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Termino de falar com Lara e olho para a cidade. Minha discussão com Viktor não sai da minha cabeça. Consegui construir um império, afinal - mas saber que o nosso acordo está desmoronando a poucos meses do casamento me deixa em alerta. Não posso permitir esse tipo de crise para a minha imagem.
Deixo passar exatos seis minutos, contados no relógio de pulso de marca italiana que comprei na nossa última viagem. É o suficiente para ter certeza de que ele está no elevador, mas não tempo demais para que ele saia do prédio. Pego meu celular novamente e disco o número dele.
Viktor atende no terceiro toque.
- O que você quer?
Sua voz soa cansada, mas ainda assim desafiadora. Pressiono o telefone contra a orelha com mais força do que o necessário.
- Precisamos conversar - digo, modulando minha voz para soar mais suave do que me sinto. - Vamos almoçar juntos.
- Achei que você estivesse ocupada demais para almoçar.
- Mudei de ideia.
Há um silêncio do outro lado da linha. Consigo imaginar Viktor em pé no hall espelhado, ajeitando provavelmente a gravata azul-marinho perfeitamente alinhada que ele estava usando hoje. Um presente meu do último aniversário dele.
- Não vou mudar de ideia, Samyla.
- Você não precisa mudar de ideia agora - minha voz sai firme. - Mas acho que podemos, pelo menos, ter uma conversa civilizada. Somos adultos. Oito anos merecem mais do que cinco minutos de discussão em uma sala de reuniões, não acha?
Outro silêncio. Depois, um suspiro.
- Tudo bem. Onde?
- Naquele mesmo restaurante que você reservou.
Um riso curto e sem humor vem do outro lado da linha.
- Então, agora você está disposta a ser vista em público comigo?
- Vamos fazer do seu jeito. É isso que você queria, não é?
- Ok, te encontro lá - ouço sua respiração e silêncio, então descido, desligar.
Assim que desligo, sinto meu coração batendo um pouco mais rápido. Isso não faz sentido. Não deveria estar me afetando tanto. Afinal, sempre soube que o relacionamento com Viktor tinha prazo de validade... Mas menti para mim mesma, na verdade, todos os meus relacionamentos tiveram esse prazo, mas achei que com ele seria diferente.
Respiro fundo, saio pela porta e encontro Lara, minha assistente, esperando ansiosamente no corredor apostos. Ela me olha com aqueles olhos que parecem sempre saber demais.
- Cancele meus compromissos para o almoço com os possíveis fornecedores da Collins - instruo. - Tenho um compromisso e voltarei um pouco mais tarde. Ligue para os Strons e remarque a reunião de aprimoramento da base suspensa do lago da empresa deles.
- Sim, senhorita.
Lara, eficiente como sempre, já está discando antes mesmo que eu termine de falar. Enquanto ela resolve a questão, volto para meu escritório. Preciso recuperar o controle. A sala de vidro com vista para Manhattan me dá a sensação de estar no topo do mundo. É onde pertenço.
Pego meu celular novamente e ligo para o maître do restaurante pessoalmente.
- Jean-Philippe, aqui é Samyla Porter.
- Srt.ᵃ Porter, sempre um prazer! - A voz dele sempre soa como se estivesse fazendo uma reverência.
- Tenho uma reserva hoje, feita pelo Sr. Holloway. Gostaria de trocá-la por uma sala privativa.
- Claro, Srt.ᵃ Porter, será um prazer. Para que horas seria a reserva?
- Meio-dia e meia. E, Jean-Philippe...
- Sim, Srt.ᵃ Porter?
- Discrição absoluta. Não quero ninguém sabendo que estamos lá. Nem mesmo quero ver a sombra de um jornalista ou paparazzi. Escolha a dedo os garçons que irão nos servir, nada deles portando celulares, câmeras ou qualquer coisa que possa me gravar, tirar fotos ou filmar.
- Como sempre, pode confiar.
Desligo e olho pela janela para o skyline de Manhattan. Minha cidade. Meu tabuleiro. Não posso deixar que uma peça saia do lugar tão facilmente.
Sei que não posso apenas olhar para ele assim, construímos uma vida juntos... mas esse casamento é essencial para o sucesso e um grande contrato que não posso perder.
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O Eleven Madison Park é o tipo de lugar que entende o valor do espaço. As mesas são distanciadas o suficiente para as conversas permanecerem privadas, e a decoração art déco transmite uma elegância atemporal. A sala privativa fica nos fundos, longe de olhares curiosos.
Chego exatamente às 12h25. Pontualidade é poder.
Jean-Philippe me recebe pessoalmente e me guia pela área principal do restaurante. Alguns rostos conhecidos se viram discretamente quando passo, mas ninguém se atreve a interromper meu caminho. A reputação tem suas vantagens.
- Sua sala está pronta, Srt.ᵃ Porter. O Sr. Holloway ainda não chegou.
- Obrigada, Jean-Philippe. Traga uma garrafa do Château Margaux 2010, por favor. - Ele faz uma referência com a cabeça e sai.
A sala privativa é exatamente como solicitei: iluminação suave, mesa para dois centralizada, sem flores excessivas ou decorações desnecessárias. Minimalista e funcional, como prefiro.
Sento-me de costas para a porta. É uma escolha calculada. Viktor terá que contornar a mesa para me encarar, um pequeno movimento que estabelece quem controla a situação.
Às 12h33, ouço a porta se abrir. Não me viro. Consigo sentir a presença dele enchendo o espaço silencioso.
- Sala privativa - observa Viktor com um tom irônico enquanto contorna a mesa - por que não estou surpreso?
Quando finalmente o vejo, noto que ele trocou a gravata. Agora usa uma vermelha, mais ousada. Um pequeno ato de rebeldia?
- Achei que preferisse assim - respondo com calma. - Para podermos conversar sem interrupções.
Viktor desabotoa o paletó em um movimento fluido, colocando sobre a cadeira ao lado, se sentando à minha frente. Seus olhos me estudam com uma intensidade que já me foi familiar.
- Então, o que você quer discutir exatamente?
Antes que eu possa responder, um garçom entra com o vinho. O ritual da apresentação da garrafa, a abertura, a pequena prova oferecida a Viktor - tudo isso nos dá alguns momentos para reorganizar nossos pensamentos. Mas seus olhos nunca deixam os meus e, olhando para eles, sinto uma mistura de saudades e algo que não sei descrever.
Quando estamos novamente sozinhos, nossas taças cheias de um líquido rubi escuro, inclino-me ligeiramente para frente.
- Acho que você está sendo impulsivo, Viktor.
Ele toma um gole do vinho, deixando a afirmação pairar no ar.
- Impulsivo? Não, Samyla. Impulsivo seria ter te deixado há dois anos, quando percebi que eu era apenas um acessório para a sua coleção de troféus ou o caminho para eles.
- Você quis isso a todo momento, porém, eu que não quis te expor. E você não é um acessório, nunca foi.
- Não? Me diga, então, quando foi a última vez que fizemos algo porque você queria, e não porque parecia bem na sua agenda pública? Quando foi a última vez que saímos para jantar sem que você estivesse calculando quem poderia nos ver ou não? Fora que as desculpas de que sou um arquiteto famoso, que é amigo de Samyla Porter, como dizem algumas notícias por aí, não me descem mais.
Giro a taça entre os dedos, observando o vinho se mover como uma maré vermelha.
- Você sabia exatamente no que estava se metendo quando começamos. Desde o começo, eu te falei como seria, ainda mais quando assumisse a Porter Engineering e nunca escondi minha agenda.
- Sua agenda - ele repete, quase cuspindo as palavras. - É sempre sobre sua agenda, seus objetivos, sua empresa, seu sucesso.
- E isso te incomodava tanto assim quando você estava ganhando todos aqueles contatos e favores que alavancaram sua carreira? - pergunto, sentindo uma pontada de irritação.
O olhar dele endurece.
- Então, é isso que você acha? Que só estive com você pelos benefícios profissionais? Ou pelo nome que carrega?
- Não foi isso que eu disse.
- Foi exatamente o que você insinuou.
O garçom escolhe esse momento para entrar e perguntar se já estamos prontos para pedir. Viktor nem sequer olha para o cardápio.
- O de sempre para mim - ele diz.
- O mesmo - concordo, e o garçom se retira silenciosamente.
Quando estamos sozinhos novamente, Viktor se recosta na cadeira, criando distância física entre nós.
- Sabe qual é o seu problema, Samyla? Você acha que pode controlar tudo e todos, como controla aqueles projetos gigantescos que sua empresa constrói. Pessoas não são concretos e aço.
- E o seu problema é que você fingiu ser algo que não é por oito anos, e agora quer jogar a culpa em mim!
Ele ri, mas é um som amargo.
- Eu fingi? Não, querida. Eu tentei. Tentei fazer esse relacionamento funcionar de verdade.
- Olha para você - digo, apontando discretamente para ele. - Seu terno Armani personalizado, seu relógio Patek Philippe, seus sapatos italianos. Você gosta tanto quanto eu da vida que construí.
- A diferença é que, para mim, isso são apenas coisas. Para você, é quem você é.
Sinto uma onda de calor subir pelo meu pescoço.
- Não me venha com essa pose de superioridade moral. Você mudou tanto quanto eu nesses anos. Lembra como você se vestia quando nos conhecemos? Aquelas camisas de algodão sem passar e os jeans surrados? Agora, você não sai de casa sem parecer que saiu de uma revista.
Viktor se inclina para frente, aproximando-se.
- A diferença é que posso tirar essas roupas e ainda saber quem sou. Você...
- Eu o quê? - desafio.
- Você está tão envolvida na sua persona que não sei mais se existe uma Samyla real por baixo da máscara.
Suas palavras atingem algo profundo que não quero examinar. Tomo um gole generoso do vinho para ganhar tempo.
- Você não tem o direito de me analisar assim.
- Não? Passei oito anos da minha vida com você. Se eu não tenho esse direito, quem tem?
Os pratos chegam: vieiras perfeitamente douradas com purê de couve-flor e caviar. Viktor olha para a comida como se não a reconhecesse.
- Lembra do nosso primeiro encontro? - ele pergunta de repente, a voz mais suave. - Aquela cafeteria horrorosa perto da faculdade?
- Lembro, é claro.
Havia sido um dia terrível. Um projeto importante havia acabado de ser cancelado pelo professor, e eu estava furiosa. Entrei na cafeteria apenas para me esconder por alguns minutos antes de voltar para a sala do projeto e desmontar toda a maquete e lá estava ele, sentado sozinho com uma xícara de café e um livro de arquitetura. Foi a primeira vez em anos que alguém me olhou sem saber quem eu era. Foi... libertador.
- Você derramou café na minha blusa - digo, e um sorriso quase escapa.
- E você quase me processou por isso - ele responde, e há um brilho momentâneo nos olhos dele. - Antes de eu te convencer a deixar que eu pagasse a lavanderia.
Por um momento, ficamos em silêncio, comendo nossas vieiras perfeitas e relembrando quem éramos.
- O que mudou entre nós, Viktor? - pergunto finalmente, e minha voz sai mais vulnerável do que pretendo.
Ele pousa o garfo e me olha diretamente nos olhos.
- Você realmente quer saber?
- Não teria perguntado se não quisesse.
- No início, eu admirava sua força, sua determinação. Achava que por trás da futura executiva implacável, que estava prestes a assumir o lugar do pai na empresa, existia uma mulher apaixonada esperando para ser descoberta. E talvez existisse. Houve momentos... momentos em que você baixava a guarda e eu via algo real. Mas cada vez que isso acontecia, você construía muros ainda mais altos depois.
- Tenho uma empresa para administrar e uma reputação a zelar, Viktor. Não posso me dar ao luxo de ser vulnerável. Não se esqueça de que tenho o sobrenome Porter e ele é meu legado, algo que preciso manter de pé.
- No trabalho, talvez. Mas comigo? No nosso quarto, nas nossas viagens, quando estávamos apenas nós dois? Que desculpa você tem para nunca ter se permitido ser real comigo nesses momentos?
Olho para meu prato, reorganizando mentalmente as palavras.
- Você sabia como eu era quando nos conhecemos. Não é justo querer que eu mude agora.
- Não estou pedindo que você mude, Samyla. Estou apenas constatando que você nunca me deixou entrar de verdade.
- E você está disposto a jogar fora oito anos por causa disso? A poucos meses do casamento?
- Quatro meses e vinte e dois dias - ele corrige. - E sim, estou. Porque percebi que prefiro estar sozinho do que com alguém que está apenas representando um papel.
Sinto uma pontada no peito.
- Você acha que estou representando com você?
- Não acho. Sei! - Ele toma um gole de vinho. - Veja agora mesmo. Estamos tendo essa conversa, e eu consigo ver as engrenagens girando na sua cabeça, calculando como me manipular para voltar atrás.
- Isso não é...
- Por favor - ele me interrompe, levantando a mão -, poupe-nos desse teatro. Você marcou esse almoço não porque sente minha falta ou porque se importa com o que penso, mas porque um noivado rompido não cabe na sua narrativa perfeita.
A verdade nas palavras dele me atinge como um tapa. Não é que eu não me importe com Viktor. É que... bem, quando foi a última vez que permiti que meus sentimentos por alguém determinassem minhas ações? Nunca!
- O Blue Crescent Resort - digo finalmente.
- O quê?
- O contrato que estou fechando. É importante para mim. Para a empresa.
Ele balança a cabeça em descrença.
- É isso? Você me trouxe aqui para falar de negócios?
- Não, estou explicando porque de ser terrível para terminarmos agora. Os investidores esperam estabilidade. Nossa imagem como casal e o casamento para fecharem o acordo completamente.
- Nossa imagem - ele repete, interrompendo-me. - É sempre sobre a maldita imagem.
- Viktor, por favor, seja razoável. Podemos esperar alguns meses...
- Para que você possa usar minha presença para fechar seu contrato bilionário e depois me dispensar discretamente? Não, obrigado.
- Não foi isso que eu disse.
- Foi o que você quis dizer. - Ele abaixa os talheres, abandonando a refeição pela metade. - Você sabe qual é o seu problema? Você está tão preocupada em manter o controle que não consegue nem admitir para si mesma que também está presa nisso! Você não acha que é muita humilhação para um homem ter que assinar um acordo de confidencialidade ao começar a namorar e depois um acordo pré-nupcial ridículo para se casar com a mulher que ama? Fora que descobri que você pediu para alterar o seu testamento... - ele se indireta na cadeira - Você pediu para me tirar do seu testamento, por quê?
- O quê? Presa? Eu construí essa vida. E desde o começo você soube como seria! Se fosse tão humilhante assim, não assinasse nada e cada um seguiria sua vida - ele sorri, um sorriso nervoso, fazendo um gesto negativo com a cabeça. - Outra coisa, como sabe do testamento? Quero redigi-lo e alterar algumas coisas, em nenhum momento disse que iria retirar você!
Será que ele andou me espionando? Para ele saber disso, com toda a certeza.
- E a vida que você construiu te permite ser quem você realmente é? Ou apenas quem todos esperam que você seja? Eu... nem sei mais o que esperar disso tudo, Samyla.
Mantenho meu rosto impassível, mas algo nas palavras dele me atinge em um lugar que costumo ignorar.
- Você não entende a pressão que existe quando se é uma mulher nesse mundo. Eles estão sempre esperando que eu cometa um errinho, único erro para que possam fazer tudo ruir.
- Não, não entendo completamente. Mas sei que você coloca muita dessa pressão em si mesma. Já parou para pensar por que nunca podemos sair juntos publicamente? Por que nosso relacionamento é quase um segredo de estado? Não é só sobre privacidade, é sobre controle. Seu controle.
Sinto minha irritação crescendo ainda mais.
- Você está sendo injusto.
- Estou sendo honesto. Algo que você raramente é, mesmo consigo mesma.
- Como você ousa... - começo, mas Viktor me interrompe novamente.
- Quando foi a última vez que você fez algo só porque queria, Samyla? Não porque era estratégico, não porque contribuía para sua imagem, não porque avançava sua carreira. Apenas porque você queria?
As palavras dele pairam no ar como fumaça. Tento pensar em uma resposta, mas percebo com um choque que não consigo lembrar.
- Seu silêncio diz tudo - ele comenta, a voz agora mais triste do que raivosa.
- Você está querendo que eu seja outra pessoa - acuso, recuperando minha postura. - Alguém que não sou.
- Não, estou querendo que você seja quem realmente é, pelo menos comigo. Mas você tem tanto medo de perder o controle que nem sequer tenta.
- Eu não tenho medo - digo automaticamente.
Viktor sorri, mas é um sorriso triste.
- Tem sim. Você tem medo de sentir qualquer coisa que não possa controlar. Inclusive amor.
A palavra "amor" paira entre nós como um pássaro ferido. Já dissemos um ao outro que nos amamos antes? Sim, claro, nas situações apropriadas, nos momentos esperados. Mas nunca assim, como uma acusação.
- Não misture as coisas - digo, mantendo a voz firme.
- Não estou misturando. Estou separando, finalmente. E estou vendo com clareza que você nunca vai mudar.
- E você? - rebato, sentindo algo se romper dentro de mim. - Você quer tanto que eu admita minhas falhas, mas olhe para você! Quando nos conhecemos, você falava sobre arquitetura com paixão, sobre projetos sustentáveis, sobre como queria fazer a diferença. Agora você só fala de dinheiro, de contratos, de conexões importantes!
- Isso não é verdade - ele diz, mas percebo uma hesitação em sua voz.
- Ah, não? Quando foi a última vez que você sentou para desenhar apenas porque queria? Quando foi a última vez que você falou sobre aqueles projetos comunitários que tanto te empolgavam?
Viktor fica em silêncio por um momento.
- Você vê? - continuo, sentindo que encontrei um ponto fraco. - É fácil me acusar de ter me perdido no caminho, mas você também mudou, Viktor. Você se tornou exatamente como todos os outros homens de negócios que você dizia desprezar.
- A diferença - ele diz lentamente - é que estou pronto para mudar. Para voltar a ser quem eu era. E você?
Não respondo. Não sei como.
Viktor suspira profundamente e empurra o prato para longe.
- Foi por isso que me apaixonei por você, sabia? - ele diz de repente, surpreendendo-me. - No início, eu via algo em você que ninguém mais via. Uma vulnerabilidade, um desejo genuíno de fazer a diferença, não apenas de acumular poder. Eu achava que, com o tempo, você se sentiria segura o suficiente comigo para deixar essa mulher aparecer mais. E eu me decepcionei - ele continua - quando percebi que você estava mais interessada em me moldar para caber na sua vida perfeita do que em construirmos algo real juntos.
- Isso é injusto - protesto, mas minha voz sai mais fraca do que pretendo.
- Talvez. Mas é como me sinto - ele se levanta abruptamente. - E acho que não temos mais nada para discutir.
Observo Viktor pegar sua carteira e jogar algumas notas sobre a mesa, mais do que suficiente para cobrir a refeição. Um gesto calculado para demonstrar que ele não precisa do meu dinheiro?
- O que você vai fazer? - pergunto, odiando o leve tremor na minha voz.
- Viver minha vida. Sem roteiros, sem contratos de confidencialidade ou pré-nupciais - ele coloca o paletó sobre o braço. - E você deveria tentar fazer o mesmo algum dia.
- Viktor, não seja ridículo. Sente-se, vamos terminar esta conversa como adultos.
- Adultos? - Ele ri sem humor. - Adultos são honestos entre si, Samyla. E nós nunca fomos, não é?
Ele dá a volta na mesa e para ao meu lado. Por um momento, penso que ele vai se inclinar e me beijar, como tantas vezes antes. Em vez disso, ele apenas olha nos meus olhos.
- Sabe o que é realmente triste? Eu realmente te amei. Não há CEO perfeita, não há 'assassina de contratos'. Amei a mulher que vi naqueles raros momentos em que você baixava a guarda.
Sinto meu coração acelerar, mas mantenho minha expressão neutra. Não posso demonstrar fraqueza, não agora.
- Adeus, Samyla.
Ele se vira e caminha em direção à porta. Cada passo dele ecoa na sala, como meus saltos pelo corredor de mármore da Porter Engineering. Mas dessa vez, não sou eu quem está no controle.
- Viktor - chamo antes que ele alcance a porta. Ele para, mas não se vira. - Você vai se arrepender disso.
Agora ele se vira, e há algo no olhar dele que nunca vi antes. Uma mistura de pena e libertação.
- Não, Samyla. O único arrependimento que tenho é ter demorado tanto para perceber que nós dois merecemos algo melhor do que isso.
E então ele sai, deixando a porta entreaberta atrás de si. O ruído do restaurante invade o espaço que antes era só nosso, e me pego encarando a cadeira vazia à minha frente.
Pela primeira vez em anos, não tenho ideia do que fazer a seguir, mas tenho esperança de que isso seja apenas mais uma discussão boba e, quando chegar em casa, o encontrarei lá.