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No dia seguinte, Clara chegou cedo ao Bistrô Aurora. Ainda estava amanhecendo quando atravessou a rua estreita do centro velho, com seus paralelepípedos molhados pela garoa da noite anterior. Entrar na cozinha antes de todo mundo lhe dava uma sensação de controle, como se pudesse respirar antes do caos começar.
Ligou o forno, preparou o café e, enquanto organizava os ingredientes da nova criação do dia, ainda pensava no tal Lorenzo. Havia algo nele que perturbava - não da forma negativa, mas como um tempero inesperado que você tenta identificar e, quanto mais prova, mais se confunde.
Às 13h, o restaurante já estava cheio. E como se fosse parte do cardápio fixo, lá estava ele - Lorenzo, sentado na mesma mesa, dessa vez sem o terno engomado do dia anterior, mas ainda assim impecável, como alguém que não precisava de esforço para ser notado.
Clara fingiu não reparar. Entrou e saiu da cozinha, supervisionou pratos, deu ordens, cortou ingredientes, mas os olhos... os olhos sempre acabavam voltando para a mesa 8.
Foi Rafael quem trouxe o bilhete.
- Mesa 8 mandou isso. - disse com um olhar curioso e um sorriso torto. - Vai ver o cara quer o molho na taça agora.
Clara abriu o papel, já esperando mais um elogio exagerado. Mas o que leu foi direto, inesperado e totalmente fora do que ela imaginava:
"Chef Clara, sei que você tem pouco tempo fora da cozinha, mas adoraria conversar com você além do cardápio. Aceita um café depois do expediente? – Lorenzo"
O coração de Clara disparou. Ela olhou em direção à mesa - Lorenzo estava de pé, colocando o casaco, como se não esperasse a resposta na hora. Apenas lançou um último olhar antes de sair. Um olhar seguro. Como se soubesse que ela diria sim.