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Capítulo 6 Mal estar matinal

Capítulo 7 Preocupações


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Júlia, Janet e Donnatela estavam dentro do carro, indo em direção ao centro da cidade aparentemente calma e acometida pelo frio maioria do tempo. Isso não era um incomodo para as duas garotas, lidaram com isso a vida toda, ainda muito novas quando moravam com a mãe e depois quando foram sequestradas, pois não tinham roupas para se esquentar.
Donatela queria aproveitar o passeio para criar um pouco mais de intimidade com as irmãs, queria tornar-se amiga de ambas e saber mais sobre seus gostos, preferências, não apenas a parte triste. Ela sabia o que todos também sabiam, mas queria ir mais a fundo, descobrir exatamente tudo sobre a vida delas, afinal, seu desejo final era ver Júlia sendo sua nora. Desde que a viu pela primeira vez, sabia que era uma boa moça, apenas sofreu pelas crueldades que a vida lhe reservou, mesmo não merecendo tanto.
Ambas as garotas encaravam as residências pelas quais passavam distanciando-se cada vez mais da casa que atualmente residiam. Júlia se sentia apreensiva por sair em público, amedrontada de que pudesse ser descoberta e sequestrada novamente, agora colocando também a vida de Donatela em risco, no entanto, ela tentava não transparecer tanto pessimismo, pois sua irmã estava animada para as compras e Donatela tinha apenas boas intenções. Janet, por sua vez, encarava o caminho com curiosidade, as casas daquele país eram diferentes das que conhecera nos Estados Unidos, nunca havia saído sequer de sua cidade, era muita novidade e a garota apreciava cada detalhe, gravando em sua mente. Ela sabia que algum dia teria de voltar para casa e, mesmo tendo gostado tanto da Itália, nada se comparava à estar ao lado de sua mãe recebendo seu amor.
Donatela encarou as duas através do espelho retrovisor de interno de seu volvo preto. Elas pareciam alheias a tudo, cada uma perdida em seu próprio pensamento, vagando por seu mundo particular. Sorriu. Quando era nova também gostava de deixar a imaginação fluir, recordava lembranças boas, outras não muito boas, mas principalmente imaginava histórias onde seu príncipe encantado a vinha buscar em seu cavalo branco, matando o dragão que a prendia em uma torre. Sim, ela era mais uma fã de a história de Shrek, pedia todos os dias para sua mãe a ler em seu leito, quando estava prestes a dormir.
- E então meninas, vocês foram obrigadas a interromper o ensino escolar em que ano?- perguntou curiosa.
- Bom, eu parei na sétima série.- Janet respondeu, ela adorava conversar, diferente de Júlia que era mais calada.- Já Júlia estava no último ano quando tudo aconteceu.
As últimas palavras de Janet causaram um silêncio constrangedor no carro por alguns segundos. Era difícil imaginar por tantas coisas que deveriam ter passado durante seu cativeiro, Dona não conseguiria imaginar tanta dor no lugar de sua mãe, ao perceber que suas duas filhas tivessem sumido, ela teria a todo custo tentado as encontrar. A dor dilacerante de não saber onde está o filho rasgando seu peito misturada à esperança de um dia rever seus olhos, tocar seus cabelos, alisar sua pele. A senhora imaginou como Lindsay deveria estar sofrendo, abandonada naquela casa, acometida de uma doença terrível e sem a ajuda de suas únicas filhas. Ela sequer sabia onde estavam as garotas, ou pelo que poderiam estar passando. A incerteza de que seus filhos estão vivos deve ser triste e cortante.
Júlia também sentiu as palavras da irmã pesarem em seu coração, pois foi quem mais sofreu entre as duas. A garota tinha que sentir Enzo tocar em seu corpo, ultrapassando os limites que deveriam ser proibidos, ela sequer poderia reagir ou sua irmã sofreria as consequências. Ela não se importava com a dor física, era o de menos, mas o que mais temia enquanto estava trancada era ter que ver sua irmã sofrendo por causa de sua rebeldia, Enzo a ameaçava todos os dias com isso, dizendo que se tentasse fugir, ele mataria sua irmã bem em sua frente o mais devagar que pudesse, torturando-as. Maldito o dia que tocaram seus pés no estabelecimento que pertencia àquele maldito mafioso, maldito o dia que pensaram ser verdade aquele desfile, maldita a hora que concordou com Janet a ir para lá. O enjôo mais uma vez lhe acometeu, fazendo-a afastar aqueles pensamentos, sentia que poderia vomitar a qualquer hora. Sentia asco de Enzo.
- Vocês são de que lugar dos Estados Unidos?
Dona tentou puxar assunto com as meninas. Imaginava que aquele silêncio era como gritos nas mentes delas e iria fazer de tudo para que não pensassem mais em seu passado.
- Nova Iorque.- Janet mais uma vez respondeu.- Lá as estações são diferentes daqui. Geralmente são bem rigorosas e nós sabemos quando é frio e quando é quente.
- Sim, eu morei lá quando me envolvi em um caso. Não sei se Berti comentou, mas fui espiã e investigadora assim como meu filho. Ele se encantou pela profissão que trabalha atualmente por minha causa.
- Não, ele não comentou.
Elas já estavam bem próximas da cidade, iriam passear por algumas lojas, fazer algumas compras, talvez tivessem tempo de passar em um shopping, apenas para fazer as garotas se distrair, Dona não queria ver uma só lágrima caindo de seus olhos enquanto estivessem morando com ela. Imaginava o quão difícil era viver com medo de um dia voltar para seu pior pesadelo e ficar fugindo como um rato, de um gato, pensou que poderiam fugir pelo resto de suas vidas, talvez não voltando mais a saber o que era a paz. Além de tudo estavam longe da mãe, o que poderia fazê-las se sentir mais vulneráveis, Donatela não queria substituir a mulher que lhes deu a luz, mas se esforçaria para pelo menos preencher uma parte do enorme vazio que ambas estavam sentindo.
Encarou Júlia, ainda distante em seus pensamentos, parecia recordar as piores cenas de sua vida. A mulher se lamentou. Tão novas, mas já haviam passado por tantas coisas ruins e ainda assim a vida não pretendia aliviar. Bertiolli havia contado que por causa do assassinato em legítima defesa que a mais velha cometeu, a polícia da Itália estava tentando negociar com a polícia dos Estados Unidos, para que a garota ficasse presa por pelo menos um ano, pagando pelo tal crime e só então seria deportada de volta para seu país. Era um caso de muita indignação, levando em conta que ela havia sido sequestrada e mantida em cárcere privado por três longos anos, adicionando a isso as tantas vezes que havia sido abusada pelo mafioso que talvez nunca seria pego. Enzo provavelmente nunca pagaria por seus tantos crimes, afinal, ele possuía muito poder na Itália, tanto que grande parte da polícia não dava um passo sem ele mandar, era quem estava por trás de muitas coisas em seu país.
Estacionou seu carro em uma vaga assim que chegaram, parando imediatamente e se virando para trás após ter desligado o veículo. A atenção das duas garotas foram direcionadas para Donatela.
- Chegamos.- Sorriu.
- Que legal!- Janet exclamou.- Já podemos ir?
Sua mão já estava na maçaneta do carro, prestes a abrir a porta quando Dona chamou sua atenção.
- Espere.- Janet voltou.- Garotas, quero garantir sua segurança primeiro.- Se voltou para o banco do carona, pegando sua bolsa e tirando de lá um par de óculos escuros e um par de bonés.- Peguem isto.- Ofereceu.- São os disfarces de vocês, sei que não é muito, mas acho melhor nos prevenir.
Júlia e Janet colocaram seus disfarces sem questionar, logo após saíram do carro. A mais velha sentiu um arrepio percorrer sua espinha, sentiu que não deveria estar naquele lugar, que a qualquer momento Enzo poderia aparecer e a levar para a boate. Imaginou as piores atrocidades caso fosse pega novamente, o homem iria cumprir suas promessas de matar sua irmã bem em sua frente. Olhou ao redor, temendo estar sendo vigiada, não vendo ninguém, ainda assim era muito arriscado terem saído da fazenda, alguém poderia as seguir até lá, descobrindo seu esconderijo.
- Júlia, vamos?
Ela encarou Donatela, já ao lado de Janet enquanto a encarava, esperando-a na calçada com um sorriso fraco nos lábios. Caminhou até elas em silêncio, ainda sentindo que não era uma boa ideia estar ali. Seu corpo se arrepiava por inteiro não só pelo frio, mas pelo medo. Sim, Júlia temia e muito seu inimigo que era poderoso e tinha quem quisesse ao seu lado, podendo se infiltrar até entre as autoridades, se assim o desejasse.
Janet como sempre estava animada, não se importava muito em ser vista em público ou encontrada por eles, apesar de ter muito medo. Ela não sofreu como a irmã, não guardava traumas como ela, o que a fazia não entender muito pelo que Júlia passava. Enquanto caminhava, desejava se aproximar logo das lojas e comprar muitas coisas, afinal, nunca havia feito compras de roupas em toda a sua vida. Se fizessem isso, morreriam de fome.
- O que vocês querem primeiro?- Donatela chamou a atenção das garotas.- Podemos, sei lá, comer, comprar ingressos e ir ao cinema, ou fazer compras, vocês decidem.
- Compras primeiro!- Janet exclamou.- Mas eu também adoraria comer alguma coisa depois.
- Ok, compras primeiro então.
Elas passearam por várias lojas, comprando algumas roupas casuais, outras para festa, se preparando para todos os tipos de ocasiões, pois segundo Donatela elas nunca saberiam quando um dia iriam precisar de tudo o que estavam comprando. Para Júlia era um exagero ter tantas roupas para se usar, ela sobreviveu com muito pouco, as que já tinha em seu guarda-roupas já eram mais que suficientes, mas a mãe de Bertiolli insistiu para que a garota comprasse algo para si. Depois de entrarem em tantas lojas, não sentiu que deveria comprar nada, enquanto que Janet já tinha seus braços cheios de tudo o que queria, até uma mochila e bolsa a garota comprou, tudo isso bancado por Donatela que não economizava em nada com as irmãs. Elas caminhavam pelas ruas do centro quando Júlia finalmente viu algo que a agradou bastante, mas não abriu sua boca, ela apenas ficou observando o vestido preto simples com alças decoradas e uma fenda que ia até um pouco acima do joelho na vitrine, enquanto Janet e Donatela conversavam sobre o vestido ao lado.
- Você gostou?
Dona tocou seu ombro. Ela a encarou brevemente com um sorriso singular nos lábios. Apertou as mãos suadas e voltou a encarar a peça que caía perfeitamente no manequim. Balançou a cabeça positivamente.
- É lindo.
- Perfeito!- A mulher se animou.- Então nós vamos comprar!
Donatela se sentia feliz por finalmente encontrar algo que agradava Júlia e não iria desistir de comprar a peça para a garota.
- O que? Não!- Se sentiu envergonhada.- Você já comprou tanto para minha irmã, agradeço de coração pelo que está fazendo, mas não seria justo gastar mais dinheiro com roupas para mim.
A mulher agarrou sua mão, a fim de levar para dentro da loja, enquanto falava:
- Imagine!- Contestou.- É um prazer para mim ter a companhia de vocês duas e comprar roupas não é nada. Todas nós, mulheres, precisamos no sentir lindas e confortáveis.- Abriu a porta de vidro do estabelecimento.- Além do mais você não comprou nenhuma roupa do seu gosto e eu quero te dar algo que goste de verdade.
Elas já estavam no interior da loja. Júlia se sentiu constrangida ao se deparar com uma loja tão chique de alto nível, enquanto ela era apenas uma garota de classe muito baixa. Era como ser um patinho feio, fora de seu lugar, no meio doa crocodilos violentos e selvagens. Um ambiente completamente fora de sua zona de conforto. Ela arrumou o boné em sua cabeça, mas se deixou tirar os óculos de seu rosto. O dia lá fora estava nublado, mas usava aqueles acessórios como seus disfarces, ela só queria se sentir um pouco mais livre, mas o medo de ser reconhecida sobressaía. Júlia viu Donatela andar pela loja como se fosse sua casa, a senhora estava acostumada com ambientes cheios de riqueza como aquele, afinal, era o seu ambiente. As garotas a seguiam.
- Olá, posso ajudá-las?- Disse em italiano.
Uma moça de aproximadamente uns trinta anos, muito bem vestida se aproximou delas com um sorriso moderado em seu rosto. Se uniforme era um vestido vinho que ia até os joelhos, ela tinha um salto médio em seus pés e um nome bordado na altura de seu busto: Catarina. Ela não possuía adornos ou brincos em seu corpo, mas sua elegância ainda era bem marcante. Catarina não encarou nenhuma das meninas ao lado de Donatela, ela sabia que aquelas meninas não eram da mesma classe social da mulher, talvez ela estivesse fazendo uma boa ação para duas desconhecidas. Sentiu sua garganta amargar, não gostava quando pessoas de classe mais baixas adentravam a loja, mas a mulher se esquecia que era apenas uma funcionária que dependia daquele emprego para sustentar o filho.
- Sabe falar inglês?- Perguntou Donatela.
- Sim, senhora.
- Ótimo, então fale.- Ela se virou para os vestidos, dando uma olhada em cada um, sem se importar muito com a presença da funcionária.- Minhas meninas não sabem falar nossa língua, seria ótimo que elas entendessem o que falamos.
Donatela pediu a mulher que encontrasse o tal vestido que havia visto na vitrine. Catarina logo se apressou ao pegar um número que coubesse na senhora, mas voltou logo, pois naquela manhã estava sozinha e não queria deixar a loja sob o "risco" de um furto, vindo das duas desconhecidas, acompanhantes da senhora elegante.
- Aqui está.
Ela se aproximou de onde as três estavam sentadas, conversando. Donatela se levantou e foi até o vestiário feminino. Enquanto isso, Júlia se levantou e caminhou até o tal vestido que havia visto na vitrine, agora haviam várias peças dele, penduradas em um canto do lado de dentro. Ela procurava pelos cabides qual seria seu número atual, pois havia perdido algum peso desde que esteve em cativeiro. Suspirou, imaginando como ficaria em uma peça como aquela, nunca havia vestido um tecido como aquele em toda a sua vida. As roupas que sempre teve eram jeans e raros moletons velhos e rasgados, os quais guardava para ir à escola todos os dias.
- Estava observando vocês do lado de fora.- Catarina se aproximou, deixando Janet sentada.- Você gostou mesmo do vestido da vitrine, não é?
Júlia se virou para encarar a atendente da loja de roupas. Ela mantinha sua postura seria e elegante enquanto conversava com a garota. Inocentemente Júlia sorriu, queria muito saber como ficaria a peça em seu corpo.
- Sim. É lindo.
Catarina estreitou seus olhos para a garota.
- Olha, se fosse você eu desistiria.- Riu debochada.- Esse vestido é alta costura e nem de longe ficaria bom em você.
- Mas eu gostei dele...
- Olha para você.- Mediu-a.- Tem coisas que não são para certo tipos de pessoas.- Cruzou os braços.- Vê-se de longe que vocês duas e aquela senhora não tem nada a ver. Ela deve estar fazendo uma caridade, não é possível que se conheçam.- Se virou para voltar.- Espero que não insista.
Catarina se virou no momento em que Donatela apareceu com o vestido em seu corpo, a senhora subiu em um mini palco em formato de esfera e se virou para encarar como o vestido ficaria em si, na frente dos espelhos. A vendedora se aproximou da senhora e a encheu de elogios, seguidos de Janet que também havia gostado muito de como Donatela havia ficado no tal vestido. Júlia as encarou de longe, sentindo seus olhos se encher de lágrimas, mas não iria ceder ao choro. Controlou-se enquanto esperava a próxima ação de Donatela em relação ao tal vestido. Ela acabou ficando com ele e voltou para o vestiário a fim de o tirar, quando voltou, já com a roupa original, Júlia estava novamente sentada no mesmo lugar, ao lado da irmã e a esperavam para ir embora. As irmãs se levantaram assim que a viram.
- Vamos?- Júlia chamou.
Juntou as sobrancelhas. Há pouco havia convencido a menina de experimentar o vestido preto que tanto gostou e em segundos ela estava apressada para ir embora.
- Mas e o seu vestido?
- Desisti, acho que não ficaria bom em mim.
- Como não?- Donatela insistiu.- Já viu como você é linda, querida? Qualquer coisa ficaria bom em você.
Júlia encarou a vendedora por breves segundos, antes de se viraram novamente para Donatela. Foram breves segundo quase que explicativos para a senhora que, compreendeu que enquanto estava no vestiário colocando seu vestido havia acontecido algo.
- Não o quero mais.- Deu um passo em direção ao caixa.- Podemos ir?
- Júlia, aconteceu alguma coisa?- Encarou Catarina, que apenas sorriu.- Sabe que pode me contar, não sabe?
- Não aconteceu nada.
- Tem certeza?
- Sim.
Não muito convencida Donatela foi até o caixa e pagou por seu vestido, desapontada por Júlia ter negado seu presente para ela. Quando saíram da loja ela perguntou a Janet se havia presenciado algo que explicasse a mudança repentina de opinião de sua irmã, mas Janet não havia percebido nada de errado, afinal, não estava próxima o suficiente para ter escutado o que as duas haviam conversado.
Não muito depois, já haviam terminado suas compras, era próximo do horário do almoço e as três já sentiam seus estômagos ranger, então decidiram finalmente parar em uma lanchonete e tomar café com alguns bolinhos e croissants, enquanto conversavam. Donna descobriu muitas coisas sobre Júlia durante essa conversa na lanchonete, o que a deixou ainda mais animada em relação a ela. Era uma garota simples, não teve muito na vida, mas valorizava muito o que tinha e não negava seus princípios por dinheiro. Seu coração puro e sincero agradou e muito aquela mãe que apenas queria o melhor para o filho. Estava disposta a fazer Matarazzo esquecer seus traumas, medos e principalmente Antonella, assim seria também com Júlia que tinha medo de muitas coisas e traumas à beça.
Janet estava toda animada com suas roupas novas e não parava de falar sobre como gostou de ter feito o passeio na companhia de sua irmã e Donatela, ela estava realmente feliz e foi isso o que deixou Júlia também alegre, apesar do incômodo na loja a pouco. Ainda assim ela estava em estado de alerta, afinal, estavam em um ambiente público, precisava ter cautela para que ninguém reconhecesse aquelas que fugiram do cativeiro. Júlia sabia que algumas pessoas desconfiavam delas pelos estranhos olhares que recebia de alguns, por fim decidiu pedir para Donatela as levar para casa, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a reportagem estava passando na tela da televisão da cafeteria. Era sobre as únicas duas garotas que conseguiram escapar da máfia Italiana, a máfia de Enzo. Todos pararam para escutar, afinal, há pouco estava repercutindo os rostos das duas para que quem as visse reconhecesse de imediato. A repórter dizia que quem encontrasse as meninas perdidas, iria ganhar uma comissão muito generosa do governo, aquilo deixou Júlia nauseada, ela sabia que não era apenas o dedo do governo neste desespero de as encontrar
Dona lhe lançou um olhar cúmplice e então enquanto todos estavam com suas atenções na tela, elas se levantaram. A senhora deixou uma nota que pagaria por seus pedidos em cima da mesa e elas se retiraram sorrateiramente do local, tendo a seu favor estar perto da porta de saída. Respirou fundo assim que saiu do estabelecimento andando rapidamente na direção do carro.
Não foram muito longe da lanchonete quando Júlia, que estava um pouco mais atrás de Donatela e Janet, sentiu quando seu braço foi bruscamente puxado para trás. Fechou os olhos por alguns segundos, tendo a certeza de que havia sido reconhecida mesmo com o boné e seu óculos escuros, voltou a abrí-los. Era um ruivo de olhos negros e sorriso vitorioso que lhe tirou o chapéu com brutalidade assim que seus olhos bateram no rosto da garota e com a força o óculos acabou caindo.
- Eu sabia que era você.- exclamou o homem.- Você vem comigo, belezinha.
Ele levou uma lata de cerveja na boca dando o último gole em sua bebida e depois a jogou ali no chão da calçada mesmo. Donatela estava atenta aos próximos movimentos do homem, colocou Janet atrás de si e encarou-o atentamente.
- Senhor, elas estão comigo. Peço que solte-a.
- Me obrigue!
Puxou o braço de Julia com força na sua direção, a fim de a obrigar a acompanhá-lo. A morena já esperava pelos seus movimentos bruscos apenas para reagir a altura, havia aprendido a se defender de homens como ele quando estava em cativeiro. Assim que sentiu o impacto de ser puxada bruscamente, a menina rapidamente segurou no pescoço do cara e lhe deu uma joelhada com todas as suas forças no meio de suas pernas, acertando as bolas do cara em cheio. Ele se curvou com a dor, com as duas mãos no local atingido soltando o braço dela, que aproveitou para se distanciar dele, ficando ao lado de Donatela.
- Sua vadia!- Gritou com a voz mais fina.- Você é uma puta mesmo!
Ela sorriu. Esse tipo de insulto não a afetava mais, havia escutado coisas muito piores quando era uma prisioneira. Sua única preocupação era o tumulto que aquela cena poderia causar. Olhou para todos os lados se certificando que não chamou a atenção de muitas pessoas. As três voltaram a caminhar rapidamente, deixando-o para trás.
- Volta aqui, sua vagabunda!
Ela revirou os olhos e se virou para o homem que agora parecia estar lentamente se recompondo do golpe em sua parte mais sensível do corpo.
- Gostou de apanhar? Se quiser posso lhe bater mais.- sorriu.
Se virou novamente e voltou a caminhar em direção ao carro. Ambas entraram no veículo e Donna o ligou, pronta para sair imediatamente dali. Antes que o carro entrasse em movimento, Júlia olhou para o outro lado da rua após se sentir observada, vendo um outro homem parado a olhando fixamente nos olhos. Parecia-se com o homem que havia matado para conseguir escapar, afastou aqueles pensamentos, poderia apenas ser uma miragem. Ela sentiu uma batida de seu coração falhar no mesmo segundo, mas tentou não se importar com aquilo, voltando sua atenção para quem estava dentro do Volvo.
Estava extasiada em como Júlia foi capaz de se proteger sozinha, não precisou de sua ajuda para nada e isso para Donatela era um bom sinal, pois a garota não era tão frágil quanto pensou e poderia se proteger em situações futuras. As ruas estavam um pouco mais movimentadas que o casual, Dona não gostava quando estava assim, pois o trânsito automaticamente atrasava, mas continuou dirigindo enquanto todas as três estavam em silêncio absoluto. Ela logo o cortou:
- Onde aprendeu a se proteger daquele jeito, Júlia?- perguntou.
- Quando se quer fugir de um inferno, temos que aprender a nos proteger.- Olhou para a janela.- Eu ficava vendo pela janela aqueles brutamontes treinarem lá fora e acabei aprendendo alguma coisa ou outra. Foi o suficiente para conseguir escapar.
- Muito bem, querida!- elogiou-a.
O resto do caminho foi em silêncio, estavam preocupadas pois os homens de Enzo poderiam saber onde as duas estavam. Não demorou muito e chegaram na fazenda e Donatela estacionou o carro. As três desceram e foram de encontro a entrada da casa, enquanto alguns funcionários que vieram de prontidão ajudar as mulheres, levavam as sacolas para os quartos respectivos da mansão.
Júlia tinha um pressentimento ruim, como se algo estivesse para acontecer e ela não pudesse fazer nada para impedir. Não sabia se seria neste momento ou mais para frente, mas ela sabia que iria acontecer. Pensou ser por causa do homem que a segurou mais cedo, era apenas um pensamento ruim, causado pela cena que a espantou. Afastou aqueles pensamentos e seguiu as meninas, entrando na casa. Elas tiraram seus casacos na entrada e seguiram adiante, parando na sala. Foi quando viram Bertiolli sentado no sofá da sala conversando tranquilamente com Antonella enquanto sorriam, aquela parecia não desistir até que conseguisse seu desejo realizado. Ao perceber as presenças, os olhares de Bertiolli e Júlia se encontraram, mas ela o desviou imediatamente. Seu olhar circulou por uma das paredes da sala até parar no telefone, olhar para o objeto a fez se lembrar de sua mãe, foi como uma luz que se acendeu dentro de sua cabeça a fazendo se lembrar de sua progenitora e sua doença. Como estava? Júlia percebeu que nem mesmo sabia se ainda estava viva, então o incômodo que sentiu por ver a intimidade com que o investigador conversava com Antonella não mais importava, ela tinha prioridades no momento. Encarou Donna que não estava nada feliz em ver a cena que encontrou na sala.
- Olá.
Após alguns segundos de constrangimento, Antonella se pronunciou.
- Oi, de novo.- Respondeu Dona.- Pelo visto não esqueceu o endereço de minha casa.- Foi sarcástica.
- Nunca, Dona.
Donatela só se imaginava pegando nos cabelos da loura e a jogando para fora de sua casa assim como fez quando descobriu a traição contra seu filho. Fora ela quem causou as desavenças da família, fora ela quem fez Giovani querer desaparecer de sua casa, escapar de sua família e querer ser deserdado pelos Matarazzo. A senhora sabia que a única culpada por tudo estava sentada ao lado de seus filho, se esforçando para seduzí-lo novamente. Júlia manteve seu olhar para a mãe de Bertiolli que estava prestes a se retirar da sala, após ouvir a voz de Antonella em seus ouvidos. Mas a voz da morena a fez suavizar o olhar e se esquecer por um segundo do passado tão cruel que Antonella provocou em sua família.
- Dona?
- Sim, querida?- respondeu.
Donatela sorriu para Júlia. Antonella encarava a cena querendo revirar seus olhos, mas não queria que Bertiolli a visse como uma vilã.
- Será que eu poderia usar o telefone?- Indagou.
- E irá ligar para quem?
A voz grave do investigador ecoou na sala antes que sua mãe pudesse responder à pergunta. Os olhares então, lhe foram direcionados. Bertiolli se levantou preocupado com as irmãs, elas não poderiam manter contato com ninguém, pois ainda era muito cedo para qualquer manifestação de alguma das duas ou eles estariam ainda mais em risco. O homem custou a concordar com sua saída logo pela manhã para fazerem compras nas lojas da cidade, não queria abusar da liberdade. Ela suspirou pesadamente, havia perguntado se sua mãe a deixaria fazer uma ligação e parecia que Donatela estava prestes a concordar com seu coração mole, quando o homem se intrometeu no assunto. Júlia odiava o jeito que ele as tratava, como se fossem bonecas de porcelana prestes a quebrar, se sentia sufocada. Olhou fixamente em seus olhos sentindo um arrepio subir por sua espinha, engoliu seco. Não iria desistir de saber se sua mãe estava bem, ela iria ligar para Lindsay e informar-lhe que mesmo depois de tantos anos, tudo estava bem e elas estavam vivas. Além do mais, a dor torturante de nunca mais sequer ouvir a voz de sua mãe a fazia sufocar, morrendo aos poucos, queria a abraçar, dizer que tudo estava bem e trabalhar para ajudar a comprar seus remédios, mas a mulher sequer sabia se sua pobre mãe ainda estava viva, ou se tinha deixado o câncer sucumbir.
- Vou ligar para minha mãe.- Respondeu seca.
- Júlia.- Se aproximou dela.- Qualquer ligação que fizer pode estar sendo grampeada, você não sabe a periculosidade que estes homens tem? Não pode ligar para Lindsay neste momento.
Júlia bufou levando a mão nos cabelos e então seu sangue começou a ferver, ele não poderia a impedir de ligar para a mãe. Se era para continuar presa, então para quê ela havia fugido? A garota sentia que a qualquer momento sua cabeça poderia explodir, tinha curiosidade sobre a mãe ainda poder estar viva e não iria esperar muito tempo para ouvir sua voz. Ela queria mostrar a Lindsay que não estava mais sozinha. Imaginava os momentos torturantes de sua mãe chegando em casa e não sabendo onde a filha poderia estar, de não ter um centavo para pagar alguém que pudesse a encontrar. Imaginava que a mãe poderia ter se sentido culpada todos estes anos por não ter dinheiro para cuidar melhor de suas duas únicas filhas. Ela não se importava pela ligação estar sendo grampeada, só queria ouvir a voz da única figura fraternal que teve em sua vida. Lindsay fora sua mãe e ao mesmo tempo seu pai durante muito tempo.
- Serão apenas alguns minutos, ok? Serei breve.
- O suficiente para eles saberem onde você está!- Alterou-se levemente.
Antonella observava toda aquela cena sem se preocupar muito, mas gravava cada palavra daquela conversa minuciosamente em sua cabeça, ela provavelmente precisaria de alguma coisa para usar contra a mulher pela qual se sentiu ameaçada. Queria armas para a atingir e a tornar mais fraca se fosse preciso. Janet ansiava que a irmã conseguisse convencer o homem a deixar falar os minutos, também se preocupava com a mãe e queria muito escutar a voz da matriarca mesmo que fosse por apenas um segundo.
- Não pode me dizer o que fazer.
- Júlia, escute.- Fechou os olhos por um segundo, quando os abriu novamente os olhos penetrantes da mulher ainda estavam lá.- Firmei um compromisso de as proteger quando encontrasse, tenho que levar as duas à salvo.
- Para quem?
A garota se sentia como uma marionete sendo controlada pelo investigador. Primeiro não havia lhe contado quem o pagou para fazer seu serviço e logo depois se recusava a deixar-lhe ser livre e fazer o que quisesse.
- Ainda não posso dizer.
- Mas você deve!- Bateu o pé.- Se não me contar quem está te pagando para me proteger, irei embora daqui e levarei Janet comigo.
Ela ainda desconfiava que poderia ter o dedo de Enzo no meio, mas confiava parcialmente no investigador, pois pensava que se ele realmente a quisesse em posse de Enzo Rafaello, teria as levado no dia em que as encontrou na lanchonete.
- Se forem, Enzo as encontrará muito facilmente e a partir daí não poderei fazer mais nada pelas duas.
Júlia não iria embora da casa, mas fazia para o pressionar, então teve uma ideia. Caminhou até sua irmã, agarrando seu braço com força e antes de se virar de costas, encarou o investigador.
- É exatamente o que vou fazer. Vamos embora, Janet!
- Mas...- A mais nova tentou contestar.
- Vamos, Janet!
Antonella sorria levemente, ainda sentada no sofá, com a ideia de que as garotas iriam embora. Donatela encarou o filho suplicante, não queria que as meninas fossem embora e ficassem desprotegidas fora da fazenda. O risco que estavam correndo era muito alto, se Enzo as encontrasse mais uma vez, ninguém mais poderia as tirar de suas mãos, pois provavelmente iria para outro país e nunca mais as deixaria escapar. Bertiolli relutou durante um segundo dentro de seu coração se contaria toda a verdade para as irmãs, ou se dava outro jeito de as fazer ficar, mas duvidava que a teimosa Júlia aceitasse ficar sem saber quem era que estava por trás de tudo. Ela era muito cabeça dura quando queria e o investigador sabia muito bem disso. Sequer conseguia esperar mais um pouco, o investigador não pretendia as deixar sem conhecer o pai por muito mais tempo. Se sentiu contrariado, mas correu na direção onde as meninas andavam, agarrando a mão de Júlia. A garota sentiu o toque quente da grande e macia mão de Matarazzo. Sua pele era aveludada como o algodão, isso fez com que a menina o encarasse imediatamente. Seus olhos se encontraram e numa fração de segundos ela esqueceu tudo de ruim que havia lhe acontecido. Bertiolli sentia uma imensa vontade de beijar seus lábios e pedir que esperasse apenas por mais alguns dias, mas isso era impossível de acontecer, levando em consideração que ela apenas fazia parte de seu trabalho, era antiético. Além do mais, Júlia havia passado por tantos traumas e dores que era exatamente assim que ele a via, como uma boneca de porcelana que poderia se quebrar ao menor toque. Levou as duas mãos de cada lado de seu rosto, sentindo-a enrijecer sob seu toque.
- Vocês não podem ir.- Olhou no fundo de seus olhos.- Por favor.
Júlia sentiu um fervor com as mãos do homem, uma de cada lado de seu rosto. Por uma fração de segundos existiam apenas os dois naquela sala, mas não durou muito. Antonella, enciumada com a cena, se levantou do sofá a fim de acabar com a cena.
- Se ela quer correr o risco, não a impeça, Berti.
O investigador a ignorou completamente, enquanto Donatela se aproximou e saiu a puxando casa adentro, afastando-a dali. A senhora já estava farta de seus atrevimentos e não iria mais suportar que se colocasse entre eles. Janet também queria se afastar, mas estava sendo segurada pela irmã, sendo impedida de deixar os dois a sós. Bertiolli por sua vez, percebeu que estava indo um pouco longe aproximando-se fisicamente mais que o devido de Júlia, então, relutabtemente a soltou, dando um passo para trás. A garota finalmente conseguia pensar, longe de seus toques.
- Se ficar sabendo disso a fará ficar, então te darei um nome.- Júlia atentou-se.- Lucke Walker.
Júlia finalmente soltou o braço de sua irmã, juntando as sobrancelhas. Aquela informação não havia a levado a nada considerando que nunca ouviu sequer falar do nome do tal Walker. Ela pensou que poderia ser um amigo de sua mãe, ainda assim ficaria no escuro, pois nunca pôde conhecer alguém com aquele nome.
- Quem é esse homem?
Para quê esconder mais? Bertiolli já havia quebrado sua promessa de sigilo, tudo porque se viu diante de uma situação onde estava sendo colocado na parede. O que menos queria era ver Júlia e Janet correndo o risco de novamente serem capturadas e provavelmente torturadas pelo mafioso. Seus planos de fazê-las conhecer seu pai pouco a pouco havia ido por água abaixo no minuto que abriu sua boca e lhe contou quem o pagava para as proteger. No entanto, poderia as fazer esperar mais um pouco. Júlia queria respostas e ele lhe deu o suficiente para saber que havia alguém que queria seu bem no mundo, mesmo que não soubesse de quem se tratava.
- Quem é esse homem, Bertiolli?- Insistiu.
- Seu pai.
O mundo paralisou diante dos pés das garotas no instante que ouviram aquelas palavras. Pai. Será que haveria palavra melhor para descrever quem seria essa pessoa na vida das garotas? Elas cresceram e passaram a vida toda querendo o conhecer, mas não sabiam sequer por onde começar, Lindsay nunca foi capaz de sequer lhes dizer seu nome.
- O quê?- Foi a vez de Janet.
- Por favor, garotas. Não me façam falar mais. Vocês saberão de tudo em breve e eu nem deveria ter lhe digo isso agora.- Bertiolli se aproximou.- Só me prometam que não vão mais sequer mencionar a hipótese se fugir.
- Se nós prometermos, vai nos levar até ele?- A mais nova Indagou.
- Essa é a ideia.
Júlia se sentiu radiante com a ideia de finalmente conhecer seu pai, ela estava desacreditada, mas ao mesmo tempo cheia de esperanças. Imaginava como seria seu rosto, se tinha cabelos grisalhos, qual sua idade. Ela estava cheia de perguntas para fazer e essa notícia só veio para lhe fazer se manter ainda mais forte. Tinha alguém que lutava por elas lá fora, elas tinham o que sempre quiseram ter durante toda a vida. As irmãs Jackson tinham um pai.
...
- Por que me ligou?
Bertiolli estava caminhando em direção ao quarto de Júlia a fim de ver se estava tudo bem com as garotas quando recebeu uma chamada nada desconhecida e já esperada. Deixou que sua mãe colocasse Antonella para fora de sua casa, pouco se importando com os protestos que provavelmente a mulher o encheria posteriormente, já não queria mais aquela mulher para nada, afinal, ela teve muitas chances de corrigir seus erros e nunca quis fazê-lo. Pelo contrário, só soube trazer desonra e divisão para a família do investigador, ela nunca se demonstrou arrependida ao ser descoberta e desmascarada. Isso acabou com a paixão que o Matarazzo sentia por ela, Bertiolli já não mais a via como uma pessoa que amava, mas alguém que ele já amou e neste momento só o que sentia era pena. Aos olhos de Bertiolli esta mulher se tornou patética.
- Queria te informar que consegui o que você pediu sobre Enzo Rafaello. Dois dos meus homens o seguem por onde vai. Até já descobrimos onde fica a roça do lobo. Ele esconde as mulheres que sequestra no local.
- Ótimo!- exclamou.- Continue de olho até que eu saiba o que fazer. Quanto aos dados, envie tudo para o meu e-mail e amanhã o dinheiro que lhe prometi estará em sua conta.
- Combinado.
Encerrou a chamada feliz por finalmente receber boas notícias e voltou a andar na direção da porta do quarto de julia. Pensou em bater, mas não o fez, apenas encostou a orelha perto da porta e passou a escutar ao longe as vozes dela e da irmã. Conversavam sobre o pai, tendo várias curiosidades em comum sobre o patriarca. Suspirou. Após se certificar de que as duas estavam bem, saiu dali e foi diretamente para seu quarto e trancou a porta para que ninguém o pudesse interromper. Pegou seu notebook e se certificou de que os dados do homem haviam chegado em seu e-mail. Estava tudo lá. Observou minuciosamente cada detalhe do dossiê contendo até alguns nomes importantes para Rafaello, entre eles a tal Leila Vianello, mencionada por Júlia anteriormente.
Segundo a pesquisa que seu amigo fez sobre Enzo, ele nunca foi sequer investigado pela polícia, pois tinha posse sobre ela, ou seja, tinha a justiça aos seus pés, ninguém jamais ousadia o acusar de ser o mafioso mais perigoso do país. Não nasceu na Itália, Rafaello nasceu na Rússia quando sua mãe fez uma viagem para matar a saudade da terra natal, mas foi trazido ainda muito novo, um recém-nascido, onde vivia atualmente.
Por sorte, um dos homens conseguiu se infiltrar sorrateiramente entre eles, fingindo ser um dos capangas e conseguiu entrar na boate, tirando poucas fotos que o investigador analisava naquele momento. Tudo por ali era completamente sujo e desorganizado, as meninas eram obrigadas a ter relações sexuais com homens ali mesmo, na frente de todos. Os quartos privativos eram apenas para quem estivesse disposto a pagar mais caro do que apenas a entrada. Bertiolli sentiu asco ao ver o que Enzo era capaz de fazer, todas moças que foram discretamente fotografadas eram muito novas, nem sequer eram maiores de idade. Mais adiante, outras fotos mostravam que as mais velhas ficavam nos balcões e limpando aquele muquifo.
Fechou o notebook imaginando que Júlia teve muita sorte de não ter participado daquilo, apesar de também ser usada, mas seria muito pior ser obrigada a ter muitos homens em uma só noite como as pobres garotas das fotos. Bufou, cerrando os punhos, sua mandíbula estava travada e ele sentia um enorme nojo do homem que obrigava as meninas a fazerem tudo aquilo. Elas deveria pedir a morte todos os dias, esperando ser a próxima a quem seria assassinada e ter seu corpo jogado em uma vala qualquer. A situação era muito pior do que imaginou, era doloroso ver aquilo e saber que não poderia fazer nada imediatamente, mas ele faria algo, nem que tivesse que sacrificar sua vida em favor disso. Não iria deixar garotas inocentes sofrerem mais, pretendia matar o Rafaello.