
Capítulo 41 Os Alvos Também Usam Véu img
Capítulo 42 Confidências e Costuras img
Capítulo 43 Entre Flores e Promessas img
Capítulo 44 Agora Somos Dois img
Capítulo 45 Uma Casa. Um Plano. Uma Ameaça. img
Capítulo 46 Entre danças e despedidas img
Capítulo 47 Confiança Quebra em Silêncio img
Capítulo 48 Quando Ele Não Estava Lá img
Capítulo 49 Nem Monstro, Nem Herói img
Capítulo 50 Não Pedi a Bênção img
Capítulo 51 Segredos Sob o Concreto img
Capítulo 52 Mesmo no Inferno img
Capítulo 53 Entre Lençóis e Lâminas img
Capítulo 54 A Língua que Não Deveria Falar img
Capítulo 55 Os Fantasmas Novos img
Capítulo 56 A Imagem Que Se Espera Ver img
Capítulo 57 Rostos Que Precisam Ser Usados img
Capítulo 58 A Nova Geração dos Bianchi img
Capítulo 59 O Espetáculo Começou img
Capítulo 60 Sorrisos Não Duram Para Sempre img
Capítulo 61 O Palco Dourado img
Capítulo 62 Brindes com Veneno img
Capítulo 63 Entre Irmãs, Espinhos img
Capítulo 64 O Palco da Elegância Armadilhada img
Capítulo 65 Lances por Legado img
Capítulo 66 La Madre img
Capítulo 67 O Começo do Fim img
Capítulo 68 Com Sangue nas Mãos, Ainda em Pé img
Capítulo 69 Com Sangue nos Braços e Fúria no Peito img
Capítulo 70 Meu Mundo Está Atrás Daquela Porta img
Capítulo 71 O Som Mais Bonito img
Capítulo 72 Entre fios e promessas img
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Capítulo 5 Chuva Sobre Ruínas

POV ISADORA

A caixa branca sobre a pia parecia uma bomba-relógio.

A chuva batia nas telhas com uma cadência hipnótica e cruel, como se marcasse os segundos até o fim de tudo. O banheiro dos fundos era frio, pequeno e mal iluminado, mas oferecia a única privacidade que Isadora encontrara desde o anúncio devastador na noite anterior.

Estava descalça, o cabelo preso às pressas e as mãos úmidas de suor, embora sentisse frio. O teste ainda estava virado, o visor contra a parede, como se ela quisesse fingir que não dependia daquilo. Que não fosse real.

Se for negativo, eu respiro. Finjo que ontem nunca aconteceu. Esqueço que acreditei em alguém como Enzo.

O coração martelava alto como se quisesse sair pela garganta.

Se for positivo... eu...

Ela não conseguiu terminar o pensamento. Só sabia que não estava pronta.

O tempo pareceu parar quando estendeu a mão e virou o teste devagar, os olhos se ajustando ao visor digital ainda embaçado pela umidade do ambiente.

Duas linhas.

Nítidas. Cruéis. Inquestionáveis.

Isadora deixou o teste escorregar da mão.

Sentou no chão de azulejos gelados, as costas encostadas na parede, o peito colapsando num silêncio aterrador.

Não chorou. Nem um soluço.

Estava em choque. Os olhos arregalados encaravam o vazio como se quisessem sair dali, escapar do próprio corpo.

Estou grávida.

A ideia ecoou como um trovão abafado. Ela repetiu mentalmente, mas a realidade não parecia se encaixar.

"Estou grávida."

Do homem que a ignorou.

Do homem que mentiu - e agora beijava outra, na frente de todos.

As mãos dela buscaram o celular com movimentos quase automáticos. Abriu o chat com Enzo. A última mensagem dele ainda estava ali, seca, simples, antes do desaparecimento: "Descanse bem."

Ela digitou:

> "Preciso falar com você. É urgente."

Esperou. O ícone azul apareceu. Visualizado.

E então, sumiu. Bloqueado.

Tentou ligar. Uma. Duas vezes. A chamada não completava. Voz de operadora. Silêncio. Rejeição.

O celular escorregou das mãos e bateu no chão com um som seco, um estalo que parecia pequeno demais para o tamanho da dor que reverberava dentro dela.

Ela ficou ali, por longos minutos. O silêncio preenchido apenas pelo barulho da chuva e da respiração curta.

***

Vestiu qualquer roupa. Um casaco velho, chinelos de dedo. Não penteou o cabelo. Mal enxergava o caminho à frente.

Saiu pela lateral da casa sem avisar ninguém. Os pingos de chuva grudavam nos cílios e escorriam pelo pescoço, gelados, como se quisessem acordá-la daquele pesadelo.

Caminhou até uma farmácia de bairro, uma daquelas discretas que quase ninguém notava. As prateleiras cheiravam a desinfetante e mofo. O chão rangia. A atendente nem levantou o olhar.

Isadora estendeu o dinheiro com dedos trêmulos e comprou outro teste.

Sabia que o primeiro já bastava. Mas precisava da confirmação. Queria algo que dissesse: foi um erro.

Saiu com a sacola em mãos e se encolheu sob a marquise da frente, tentando se proteger da chuva fina. Respirava com dificuldade. A cabeça girava.

Foi então que o corpo dela colidiu com outro.

- Me desculpe - murmurou automaticamente, abaixando o olhar.

Uma mão grande segurou seu braço, evitando que ela tropeçasse.

O toque não foi agressivo. Mas foi firme.

Ela ergueu os olhos e encontrou um homem que parecia ter saído de um pesadelo elegante.

Terno escuro impecável. Cabelos castanhos penteados com precisão. Mas o que mais a atingiu foram os olhos - cinza-escuros, quase sem brilho, como aço molhado. Olhos que não pareciam apenas olhar. Pareciam avaliar. Pesar. Sentenciar.

Isadora se encolheu um pouco, o instinto gritando sem motivo claro.

- Você deveria tomar mais cuidado. - A voz dele era baixa, grave, com um tom de aviso, não de gentileza.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a soltou e entrou na farmácia como se o esbarrão nunca tivesse acontecido.

Isadora ficou ali, parada, a respiração presa.

Ela não sabia quem ele era. Mas o calafrio que subiu pela espinha deixou claro: aquele homem não era alguém comum.

***

Clara estava na cozinha quando Isadora voltou.

- Meu Deus, menina. Você tá encharcada! Onde você foi desse jeito?

- Eu... só precisava ver uma coisa - respondeu, desviando o olhar.

Subiu direto para o quarto, com passos que vacilavam. Fechou a porta, sentou na cama e guardou o segundo teste na gaveta do criado-mudo. Ainda não queria vê-lo. Ainda não conseguia aceitar.

Deitou, encolhida, os olhos fixos no teto. O ventilador fazia um barulho irregular. A chuva agora era apenas um som distante.

A frase de Enzo ecoou na mente:

"Ninguém nunca vai machucar você de novo."

Mentira.

O enjoo veio outra vez. Correu até o banheiro, mas dessa vez, vomitou apenas ar - e lágrimas.

***

No fim da tarde, vestida com uma roupa seca, o rosto lavado, o cabelo preso com mais firmeza do que o coração, Isadora desceu as escadas.

Encontrou Clara perto da lavanderia.

- Preciso ir até o escritório do meu pai. Agora.

Clara a olhou, surpresa. Quase preocupada.

- Aconteceu alguma coisa?

Isadora respirou fundo, firme.

- Só preciso saber se ele ainda é capaz de fazer alguma coisa por mim.

Não esperou resposta. Caminhou até o corredor que daria para o escritório do pai, cada passo mais firme que o anterior.

Ela ainda não sabia como Eduardo reagiria. Mas sabia que aquilo que carregava dentro de si - aquela vida nova e frágil - ia mudar tudo.

Ou destruir o pouco que ainda restava.

            
            

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