Capítulo 3 CAPITULO 2

Pietro Ferrara, os ombros rígidos, encarava os dois homens na sala: Matteo Ricci, baixinho, com um nariz proeminente que parecia farejar problemas, e Alessandro Belluschi, corpulento, os olhos estreitos brilhando com algo entre curiosidade e perigo. Ambos seguravam rifles, vestidos com roupas de caçador, o olhar frio de quem já enfrentou o deserto - e coisas piores. Eram amigos de Pietro, sócios em negócios que ele preferia não discutir ali no momento, mas agora estavam ali, inesperados, quebrando o roteiro que ele havia traçado com cuidado.

Pietro, ao vê-los, deixou o cenho franzido suavizar-se. Tentou sorrir, embora seus músculos estivessem tensos.

- Matteo, Alessandro... Que surpresa.

Alessandro, o gordo, desviou o olhar para a loira parada atrás de Pietro, os cabelos dourados caindo sobre os ombros, o vestido preto curto revelando mais do que escondendo. Seus olhos se estreitaram, um brilho predatório neles.

- Surpresa foi a nossa - disse o gordo, a voz arrastada, baixa, quase acusatória. - Ver você... acompanhado.

Pietro deu de ombros, mantendo a voz leve, como se o coração não estivesse acelerado.

- Pensei que vocês só fossem chegar amanhã.

Matteo, confuso, franziu a testa, o nariz proeminente projetando uma sombra na parede de vidro.

- Esse era o plano, mas o piloto ligou. Disse que você pediu pra gente vir antes por causa do mau tempo.

- Deve ser algum engano. - Pietro coçou a nuca, tentando parecer relaxado. - O piloto... ele deve ter entendido errado. Eu não pedi pra vocês virem hoje. Talvez tenha sido algum engano.

Matteo não respondeu. Limitou-se a lançar um olhar que deixava claro: ele não acreditava. A loira, por sua vez, caminhou até o sofá de couro branco com uma graça felina. Sentou-se, cruzando as pernas de forma que o vestido subiu um pouco mais, revelando a pele macia das coxas. Ela deslizou os dedos pelo copo de vidro que repousava na mesa baixa, pegando o drinque com uma lentidão quase performática. Quando levou o copo aos lábios, o leve inclinar do corpo fez o decote de seu vestido preto ceder ainda mais. Alessandro e Matteo acompanharam o movimento como predadores observando um cervo se abaixar para beber água.ietro pigarreou, tentando recuperar o controle da situação.

- Já que chegaram, é melhor se acomodarem.

Alessandro desviou o olhar da loira, fixando-o em Pietro com um meio sorriso.

- Não vai apresentar sua amiga?

Pietro olhou para a loira, que agora brincava com o copo, os olhos verdes brilhando com uma mistura de diversão e desafio.

- Uma amiga. Convidei para conhecer o refúgio. Vai embora ainda hoje.

Matteo soltou um grunhido.

- Amiga de quem? Sua... ou da Giulia?

O nome da esposa pairou como uma faca afiada na sala. Pietro não respondeu de imediato.

- Vamos lá, vou mostrar os quartos pra vocês se acomodarem.

A loira terminou o drinque, os lábios úmidos brilhando sob a luz suave da sala. Ela lançou um sorriso provocador para os três homens antes de se recostar no sofá, como se fosse a dona do lugar. Pietro gesticulou para Matteo e Alessandro, conduzindo-os pelo corredor de paredes envidraçadas, o deserto lá fora parecendo engolir o mundo. O silêncio entre eles era pesado, quebrado apenas pelo som dos passos no piso polido.

- Essa loira - disse Alessandro em voz baixa - é problema.

- Está tudo sob controle - retrucou Pietro, tentando manter a calma. - Eu não esperava vocês hoje, por isso chamei alguém para me fazer companhia.

- E se nossas mulheres descobrirem? - resmungou Matteo.

- Só vão descobrir se alguém contar. - Pietro lançou um olhar firme aos dois.

Alessandro levantou as mãos como se dissesse "tudo bem".

- Eu não conto nada.

Entraram no quarto de hóspedes, ainda intocado, com duas camas de solteiro e janelas panorâmicas dando vista para o horizonte ondulante de areia e rochas.

- Afinal... - Matteo puxou a cadeira da penteadeira e sentou-se - quem é ela?

Pietro fechou a porta com cuidado antes de responder:

- Na agência chamam ela de Allegra.

Alessandro, que estava tirando o casaco, parou, os olhos arregalados.

- Agência? Você quer dizer... agência de acompanhantes?

Pietro deu um leve sorriso, como se fosse óbvio.

- Claro. De onde mais seria?

Matteo esfregou o rosto com as mãos.

- Isso ainda pode dar problema.

- Relaxa - disse Pietro, tentando manter o tom leve. - Vai dar tudo certo. Ela vai embora hoje à noite, e ninguém vai descobrir. Eu paguei muito bem ao piloto para apagá-la dos registros.

- Ainda assim temos um problema - disse Alessandro, agora com um tom mais direto.

- Que problema? - Pietro revirou os olhos, a paciência começando a se esgotar.

Alessandro lançou um olhar enviesado para Matteo, depois voltou-se para Pietro com um sorriso ladino.

- Você só contratou uma. E nós somos três.

Matteo ergueu a sobrancelha, apoiando o queixo no punho.

- É. Como vai ser isso?

Pietro os encarou, parando por um momento. O silêncio foi preenchido pelo distante barulho do vento batendo nas vidraças.

- Espera... - ele disse, lentamente, a voz baixa, quase incrédula. - Vocês também querem... participar?

Os dois sorriram como hienas famintas.

- Porra, Pietro - disse Alessandro - você viu aquela mulher? Só de vê-la tomando o drinque, com aquele jeitinho...

- Uma deusa - completou Matteo. - E você queria ficar com tudo sozinho?

Pietro passou a mão pelos cabelos, frustrado.

- Eu não esperava ninguém hoje. A ideia era ela vir, a gente passar umas horas e depois ela ia embora.

- Mas agora estamos aqui - disse Alessandro, dando dois tapinhas nas coxas. - E se você quiser que a gente fique de boca fechada, vai ter que compartilhar.

Pietro franziu a testa, a mente acelerada. Ele não esperava isso, não agora. O plano era simples: uma noite com Allegra, longe dos olhos de Giulia, longe das responsabilidades de casa. Mas agora, com Matteo e Alessandro ali, o jogo havia mudado.

- Vou falar com ela - disse, tentando manter o controle. - Mas, acreditem, Allegra não é barata.

- A gente paga - Matteo respondeu na hora. - Quanto ela cobra?

Pietro fez uma careta.

- Cinco mil euros a hora.

Alessandro soltou um assobio.

- Caramba... Mas vale cada centavo, ou melhor, a gente faz valer.

- Beleza então - disse Pietro - Mas não esperem que ela tope sem que tudo esteja claro.

- Claro - disse Matteo.

- Óbvio - repetiu Alessandro, já se levantando. - Vamos falar com ela.

Pietro assentiu, respirando fundo. Sabia que estava entrando em terreno perigoso. Não apenas por estar ali, com uma acompanhante de luxo no meio do deserto, traindo sua esposa grávida, mas também porque agora havia duas testemunhas. E testemunhas podiam ser compradas, mas nunca apagadas completamente da memória do perigo.

Quando voltaram à sala, a loira - Allegra - não estava mais no sofá. A taça de cristal ainda repousava na mesinha baixa, com os vestígios carmesins do drinque que ela bebera, mas a loira estava de pé - os dedos longos e perfeitamente esmaltados deslizavam com lentidão por um dos rifles deixados sobre a bancada de carvalho escuro.

Ela se movia com uma lentidão estudada, quase felina, deixando que a seda do vestido negro escorregasse com sensualidade ao longo das curvas. Seus olhos não estavam mais nos homens. Estavam no rifle. Como se aquela arma fosse uma extensão de sua própria presença. Como se ela mesma fosse uma ameaça camuflada de luxúria.

Matteo estacou, engolindo seco. Alessandro ficou com os olhos presos no modo como Allegra apoiava o cabo do rifle contra a coxa e passava os dedos pelo cano polido com uma carícia que beirava o indecente.

- Que porra... - murmurou Alessandro, baixo.

- Está brincando com fogo - sussurrou Matteo, mas não tirou os olhos dela.

Pietro, por outro lado, franziu o cenho. Seu maxilar ficou rígido enquanto caminhava até ela com passos firmes, controlados. Allegra sorriu ao vê-lo se aproximar, mas seus olhos continuavam dançando com um brilho enigmático.

- Allegra... - ele murmurou ao chegar perto. Sua mão agarrou o rifle com firmeza, tomando-o das mãos dela. - Cuidado com isso.

- Com o quê? - ela perguntou, fingindo inocência, mas o tom era provocador. Quase um desafio.

- Com armas - Pietro respondeu, o olhar duro. - Você deve sempre conferir se estão carregadas antes de tocar.

Para ilustrar, ele abriu o compartimento do rifle com um movimento seco. Estava, de fato, carregado. Uma bala brilhante reluziu sob a luz da lareira, como uma verdade exposta tarde demais.

- Viu? - ele disse. - Podia ter se machucado.

- Ou machucado alguém - murmurou Matteo, ainda olhando para ela, hipnotizado.

- Não brinque tanto com armas, ragazza. - Falou Alessandro - Um dia alguém pode apertar o gatilho só pra ver se você geme ou grita.

Allegra deu de ombros com elegância e voltou ao sofá. Sentou-se como se fosse a dona do lugar, cruzando as pernas com lentidão, revelando mais da pele clara sob a fenda generosa do vestido. Ela estendeu o braço, pegou novamente a taça vazia e virou-a para os rapazes.

- Alguém me serve outro drinque? - perguntou com um sorriso preguiçoso, como uma rainha entediada com os plebeus.

Pietro entregou o rifle a Alessandro sem dizer nada e atravessou a sala em direção ao bar. O gelo tilintou no copo enquanto ele preparava outro drinque para Allegra, sentindo os olhos dela queimando em suas costas. Ele sabia que ela estava testando os limites. E sabia também que Matteo e Alessandro estavam cada vez mais enfeitiçados.

Enquanto Pietro voltava, Alessandro se aproximou do sofá e sentou-se na poltrona ao lado, o olhar descaradamente cravado nas pernas dela. Ela levantou os olhos para os três homens e arqueou uma sobrancelha.

- Acomodados?

Matteo fez que sim, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Alessandro tomou a frente.

- Allegra, não é? - disse ele, com a voz aveludada, o charme do velho tarado polido. - Pietro nos falou maravilhas de você.

- Só maravilhas, espero - ela respondeu, deslizando o olhar dos olhos dele para o corpo de Matteo, depois para Pietro.

- Allegra... - repetiu Matteo, agora apoiado no batente da porta, os olhos semicerrados. - Isso combina com você. Leve, bonita... mas perigosa.

- Perigosa? - ela ergueu uma sobrancelha, divertida. - Isso parece um elogio ou um aviso?

- Pode ser os dois - Matteo respondeu, o tom mais escuro agora. - A maioria dos acidentes acontece quando alguém subestima o que tem nas mãos.

- Ou quando pensa que está no controle - disse Allegra, olhando diretamente para Pietro.

Por um instante, o silêncio se instalou. A tensão na sala era quase palpável. Pietro apoiou o copo na mesa e ajeitou a gravata com um gesto rápido. Ele conhecia aquele olhar.

- Alessandro, Matteo - Pietro disse, tentando retomar o controle. - Por que não tomam um banho quente? vocês devem estar cansados do voo.

- Estamos, sim - disse Alessandro, mas não se mexeu. Continuou com os olhos presos em Allegra. - Mas não tenho certeza se quero perder o que está acontecendo aqui.

- Vocês parecem... animados.

- Estamos. - Matteo respondeu, dando um passo à frente. - Mas queríamos conversar sobre... uma possível extensão dos seus serviços.

Ela sorriu, dessa vez com ironia, mas não com desdém.

- Uma extensão?

Pietro pigarreou.

- Eles estão dispostos a pagar. Alegra, eu sei que não foi isso que combinamos, mas a situação mudou.

Allegra colocou o copo na mesa, cruzou as pernas e se recostou no sofá como uma rainha no trono.

- E quanto valeria essa extensão?

Alessandro e Matteo trocaram um olhar cúmplice. Pietro respondeu:

- Eles pagam o mesmo valor. Cinco mil por hora. Cada um.

Ela inclinou a cabeça.

- Três homens. Quinze mil por hora?

- Isso mesmo - respondeu Alessandro.

- E quantas horas?

Matteo sorriu.

- Isso a gente pode discutir.

Allegra se levantou com elegância. Caminhou até Pietro, parando a poucos centímetros dele. Passou os dedos pelo colarinho de sua camisa.

- Você devia ter me avisado, Pietro.

Ele engoliu em seco.

- Eu sei. Não achei que eles viriam hoje.

Ela virou-se para os outros dois.

- Tudo bem. Mas com uma condição: nada sem proteção.

- Óbvio - disseram os dois quase ao mesmo tempo.

Allegra sorriu, um brilho predador no olhar.

- Então vamos começar.

            
            

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