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- O que você pretende fazer, Paola? - Viola pergunta, me fazendo olhar para ela.
- Eu ainda não sei... Mas eu não vou me casar com aquele homem - falo, sentando-me na cama.
- Eu vi vocês dois conversando. Vocês formam um lindo casal. Ele é muito lindo, Paola! Seria um sonho me casar com um homem como aquele... Será que um dia isso vai acontecer comigo? - ela diz, se jogando na cama e olhando para o teto.
Minha irmã é tão tola... Será que ela acha que se casar é tudo nessa vida? Será que não consegue olhar para os nossos pais e ver que esse casamento pode ser uma prisão?
- Aquele homem é horrível. Se você ouvisse o que ele falou, desistiria na hora de se casar com ele - falo, lembrando comihb . indignação do que ouvi.
- O que ele falou? - pergunta Viola, virando-se para mim com curiosidade. - Apesar de não ser verdade... Você é muito mais bonita do que eu. Tem um corpo bonito, seios grandes, bumbum... E eu não tenho nada.
- Não diga isso, você é uma menina linda, só está se formando ainda __ Falo.
- Não é verdade, Paola... Você sempre chama mais atenção do que eu. - Ela suspira, desviando o olhar. - Mas enfim... Me fala, o que foi que ele disse?
- Você acredita que ele só quer casar comigo para me domar? Ele disse que seria um prazer me fazer submissa a ele - respondo, furiosa.
- Sério que ele falou isso? Que sonho... - Viola diz, me fazendo revirar os olhos.
- Você é tão boba, Viola - falo, sem paciência.
- Eu não tenho culpa se você não quer se casar com um homem daqueles - ela responde.
- Então casa você com ele! - retruco. E então me lembro do que disse para Enrico. - Eu falei pra ele se casar com você no meu lugar. Disse que você é mais bonita do que eu, que seria uma ótima esposa... Submissa, faria tudo o que ele quisesse.
- E o que ele disse? - Viola pergunta, empolgada.
- Ele disse que não quer você. Ele quer a mim - respondo, chateada. Vejo o sorriso desaparecer do rosto dela.
- Você tem que aceitar esse casamento, Paola. Não tem mais o que fazer - ela diz, meio triste.
- Não fica assim, Viola. Você ainda é muito nova, não precisa pensar em casamento agora - falo, tentando animá-la.
- Eu só não queria ficar nessa casa sozinha, sem você, Paola... - ela fala, triste. Vou até sua cama e a abraço.
- Eu vou dar um jeito de fugir... E vou levar você comigo - sussurro, deitada ao lado dela.
- Você tá doida, Paola. Você não pode fugir! Se fizer isso, o papai vai te matar - ela diz. Eu a abraço mais forte.
- Shhh... Não pensa nisso. Eu vou dar um jeito - digo, já planejando o que ainda vou fazer.
- Viola, se eu fugir... você vem comigo? - pergunto, encarando-a com algo em mente.
Ela me olha assustada, como se não soubesse se estou brincando ou falando sério. Seus olhos vacilam, cheios de dúvida, mas também de esperança.
- Eu...? - Ela hesita. - Paola, eu... eu não sei. E se der errado? E se a gente for pega?
- Mas e se der certo? - insisto, me aproximando. - A gente pode recomeçar em outro lugar. Longe do papai, longe desse casamento. Longe de tudo isso. Você poderia estudar, ser livre, sonhar... sem medo.
Ela baixa os olhos, apertando as mãos no colo. Fica em silêncio por um instante.
- Eu tenho medo, Paola. Medo do que pode acontecer. Mas mais medo ainda de ficar aqui... sozinha, vendo você ir embora e me deixando pra trás - ela diz, com a voz embargada.
Me ajoelho diante dela e pego suas mãos.
- Então vem comigo. Eu não vou deixar nada acontecer com você, prometo. Mas eu preciso saber agora, porque se eu for... não tem volta. E eu quero você ao meu lado.
Viola respira fundo. Depois me encara, e vejo sua decisão nos olhos.
- Eu vou com você.
Meu coração acelera. O plano ainda é só uma ideia, mas agora tem uma chance real.
O silêncio paira por alguns segundos, quebrado apenas pelo som distante dos passos do papai no andar de baixo. Eu sei que ele nunca aceitaria uma fuga. Sei também que, se eu falhar, não vai ter perdão.
- Paola... e se a mamãe descobrir? - Viola sussurra, agarrada ao meu braço.
- Ela não vai descobrir. E mesmo que descubra... não vai me impedir. Acho que, no fundo, ela também queria fugir antes de casar - respondo, com a voz firme, mas baixa.
Viola não diz nada. Só me olha, com aqueles olhos grandes cheios de medo e admiração. Ela acredita em mim, mesmo que não entenda direito o que está em jogo.
- E se o papai fizer algo com a mamãe, achando que ela nos ajudou? - Viola pergunta, me fazendo ficar pensativa.
Minha respiração prende por um momento. Eu não tinha pensado nisso... Papai seria capaz de tudo para manter as aparências. Até mesmo machucar alguém da própria família.
- Podemos levar a mamãe conosco - falo, levantando-me da cama. Começo a andar pelo quarto, inquieta. A ideia parece loucura, mas cada segundo aqui também é uma prisão.
- Eu preciso de dinheiro... documentos... Talvez falar com a tia Rosa. Ela sempre disse que, se eu precisasse de ajuda, era só procurá-la. Talvez ela ainda mantenha contato com aquele pessoal de Milão...
- Você vai mesmo fugir? - Viola pergunta, sentando-se na cama. Pela expressão dela, acho que está achando que estou brincando. Mas eu nunca falei tão sério na minha vida.
- Não tenho escolha. E você e a mamãe vão comigo, lembra? - digo, olhando para ela com um meio sorriso.
- E se a mamãe não aceitar? - ela pergunta, com a voz baixa.
- Eu não sei o que vou fazer... - respondo, parando de andar. Olho para a janela, onde a noite já caiu lá fora. - Mas não posso continuar aqui esperando que ele decida quem eu devo ser.
Viola me observa em silêncio. O quarto parece pequeno demais para todos os pensamentos que invadem minha mente. Eu sei que não tenho muito tempo, o casamento é daqui uma semana no mesmo dia que eu irei fazer dezoito anos.
- E se ele vier atrás de você, Paola? O Enrico não parece o tipo de homem que aceita um "não" como resposta...
- Pois então ele vai descobrir o que acontece quando alguém força uma mulher a viver uma vida que ela não escolheu - respondo, com os olhos fixos na janela.
Do lado de fora, a noite já cobre tudo com seu manto escuro. Mas para mim, a escuridão não assusta. Ela é liberdade. É nela que meu plano vai começar.