Capítulo 5 Pontos Cegos

Passaram-se dias desde a turbulenta chegada de Adrian a Archer Group e eles seguiram quase que iguais: a desconfiança velada e as tentativas de Alícia de se lembrar de mais algum detalhe daquele fatídico dia em que perdera o pai e que lhe possibilitasse ter em mãos algo mais do que apenas hipóteses.

Era fim de tarde quando Adrian apareceu na sala de Alícia com um sorriso leve e uma garrafa de espumante pequena nas mãos.

- Sei que não é o protocolo mais comum, mas... acho que conseguimos encerrar esse projeto com louvor - disse, erguendo a garrafa. - E achei que merecíamos uma pausa simbólica.

Ela o observou com cautela, sem conseguir impedir o pequeno sorriso que surgiu nos lábios.

- No meio do expediente?

- Não vamos ser demitidos por brindar com duas taças discretas - respondeu, com aquele tom tranquilo e irresistivelmente seguro. - E, se formos, assumo a culpa. Prometo.

Ela hesitou por um segundo, então assentiu.

- Tudo bem.

Adrian serviu as taças com cuidado e lhe entregou uma.

- À primeira vitória desde que voltei - disse, erguendo a própria taça.

- Às primeiras verdades, talvez - murmurou ela, quase sem pensar.

Ele a olhou por um instante mais longo que o necessário, como se pesasse as palavras dela.

- Você sempre foi assim... enigmática?

- E você sempre foi tão... sereno? - retrucou, bebendo um gole.

Adrian encostou-se à mesa, cruzando os braços.

- Serenidade às vezes é só uma forma de manter o caos quieto.

Alícia o observou. Por mais que quisesse enxergar algo sombrio nele - algo que confirmasse suas suspeitas -, tudo o que via naquele momento era alguém vulnerável.

Humano.

E isso era o mais perigoso.

- Obrigado por todo o suporte - disse ele, sincero. - Sei que não deve ter sido fácil lidar comigo nos primeiros dias. E, mesmo assim, você fez parecer simples.

Ela baixou os olhos por um instante. Aquele elogio, vindo dele, a desconcertava mais do que gostaria e sentiu as maçãs do rosto queimarem.

- Não foi difícil - mentiu. - Só... diferente.

- Diferente como?

Ela ergueu os olhos devagar.

- Você é diferente do que eu esperava.

Ele pareceu surpreso, mas não perguntou mais nada. Apenas sorriu discretamente.

Mais tarde, enquanto fechava sua bolsa para ir embora, Alícia ainda sentia o gosto do espumante nos lábios. Não era o álcool. Era a tensão entre o que queria acreditar e o que precisava descobrir.

Ela sabia que precisava manter o foco. Que não podia se distrair.

Mas o problema é que Adrian estava deixando de ser apenas um rosto suspeito.

Ele estava se tornando alguém.

E, talvez, fosse tarde demais para impedir isso.