Sob os Olhos do Inimigo
img img Sob os Olhos do Inimigo img Capítulo 2 Fragmentos
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Capítulo 6 A Fresta img
Capítulo 7 A Um Palmo do Silêncio img
Capítulo 8 Debaixo da Pele img
Capítulo 9 Contraponto img
Capítulo 10 Onde Mora o Silêncio img
Capítulo 11 Entre o Que Foi Dito img
Capítulo 12 Entre Rastros e Reflexos img
Capítulo 13 Entre Risos e Confissões img
Capítulo 14 Fronteiras img
Capítulo 15 O Peso da Leveza img
Capítulo 16 Entre Pausas e Instintos img
Capítulo 17 Entre Presentes e Entregas img
Capítulo 18 Ecos do Amanhecer img
Capítulo 19 Entre Risos e Reticências img
Capítulo 20 Sombras que retornam img
Capítulo 21 Vozes do Passado img
Capítulo 22 Rastros Apagados img
Capítulo 23 Confissões ao Entardecer img
Capítulo 24 Entre Flores e Sombras img
Capítulo 25 A Caneta do Silêncio img
Capítulo 26 Entre Brisas e Reflexos img
Capítulo 27 Ecos Revelados img
Capítulo 28 A Imagem que Sangra img
Capítulo 29 Silêncio Armado img
Capítulo 30 Rastros img
Capítulo 31 Cortina de Fumaça img
Capítulo 32 Reflexos img
Capítulo 33 Ressonância img
Capítulo 34 A Fenda img
Capítulo 35 O Silêncio de Quem Ama img
Capítulo 36 Ausência img
Capítulo 37 Cativeiro img
Capítulo 38 Reflexos Partidos img
Capítulo 39 Chamas img
Capítulo 40 Sobreviventes img
Capítulo 41 Quebrando Correntes img
Capítulo 42 A Queda img
Capítulo 43 A Verdade Revelada img
Capítulo 44 Epílogo – Algumas Verdades Não Podem Ser Enterradas img
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Capítulo 2 Fragmentos

Alícia não conseguia afastar a imagem dos olhos dele. Mesmo horas depois, enquanto digitava relatórios e respondia e-mails automáticos, sentia a mesma sensação gelada na nuca. Aquela descarga de memória involuntária, como um sonho que invade o dia - ou um pesadelo que se recusa a morrer.

Ela tentava se convencer de que estava imaginando. De que era apenas a semelhança entre os olhos de Adrian e os olhos que a perseguiram desde os quinze anos. Mas seu corpo não mentia. A reação visceral, a paralisia súbita, o nó na garganta. Não era invenção.

Ao sair da sala de reuniões mais tarde, cruzou com Clara no corredor.

- Ei, você está bem? - perguntou a amiga, franzindo a testa.

- Estou. Só... um pouco tensa. Novo executivo. Nova rotina. Você sabe.

Clara sorriu de lado.

- Se o motivo do nervosismo for o novo executivo, eu te entendo. Ele é bonito de um jeito que irrita. Mas tem aquele ar de quem esconde alguma coisa, não acha?

Alícia não respondeu. Seu silêncio foi o bastante para Clara mudar de assunto.

- Vai passar na minha casa hoje? Fiz bolo de chocolate. Daquele que você gosta.

Ela hesitou por um segundo, mas assentiu.

- Preciso de um pouco de normalidade.

Naquela noite, sentada no sofá da amiga, com uma xícara de chá nas mãos e Lulu, o gato laranja de Clara, enroscado ao seu lado, Alícia tentou explicar.

- Eu acho que conheço ele de algum lugar, Clara.

- O Adrian? De onde?

- Eu... não sei. É só uma sensação estranha. Como se eu já o tivesse visto. Como se algo nele me lembrasse de... coisas que preferia esquecer.

Clara franziu o cenho, preocupada.

- Alícia, você está falando do que aconteceu com seu pai?

Ela assentiu, devagar.

- Eu me lembro dos olhos dele. Os olhos do homem que estava lá. E hoje, por um instante, quando Adrian me olhou... era como se fosse o mesmo olhar.

Clara não soube o que dizer.

Lulu se esticou, ronronando alto, como se tentasse aliviar a tensão que tomava conta do ar.

- Talvez... talvez seja só um trauma antigo confundindo você. Já faz tanto tempo...

- Eu pensei nisso também. Mas não é só isso. Foi como um gatilho. Uma lembrança vindo com força. Não posso ignorar.

Clara segurou sua mão.

- Então prometa que vai tomar cuidado. Que vai observar. Que vai manter a cabeça fria.

Alícia apertou os lábios, o olhar fixo em algum ponto distante da parede.

- Prometo.

Mas no fundo, ela já sabia que estava envolvida demais.

Mais tarde, deitada na própria cama, o sono demorou a chegar. As imagens voltavam em flashes: o escritório do pai, a discussão abafada, o som seco de um disparo. E os olhos. Sempre os olhos.

Quando finalmente adormeceu, sonhou com eles.

E acordou ofegante, como se estivesse sendo observada.

            
            

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