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Capítulo 3 – As Máscaras do Luxo
O espelho não mentia, mas eu quase não me reconhecia. A maquiagem delicada, o cabelo perfeitamente preso, o vestido preto justo com decote discreto... Tudo parecia refinado demais para uma garota que, duas semanas antes, mal tinha o que comer.
Helena ajeitou meu colar e sorriu com os olhos no reflexo.
- Agora sim, você está pronta. - disse, como se estivesse preparando uma boneca de porcelana para exibição.
Respirei fundo. Aquela era minha primeira noite oficial no Lux Touch. Sem testes, sem improvisos. Um nome foi sussurrado no meu ouvido antes de eu entrar naquela sala de espera silenciosa e luxuosa: Sr. Lancaster.
De novo ele.
- Pensei que eu ainda era nova demais para "clientes especiais" - comentei, tentando parecer casual, mas minhas mãos traíam meu nervosismo.
- Ele pediu por você. Especificamente. - Helena respondeu, sem disfarçar o espanto curioso. - Isso nunca aconteceu. Com nenhuma outra garota.
Isso deveria me assustar. E assustava. Mas havia algo mais ali. Algo mais forte que o medo: o vício estranho de ser olhada por ele. De sentir que, por algum motivo, eu estava no centro de um jogo que ainda não compreendia.
Quando entrei na suíte, Damian já estava lá, como se o tempo obedecesse à sua presença. Vestia terno escuro, camisa parcialmente aberta e aquele olhar que me despia sem mover um músculo.
- Está mais bonita hoje. - disse, cruzando as pernas com elegância. - Ou talvez seja só a confiança. Fica bem em você.
- Estou me adaptando - respondi, mantendo o olhar firme.
Ele sorriu. Um sorriso discreto, perigoso.
- Sente-se.
Fiz o que pediu. A cadeira em frente a ele parecia um trono desconfortável. Meu corpo estava ali, mas minha mente se dividia entre as dívidas, o aluguel atrasado e a sensação absurda de que ele sabia mais sobre mim do que deveria.
- Você sabe o que acontece com pessoas que se adaptam rápido demais, Alícia? - perguntou.
- O quê?
- Elas esquecem quem são.
Ele se levantou, caminhou até mim e se abaixou. Seus olhos estavam no mesmo nível dos meus agora. Perto demais.
- Está gostando de trabalhar aqui?
Pensei em mentir, em fingir um entusiasmo que agradaria o ego dele. Mas minha voz saiu antes da máscara:
- Não sei ainda.
Ele sorriu, satisfeito com a honestidade.
- Bom. Isso mantém você interessante.
O silêncio entre nós voltou, mas dessa vez, parecia confortável. Ele estava prestes a dizer algo, quando o celular tocou. Atendeu no viva-voz, sem pedir licença.
- Fale - disse, frio.
Uma voz masculina respondeu do outro lado, nervosa:
- Senhor Lancaster, houve um problema. O advogado do grupo Ortega quer renegociar os termos. Disseram que se a cláusula de sigilo não for revista, vão sair do acordo.
Damian se levantou e caminhou até a janela, os ombros tensos. Quando falou, sua voz estava cheia de gelo:
- Diga a eles que, se saírem agora, não vão sobreviver no mercado até o fim do semestre. E que eu não repito ameaças.
A ligação foi encerrada. E, por um momento, ele parecia outra pessoa.
- Negócios. - disse, virando-se para mim com um meio sorriso. - Fascinante como as pessoas se acham poderosas até ouvirem um não.
- E você não costuma ouvir muitos - arrisquei dizer.
Ele riu, pela primeira vez de verdade.
- Está começando a me entender.
Damian se aproximou de novo, mas dessa vez, não tocou, não testou. Apenas me olhou.
- A noite ainda não acabou. Mas você vai escolher: ficar... ou ir embora agora.
E ali estava. O jogo. A escolha.
Mas será que eu ainda sabia como dizer "não" ?