Capítulo 4 O Espelho dos Desejos

A chuva caía como um véu entre a realidade e o impossível naquela madrugada silenciosa. O casarão de mármore escurecido, onde João agora habitava como um hóspede silencioso - ou seria prisioneiro de seus próprios desejos? - parecia respirar com vida própria. O vento fazia os vitrais tremerem como se sussurrassem histórias antigas e indecentes entre suas molduras góticas.

Desde o ritual da noite anterior, Maria não era mais apenas a menina de olhos doces e voz tímida. Algo em seu olhar mudara: uma força ancestral se revelava por trás da cortina de sensualidade que agora vestia como segunda pele. Ela dominava a casa com passos silenciosos, deixando rastros de perfume e feitiço por onde passava.

João, por sua vez, sentia-se como um homem dividido entre dois mundos. O medo ainda o visitava, fiel como uma sombra. Mas havia também outra coisa crescendo dentro dele - uma fome, uma vontade de se entregar. O símbolo vermelho que Maria desenhara em seu peito durante o ritual ardia como se tivesse vida, pulsando sob a pele com cada pensamento lascivo que surgia sem convite.

Naquela noite, Maria o guiou por corredores que ele não sabia que existiam. Suas mãos, delicadas e firmes, seguravam a dele como se o conduzissem não apenas pela casa, mas por dentro de si mesmo.

- Hoje, você verá seu reflexo verdadeiro - disse ela, abrindo uma porta ornamentada com símbolos arcanos.

O quarto era circular, com paredes cobertas por espelhos antigos. No centro, uma cama de veludo vinho, amarras discretas nos quatro cantos. Acima, um lustre em forma de flor invertida lançava sombras sensuais nas paredes. Mas o mais impactante estava no centro do teto: um espelho imenso, redondo, refletindo tudo abaixo com uma clareza sobrenatural.

João parou, hesitante.

- Não tenha medo, - sussurrou Maria em seu ouvido, suas unhas arranhando de leve o dorso de sua mão. - Esse espelho mostra o que você deseja... mesmo o que você ainda não ousa admitir.

A magia ali era densa. Ele podia sentir as palavras dela vibrando em sua espinha.

Ela o empurrou gentilmente até o centro do quarto, fez com que ele ficasse de pé sob o espelho e então, com um gesto das mãos, ativou os símbolos rúnicos nas paredes. O espelho do teto brilhou. Nele, João se viu... diferente. Estava de joelhos, mãos presas por correntes de seda, olhos vendados. Maria o montava como uma rainha sobre seu trono. Ela sorria para ele, mas era um sorriso de domínio, de posse.

O calor entre suas pernas cresceu violentamente.

- Você se reconhece? - perguntou ela, agora atrás dele, roçando o corpo ao dele.

Ele balançou a cabeça em negação, mas seu corpo tremia com o prazer da visão.

Maria passou por ele e, em poucos movimentos lentos, tirou seu robe negro. Estava nua, com apenas uma cinta de couro e tiras finas em torno dos seios. Seus mamilos estavam enrijecidos, a pele brilhava sob o feitiço do espelho.

- Deite-se.

João obedeceu, quase hipnotizado. As amarras de veludo subiram por conta própria, envolvendo seus pulsos e tornozelos com uma suavidade que arrepiava.

Ela o montou como no reflexo. E pela primeira vez, ele gemeu sem vergonha.

As mãos dela passaram por seu peito, ativando o símbolo que agora parecia queimá-lo em chamas douradas. Sua voz recitava um encantamento antigo, e João sentia como se cada palavra dissolvesse sua resistência.

O feitiço da submissão não era violento - era sedutor. Como um vinho servido em boca faminta.

Maria o guiava com maestria. Cada toque era um comando. Cada beijo, uma ordem silenciosa. O prazer não vinha só da carne, mas da entrega. Ele entendia, finalmente, o que significava ser dela - inteiramente, sem reservas.

- Diga que é meu - ela sussurrou, deslizando a língua por sua orelha.

- Sou seu, Maria... inteiro.

Ela sorriu. E o espelho brilhou mais forte, como se aceitasse aquele pacto.

Horas depois, deitado ainda preso, João observava Maria vestir novamente seu robe. Ela acariciou seu rosto com ternura.

- Esse foi apenas o primeiro reflexo, meu querido. Há muitos outros quartos nesta casa... e muitos eus dentro de você que ainda não conhece.

João não respondeu. Estava exausto, extasiado, entregue. Seus olhos se fecharam lentamente, e o último som que ouviu foi a risada suave e encantadora da mulher que agora comandava seu corpo e seu destino.

            
            

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