Donna
img img Donna img Capítulo 5 CAPITULO 4
5
Capítulo 6 CAPITULO 5 img
Capítulo 7 CAPITULO 6 img
Capítulo 8 CAPITULO 7 img
Capítulo 9 CAPITULO 8 img
Capítulo 10 CAPITULO 9 img
Capítulo 11 CAPITULO 10 img
Capítulo 12 CAPITULO 11 img
Capítulo 13 CAPITULO 12 img
Capítulo 14 CAPITULO 13 img
Capítulo 15 CAPITULO 14 img
Capítulo 16 CAPITULO 15 img
Capítulo 17 CAPITULO 16 img
Capítulo 18 CAPITULO 17 img
Capítulo 19 CAPITULO 18 img
Capítulo 20 CAPITULO 19 img
Capítulo 21 CAPITULO 20 img
Capítulo 22 CAPITULO 21 img
Capítulo 23 CAPITULO 22 img
Capítulo 24 CAPITULO 23 img
Capítulo 25 CAPITULO 24 img
Capítulo 26 CAPITULO 25 img
Capítulo 27 CAPITULO 26 img
Capítulo 28 CAPITULO 27 img
Capítulo 29 CAPITULO 28 img
Capítulo 30 CAPITULO 29 img
Capítulo 31 CAPITULO 30 img
Capítulo 32 CAPITULO 31 img
Capítulo 33 CAPITULO 32 img
Capítulo 34 CAPITULO 33 img
Capítulo 35 CAPITULO 34 img
Capítulo 36 CAPITULO 35 img
Capítulo 37 CAPITULO 36 img
Capítulo 38 CAPITULO 37 img
Capítulo 39 CAPITULO 38 img
Capítulo 40 CAPITULO 39 img
Capítulo 41 CAPITULO 40 img
Capítulo 42 CAPITULO 41 img
Capítulo 43 CAPITULO 42 img
Capítulo 44 CAPITULO 43 img
Capítulo 45 CAPITULO 44 img
Capítulo 46 CAPITULO 45 img
Capítulo 47 CAPITULO 46 img
img
  /  1
img

Capítulo 5 CAPITULO 4

O som grave dos motores envolvia a cabine em um zumbido constante, quase hipnótico. O jatinho particular atravessava o espaço aéreo entre a Espanha e a Itália, recortando as nuvens com precisão enquanto a escuridão da noite caía sobre o Mediterrâneo. Lá dentro, na penumbra acolhedora da aeronave, Donna Amorielle surgiu novamente da suíte privativa.

Ela secava os cabelos castanhos escuros com uma toalha branca, os fios ainda úmidos ondulando em liberdade sobre os ombros. Os olhos castanhos estavam concentrados, frios, como se já previssem as tempestades que ainda viriam. Na outra mão, firme, ela carregava uma pasta de couro - elegante, antiga, com as iniciais D.A. gravadas em baixo relevo.

Donna sentou-se no sofá de couro ao lado da janela oval da cabine. A luz fraca de leitura acentuava as sombras em seu rosto, revelando a expressão de alguém que já ultrapassara o limite do medo. A mesa dobrável diante dela foi aberta com um clique sutil. Sobre ela, ela pousou seus três instrumentos de guerra: o passaporte com seu nome real, o celular cifrado e um notebook preto fosco.

Com um gesto automático, Donna ligou o notebook. A tela piscou e revelou um sistema operacional criptografado, linhas de código e autenticação facial. Enquanto isso, ela ativou o Bluetooth no celular, conectando-o ao computador. O sistema reconheceu imediatamente o pareamento.

Um a um, os arquivos começaram a ser transferidos.

Vídeos, áudios, documentos.

Imagens gravadas pelas câmeras da Casa de Vidro em Gorafe. Filmagens tremidas, mas nítidas o suficiente para incriminar Pietro Ferrara e seus dois sócios em orgias com prostituta, cocaína, lavagem de dinheiro e tráfico humano. Era isso que iria aparecer quando a casa fosse encontrada pela polícia espanhola, afinal foi essa cena que foi criada por Donna antes dela sair.

E então, o clímax.

As imagens de Allegra, a loira sedutora, atirando sem hesitação.

O primeiro disparo pegou Matteo no pescoço. O sangue espirrou em jatos, tingindo os lençóis brancos da cama redonda. Ele tentou gritar, mas a garganta estraçalhada impediu qualquer som. O segundo tiro foi para Alessandro, que cambaleou, com os olhos arregalados, antes de cair com um baque surdo.

Pietro tentou reagir. Ele levou a mão à gaveta ao lado da cama, mas Donna foi mais rápida. Um disparo no ombro o fez girar e cair de lado, o rosto colado ao chão envidraçado, os olhos ainda tentando entender o que estava acontecendo.

- Por você, papà - murmurou Donna, antes de atirar novamente. O último tiro. Silêncio.

Os corpos dos três homens jaziam ali, nus, entre os lençóis amarrotados, a decadência e o sangue entrelaçados como amantes antigos.

No jatinho, Donna observava a barra de progresso completar a transferência. 100%.

Ela salvou tudo em um HD criptografado, depois formatou o celular. Retirou o chip e quebrou-o entre os dedos. Em seguida, apenas encostou a cabeça no estofado de couro branco e fechou os olhos por um momento.

Estava longe de terminar.

A aeronave inclinou suavemente enquanto se preparava para descer.

***

A noite caía sobre Roma quando Donna Amorielle desceu as escadas do jatinho particular que a trouxe de Andaluzia. O vento fresco do Mediterrâneo acariciou seus cabelos castanhos escuros, que caíam em ondas disciplinadas sobre seus ombros. Ela vestia um terno preto impecável, combinado com uma blusa branca de seda que ressaltava sua postura firme e olhar decidido. Seus saltos ecoavam na pista de asfalto enquanto avançava em direção ao Maserati preto que a esperava, o motorista já com a porta aberta.

O trajeto até o escritório central do Grupo Dimora d'Oro, no coração de Roma, foi rápido, mas intenso. Donna revisava mentalmente os detalhes do contrato que agora, com a morte de três dos quatro sócios, havia se transformado em uma brecha delicada para a aquisição. Ela sabia que o único sócio sobrevivente, Lorenzo Falco, não era um homem fácil de intimidar. Rico, influente e experiente, ele agora detinha o controle total das ações da empresa – uma situação perigosa para qualquer negociação.

Ao chegar ao edifício, Donna desceu do carro, seus saltos tocando o mármore frio da entrada do prédio. As portas giratórias revelaram um saguão luxuoso, com pilares de mármore branco e um lustre imponente que refletia a opulência dos negócios que ali se desenrolavam. Ela foi recebida por uma assistente de terno escuro, que a conduziu até a sala de reuniões no 34º andar.

A porta se abriu para revelar não apenas Lorenzo Falco, alto e esguio, de cabelos grisalhos perfeitamente penteados e um olhar que exalava tanto cansaço quanto determinação, mas também seus advogados, o chefe de Donna, Don Roberto Alberti, e um jovem de cabelos castanhos bem penteados, trajando um terno cinza impecável, que representava os interesses dos compradores – um fundo árabe, silenciosamente interessado em absorver os ativos da Dimora d'Oro.

Ao vê-la entrar, Lorenzo se levantou para cumprimentá-la, oferecendo um aperto de mão firme.

- Signorina Amorielle - disse ele, com um leve aceno de cabeça. - Imagino que tenha tido uma viagem rápida.

- Sim, bem rápida e direta, como pretendo que seja nossa conversa hoje - respondeu Donna, com um sorriso que não chegava aos olhos.

Ela sentou-se, pousando a pasta de couro sobre a mesa. Don Roberto lhe lançou um olhar rápido e cúmplice. O jovem do fundo do salão mantinha o rosto neutro, mas seus olhos a observavam com uma intensidade curiosa.

- Vamos direto ao ponto, - disse Lorenzo, inclinando-se para frente. - Como já expliquei a vocês, sem meus sócios eu não posso vender, nem tomar qualquer decisão referente a empresa. E eles não querem vender, acreditem eu já tentei convencê-los, mas a nossa sociedade é igualitária.

Donna abriu a pasta. De dentro, retirou uma folha impressa com as cláusulas do acordo original.

- De fato. Mas veja a Cláusula 9.2 - "No caso da ausência permanente de um ou mais sócios, por morte, o poder deliberativo pode ser transferido integralmente ao acionista sobrevivente ou à parte negociadora com maior liquidez."

Lorenzo soltou uma risada baixa e seca. Recostou-se na cadeira, olhando de Donna para Don Roberto Alberti com uma expressão de escárnio.

- Que bom que a ragazza sabe ler - disse, o tom carregado de ironia. - Isso só corrobora com o que eu disse antes. Não há nada que ela possa fazer. O contrato é claro.

Donna manteve o olhar fixo no dele, inabalável. Havia algo de felino na maneira como ela o fitava - atenta, silenciosa, prestes a atacar. Quando falou, foi num tom indiferente, quase entediado.

- De fato, Lorenzo. Mas... com a morte dos sócios em Andaluzia, abriu-se uma brecha jurídica. Uma oportunidade, como gostamos de chamar. Algo que a cláusula 9.2 prevê.

Lorenzo franziu o cenho. Havia algo na voz dela que fez um arrepio percorrer sua espinha. Ele se inclinou para a frente, olhando diretamente para ela.

- Como assim? - perguntou, a voz mais grave. - Como assim meus sócios estão mortos? Do que eles morreram?

Donna empurrou o tablet em sua direção.

- Overdose - respondeu simplesmente.

Lorenzo hesitou por um instante antes de deslizar o dedo pela tela. As imagens surgiram uma a uma, como páginas de um pesadelo: Pietro Ferrara caído de lado, os olhos abertos em um vazio eterno. Alessandro, de bruços, o sangue manchando os lençóis. Matteo, com o peito perfurado, largado sobre a cama.

Lorenzo fechou a mandíbula com força. Seus olhos estavam vidrados nas imagens, e um silêncio brutal caiu sobre a mesa. Ele ergueu o olhar para Donna, perplexo.

- Isso... isso não parece overdose...

Donna inclinou-se suavemente, os cotovelos sobre a mesa, os dedos entrelaçados.

- Mas é o que sairá na imprensa - disse com calma. - Para poupar as famílias. Para não manchar ainda mais a imagem da empresa. E para manter os negócios em movimento.

Os advogados à sua esquerda se inclinaram, cochichando entre si, preocupados. Don Roberto, ao lado de Donna, observava em silêncio, como um velho leão em vigília.

- Essa nova realidade - prosseguiu Donna, ignorando os murmúrios - torna esta aquisição não apenas possível. Torna-a inevitável.

Lorenzo bufou, recostando-se de novo.

- Inevitável, Signorina Amorielle? - perguntou com sarcasmo. - Está subestimando minha capacidade de resistir à pressão?

- Não me leve a mal, Falco - disse Donna, seu olhar afiado como lâminas de obsidiana. - Você está em uma posição delicada. O contrato que seus sócios assinaram transferia automaticamente as ações para os sobreviventes em caso de morte. Agora, você é o único a decidir o destino da empresa. Mas não se engane, essa posição solitária também o deixa vulnerável.

Ela deslizou outra folha pela mesa.

- Aqui estão os registros dos últimos seis meses. Transferências suspeitas de ativos. Lavagem de dinheiro em paraísos fiscais. Contas em nome de terceiros. Tudo com o nome da Dimora d'Oro.

Lorenzo pegou o papel, lendo com olhos arregalados. Antes que pudesse falar, Donna continuou.

- E se deslizar um pouco mais no tablet, verá isso aqui.

Ela clicou no dispositivo, avançando para o próximo vídeo. Os três sócios, nus, dançavam ao redor de uma mesa de vidro repleta de cocaína. Uma loira provocante - a tal Allegra - provocava Pietro com um beijo, enquanto Matteo filmava com o celular.

- Pietro e os outros foram filmados com uma menor de idade. - A voz de Donna estava agora mais fria. - Matteo lavava dinheiro com criptomoedas russas. Alessandro estava desviando verbas públicas de projetos sustentáveis. Fora o que aconteceu na casa em Andaluzia.

Ela se recostou na cadeira, cruzando os braços.

- Tudo isso documentado. Tudo isso... se bem interpretado, pode sugerir um claro conflito de interesse. Uma exposição pública dessas informações pode gerar uma investigação policial internacional. Pode congelar seus ativos. Pode colocar o senhor no centro de uma espiral que nem sua fortuna poderá conter.

Lorenzo tamborilava os dedos no apoio da cadeira. Havia suor em sua testa agora. Os músculos do maxilar estavam contraídos. Ele respirou fundo antes de perguntar:

- Está me ameaçando?

Donna sorriu de canto. Um sorriso que não tocava os olhos.

- Estou lhe oferecendo uma saída. Uma saída digna, Lorenzo. Venda a empresa. Retire seus lucros. E evite que tudo isso se transforme em algo pior do que a morte.

1703

                         

COPYRIGHT(©) 2022