Capítulo 4 CAPITULO 3

***

O som da televisão preenchia a casa com uma batida grave e envolvente. Alessandro havia colocado em um canal de música eletrônica, criando um clima quase onírico na sala de estar rústica. As chamas da lareira dançavam refletidas nos vidros das janelas escuras, e a garrafa de uísque repousava vazia sobre a mesinha de vidro.

Pietro se aproximou de Allegra, seus dedos enlaçando os dela com firmeza calculada.

- Vamos dançar - ele disse, a voz baixa, o olhar penetrante.

Ela não respondeu com palavras. Levantou-se com um meio sorriso, o vestido preto colado ao corpo se ajustando ao movimento. Seus cabelos loiros balançaram de leve enquanto aceitava o convite, deixando-se guiar pela mão dele até o centro da sala.

A música ditava o ritmo e, aos poucos, Allegra passou a mover o corpo com mais liberdade. Seus quadris deslizavam em movimentos suaves, fluidos, um rebolado natural que parecia alheio à intenção, mas tinha o poder de incendiar qualquer homem naquela sala. Ela ria de forma contida, os olhos semicerrados, como se o álcool tivesse começado a torná-la mais leve.

Alessandro, já mais solto, tomou o lugar de Pietro na próxima música. Suas mãos pousaram na cintura dela com um pouco mais de firmeza. Dançaram juntos, próximos demais. Quando ela virou de costas para ele, rebolando contra seu corpo, Alessandro não resistiu a sussurrar algo em seu ouvido. Ela riu, mas não respondeu.

De repente, os três estavam ao redor dela, a música os unindo em um círculo de desejo. Pietro, Alessandro e Matteo dançavam colados a Allegra, as mãos deles passando pelo seu corpo, traçando a pele exposta, apertando, explorando. Um deles - Allegra não viu quem - pegou sua mão e a guiou até a protuberância em sua calça, o tecido esticado sob seus dedos. Ela sentiu o calor, a pulsação, e não recuou. Outro a beijou, os lábios rudes invadindo os dela, a língua exigente. Uma mão encontrou seus seios, apertando-os por cima do vestido, o toque bruto arrancando um gemido abafado dela. Allegra fechou os olhos, o corpo cedendo à loucura do momento, à adrenalina que corria por suas veias.

Alessandro a empurrou contra os assentos de couro branco, levantando o vestido com um movimento rápido, expondo a calcinha preta. Sem hesitar, puxou a peça para o lado e mergulhou entre suas pernas, a língua explorando sua vagina com uma precisão que a fez arquear as costas. Allegra gemeu alto, as mãos agarrando os cabelos dele, o prazer a consumindo como fogo. Pietro e Matteo se posicionaram ao lado dela, um de cada lado, revezando-se entre sua boca e seus seios. Ela sentia os lábios de um deles em seu pescoço, os dentes roçando a pele, enquanto o outro chupava seus mamilos, o vestido agora amassado em sua cintura. A língua de Alessandro era implacável, lambendo e chupando com uma intensidade que a deixava à beira da loucura. Ela estava em chamas, o corpo implorando por mais.

- Quero um de vocês dentro de mim - sussurrou, a voz trêmula, quase suplicante.

Pietro, já com a calça desabotoada, posicionou-se entre suas pernas, pronto para atender ao pedido. Mas Allegra ergueu a mão, parando-o.

- Na cama - disse, os olhos brilhando com uma mistura de desejo e controle. - Quero terminar isso na cama.

Pietro não hesitou. A pegou nos braços, colocando-a sobre os ombros como se fosse um troféu. Ela riu, o som leve e quase musical, e os outros dois os seguiram, abrindo os botões das camisas pelo caminho, deixando peças de roupa espalhadas como pegadas de um ritual.

No quarto, Pietro a jogou com cuidado na cama. Ela caiu rindo, os cabelos loiros emaranhados sobre os lençóis brancos. Matteo e Alessandro não perderam tempo. Começaram a despir-se completamente, ansiosos como garotos em parque de diversões. Eles se jogaram na cama, as mãos e bocas voltando a explorar Allegra, beijando sua pele, mordendo, lambendo.

Foi então que algo mudou.

Allegra sentou-se devagar na beira da cama, o sorriso ainda nos lábios.

- Só um segundo... preciso pegar a proteção. Vocês sabem - disse, com o dedo apontado como uma professora divertida. - Regras são regras.

- Vai rápido - murmurou Pietro, já sem camisa, as veias do pescoço saltadas de excitação.

- Não comecem sem mim - ela disse, piscando, e saiu do quarto.

O silêncio caiu como uma cortina pesada assim que a porta se fechou.

- Quem vai primeiro? - perguntou Matteo, com um sorriso de canto.

- Eu - respondeu Pietro, firme. - Eu que a trouxe.

- Tudo bem pra mim - disse Alessandro, se jogando de costas na cama. - Desde que eu tenha minha parte.

Eles riram. Por alguns instantes, foram só três homens rindo entre si, despidos, vulneráveis e certos de que controlavam o jogo. Pietro franziu a testa, olhando para a porta.

- Tá demorando. Tudo bem aí, Allegra?

Do corredor, a voz dela veio, calma, quase divertida.

- Já tô voltando.

Então, Allegra reapareceu na porta, mas não estava segurando camisinha nenhuma. Em suas mãos, um dos rifles que Matteo e Alessandro haviam deixado na sala. O cano apontava para eles, firme, e seus olhos verdes brilhavam com uma frieza que fez o sangue de Pietro gelar.

- Que merda é essa? - exclamou ele, erguendo as mãos instintivamente.

Allegra deu um passo à frente, o rifle ainda apontado, movendo-o lentamente como se escolhesse um alvo. Ela sorriu, mas agora o sorriso era uma lâmina.

- Pietro - ela disse, com a voz calma como um tiro abafado. - Você devia se perguntar: quem está realmente no controle aqui?

E então puxou o gatilho.

Click.

A arma estava carregada. Allegra sorriu. Pietro não.

***

O céu alaranjado do entardecer parecia derreter sobre a vastidão do Deserto de Gorafe, tingindo a areia dourada com tons de sangue e cinza. Um silêncio absoluto dominava a paisagem, quebrado apenas pelo som agudo e distante que cortava o ar: o rotor de um helicóptero.

Tac-tac-tac-tac-tac...

O barulho se intensificava, ganhando força contra o silêncio sepulcral do deserto. A aeronave se aproximava rápido, uma sombra cortando o sol em seu mergulho preciso sobre o heliponto improvisado entre os desfiladeiros rochosos.

Allegra permanecia parada, imperturbável. Seu corpo elegante envolto por um vestido preto justo, os saltos fincados na areia como estacas de desafio. Na mão direita, um cigarro aceso. O vermelho do batom, intacto. O olhar estava fixo no horizonte, indiferente ao vento quente que soprava contra seu rosto.

O helicóptero tocou o solo com suavidade. A poeira levantou-se em espirais frenéticas ao redor das pás giratórias.

O piloto desceu, ajeitando os óculos escuros sobre o nariz. Caminhou até ela, avaliando-a de cima a baixo.

- Está pronta, senhorita?

Ela deu uma tragada lenta, soltando a fumaça com languidez antes de responder com a voz firme, quase entediada:

- Estou, sim.

O piloto olhou em volta, o olhar curioso.

- E o senhor Ferrara? Ele deveria estar aqui, não? Ele pediu para eu voltar mais cedo...

Allegra sorriu de canto, sarcástica.

- Está lá dentro. Se divertindo... com os amigos dele.

O piloto arqueou uma sobrancelha.

- Preciso saber quando venho buscar o grupo.

Ela deu a última tragada e jogou o cigarro no chão, esmagando-o com o salto.

- Pela quantidade de droga e bebida que vi entrando, acho que só segunda-feira. Se saírem vivos.

O piloto soltou um assobio baixo, resignado.

- Entendido.

Ele estendeu a mão, ajudando-a a subir na aeronave. Ela entrou com leveza, a saia do vestido ondulando no vento quente do deserto.

***

O helicóptero pousou discretamente em uma das áreas reservadas do pequeno aeroporto. Um jatinho particular, de pintura preta e prata, já aguardava com as luzes acesas e escada estendida.

Sem falar com ninguém, a loira desceu da aeronave com a mesma postura imponente, cruzando a pista como se o mundo girasse ao seu redor. A brisa fria da noite andaluza agora acariciava sua pele. Seu celular vibrou na bolsa, mas ela ignorou. O tempo dela era contado em silêncio, não em chamadas.

Ao subir no jatinho, foi direto para a suíte privativa nos fundos. Trancou a porta atrás de si. O ambiente luxuoso era decorado com tons suaves de creme e dourado, um contraste com a brutalidade do lugar de onde vinha.

Diante do espelho de corpo inteiro, ela começou a desmontar sua fachada.

Primeiro, o vestido preto deslizou por suas curvas e caiu aos seus pés. Depois, a calcinha. Seu corpo nu refletido no espelho parecia mais verdadeiro agora, mais livre. Uma pequena pinta surgiu no pescoço dela. Sangue seco. Um lembrete.

Com dedos experientes, ela alcançou as lentes de contato e as retirou. Os olhos castanhos - os verdadeiros - surgiram, desarmando a personagem que fingira ser. Segundos depois, soltou os ganchos escondidos na base da nuca e retirou a lace loira. Os fios castanhos caíram pesados sobre os ombros. Despenteados. Autênticos.

TOC TOC.

Uma batida seca na porta a trouxe de volta.

Ela pegou uma toalha felpuda e se enrolou com eficiência. Abriu a porta com a postura de quem nunca fora vulnerável.

Do outro lado, a comissária de bordo - elegante, discreta - deu um leve sorriso.

- Senhorita Amorielle, o piloto pediu para avisar que decolamos em cinco minutos.

- Estou terminando. Diga a ele que pode preparar tudo.

- Sim, senhora. - A comissária inclinou levemente a cabeça e se afastou.

Ela caminhou até a cabine e deu duas batidas formais. O piloto abriu a porta.

- Só para informar, senhor. A senhorita Donna Amorielle já está a bordo.

O piloto sorriu e confirmou com um gesto.

- Então vamos levá-la para casa.

                         

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