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Capítulo 4 – A Escolha
Eu deveria ter ido embora. Cada centímetro do meu corpo gritava por isso. Mas meus pés permaneceram colados ao chão e minha voz falhou no único momento em que eu precisava que fosse firme.
Damian me olhava em silêncio, aguardando. Ele nunca pedia duas vezes. Só oferecia a chance. E, de algum modo, isso era ainda mais perigoso.
- Eu fico. - disse, por fim, num sussurro que me soou alto demais.
O brilho em seus olhos foi sutil, quase imperceptível. Mas estava lá. A aprovação silenciosa de quem está acostumado a ver o mundo se curvar aos seus desejos.
- Bom. - Ele pegou uma garrafa de vinho e serviu duas taças. - Porque hoje você vai conhecer o verdadeiro Lux Touch.
Aceitei a taça, mas nem toquei nos lábios. Eu ainda não confiava no ambiente, muito menos nele.
- Você acha que isso aqui é só um lugar para homens ricos relaxarem e se satisfazerem? - ele começou, com os olhos fixos na taça em sua mão. - Não. Aqui... é onde os segredos descansam. Onde as máscaras caem. E onde eu observo quem está disposto a vender a alma em troca de um toque.
A forma como falava... quase poética, sombria. Como se tudo tivesse camadas que eu não era capaz de entender.
- E você? - perguntei, antes de pensar demais. - O que está comprando aqui?
Ele me lançou um olhar demorado, como se decidisse o quanto me deixaria saber.
- Controle. - respondeu, simples. - Ninguém chega onde cheguei sem aprender a dominar os próprios monstros. Mas, às vezes, é preciso deixá-los brincar.
Um arrepio percorreu minha espinha. Eu estava no covil de um homem que não fingia ser bom. E isso, de alguma forma, era mais honesto do que todos os sorrisos forçados que recebi ao longo da vida.
Um toque discreto na porta interrompeu o momento. Damian não se moveu.
- Entre. - disse, sem tirar os olhos de mim.
A mulher que entrou era pura perfeição. Alta, loira, olhos azul-claros e curvas que pareciam desenhadas à mão. Ela usava um vestido justo demais para ser casual e saltos altos que comandavam atenção a cada passo.
Ela se aproximou lentamente, com um sorriso treinado, mas os olhos dela me estudavam - como se soubessem que eu não pertencia àquele mundo, mas estivesse prestes a ser engolida por ele.
- Esta é Amélie. - Damian apresentou. - Ela vai cuidar de você esta noite.
Meu corpo enrijeceu.
- Cuidar... de mim?
- Lux Touch não é um lugar comum, Alícia. Aqui, tudo é sensorial. É preciso abrir mão do controle para entender o que realmente se quer. - Ele se aproximou de mim, a voz baixa, quase hipnótica. - Esta é a sua escolha: conhecer seus limites... ou continuar vivendo sem nunca desafiá-los.
Amélie estendeu a mão, gentil, mas firme. Minha pele arrepiou só de imaginar o que aquilo significava. Minha mente gritava para fugir. Mas o desejo - não por prazer, e sim por respostas - era mais alto.
- E se eu não gostar? - perguntei, sentindo a garganta seca.
- Então basta dizer. - respondeu Damian, encostando a taça nos lábios. - Aqui, o poder de dizer "não" vale mais que o de aceitar tudo. Mas quem diz "sim"... descobre o que o mundo comum jamais mostraria.
Olhei para a mão estendida de Amélie. O relógio parecia parar. Não era mais sobre ele, sobre o lugar ou sobre o luxo. Era sobre mim.
Eu respirei fundo. E escolhi.