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O café foi no Coffee Station, uma pequena cafeteria escondida entre livrarias e lojas de antiguidades. Clara chegou pontualmente, ainda usando parte do uniforme - e um pouco da tensão que carregava por não saber o que esperar.
Lorenzo já estava lá, com dois cafés prontos e um sorriso fácil.
- Pensei que não viria. - disse, empurrando um dos copos na direção dela.
- Pensei em não vir. - Clara respondeu com sinceridade. - Mas você foi corajoso demais para eu não reconhecer isso.
Ele riu, e ali, no meio do cheiro de café e livros antigos, começaram a conversar. Sobre comida, sobre música, sobre filmes que assistiam sozinhos, fingindo não ligar. Lorenzo era fluido, atento, sempre com algo interessante a dizer - e nada que dissesse soava forçado.
Mas quando Clara perguntou sobre o que ele fazia da vida, a resposta veio simples demais:
- Negócios de família. Nada muito interessante.
Ela ergueu uma sobrancelha.
- Você parece interessante demais para fazer algo desinteressante.
Lorenzo sorriu, mas desviou o olhar.
- Talvez eu só não goste de rótulos. Gosto de ser mais do que esperam que eu seja.
Clara achou aquilo bonito. Mas havia algo ali, uma ponta de mistério que ficou entre os goles de café. Ele não mentia - disso ela tinha certeza - mas também não contava tudo. E isso a deixava curiosa.
Eles ficaram conversando durante horas sobre detalhes da vida e do cotidiano, Clara hesitou em falar muito sobre sua vida pessoal, falava sobre assuntos do restaurante e suas expectativas sobre seu trabalho, enquanto Lorenzo ouvia tudo atentamente.
Quando se despediram, Lorenzo tocou de leve a mão dela. Um gesto pequeno, mas que fez a pele dela se arrepiar sob o casaco.
- Posso repetir essa dose? - ele perguntou, com um sorriso de quem sabia que teria outra chance.
- Vamos ver se merece. - ela respondeu, antes de virar as costas e seguir pela calçada molhada, com um gosto doce e perigoso nos lábios.
E enquanto voltava pra casa, Clara soube: o que quer que estivesse começando ali, já estava mexendo com tudo. Muito além da cozinha.