O Conde E Eu
img img O Conde E Eu img Capítulo 3 O Primeiro Convite
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Capítulo 6 O Jardim das Sombras img
Capítulo 7 O Preço do Sangue img
Capítulo 8 Noites em Chamas img
Capítulo 9 A Valsa dos Inimigos img
Capítulo 10 A Rosa Envenenada img
Capítulo 11 A Corte dos Espelhos img
Capítulo 12 O Castelo que Sussurra img
Capítulo 13 O Herdeiro e o Selo img
Capítulo 14 A Noiva da Rosa Negra img
Capítulo 15 O Primeiro Sopro img
Capítulo 16 O Nome e a Lenda img
Capítulo 17 O Banquete dos Sussurros img
Capítulo 18 A Ordem do Véu img
Capítulo 19 O Véu de Paris img
Capítulo 20 Os Sinos de Praga img
Capítulo 21 A Criança nas Ruínas img
Capítulo 22 O Nome Esquecido img
Capítulo 23 A Mãe do Primeiro img
Capítulo 24 O Primeiro Herdeiro img
Capítulo 25 O Segundo Nome img
Capítulo 26 O Espelho do Anjo img
Capítulo 27 O Corpo que Anda img
Capítulo 28 A Cadeira de Prata img
Capítulo 29 O Espelho Partido img
Capítulo 30 A Filha do Espelho img
Capítulo 31 Ecos de Prata img
Capítulo 32 O Trono e o Reflexo img
Capítulo 33 O Espelho que Sonha img
Capítulo 34 A Lâmina e o Nome img
Capítulo 35 A Herança do Vazio img
Capítulo 36 O Coração e a Lâmina img
Capítulo 37 A Voz do Sangue img
Capítulo 38 O Nome que Sangra img
Capítulo 39 O Conselho das Sombras img
Capítulo 40 O Jogo da Coroa img
Capítulo 41 Ecos na Sala Vazia img
Capítulo 42 O Sussurro Sob a Pedra img
Capítulo 43 O Espelho e a Sombra img
Capítulo 44 O Conselho Fendido img
Capítulo 45 A Marca do Herdeiro img
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Capítulo 3 O Primeiro Convite

O saguão de Ravenshire encheu-se de movimento conforme os dias passavam. Costureiras, floristas, mordomos e chefes de cerimônia entravam e saíam como peças de um tabuleiro cuidadosamente manipulado por mãos invisíveis. Tudo precisava estar perfeito - e tudo seria observado.

Eleanor observava tudo do alto da sacada central, com o diário fechado sobre o colo e a mente ainda agitada pela carta de Alistair Thorne. Ele era perigoso, mas havia um charme na maneira como ameaçava sem erguer a voz. Ainda assim, aceitar sua oferta seria o mesmo que incendiar o castelo antes de entrar. E ela não podia - ainda não.

- Lady Ashford - anunciou o mordomo, interrompendo seus pensamentos. - Um convite chegou de Lady Mortimer. Um baile exclusivo para os noivos da temporada. Espera-se vossa presença... e a de Lorde Ravenshire, naturalmente.

Eleanor ergueu os olhos, o coração pesando. Baile. Público. Olhares. Dança.

- Diga que aceitaremos - respondeu, com calma ensaiada. - Será o primeiro de muitos.

Naquela noite, Eleanor foi até a ala oeste da mansão. O lado onde Edward ficava. O convite exigia planejamento, trajes, aparência. Mas também exigia uma encenação: a de um casal que se suportava, que sorria, que conhecia as rotinas e preferências um do outro.

Bateu duas vezes na porta. Nada.

Abriu mesmo assim.

Edward estava à meia luz, a camisa aberta no peito, os cabelos úmidos, recém-saído do banho. Ele olhou por cima do ombro, sem surpresa.

- Achei que já não batias antes de invadir.

- Achei que já não te importavas.

Ele riu, baixo.

- Toque justo. A que devo a honra?

Ela aproximou-se e estendeu o convite.

- Lady Mortimer. Baile. Esta sexta. Teremos que dançar.

- A velha Mortimer ainda insiste em ver jovens sofrendo sob seus lustres. - Ele pegou o papel com desdém. - Supõe-se que fingiremos gostar um do outro?

- Não. Suponho que faremos parecer que podemos coexistir sem nos matar.

Ele sorriu com ironia. Deixou o papel sobre a mesa e foi até a garrafa de uísque.

- E o que espera que eu vista? - perguntou, virando o líquido âmbar no copo.

- Algo que pareça nobre. Discreto. E caro. - Ela hesitou antes de acrescentar: - Teremos os olhos de Londres sobre nós.

- Eles nunca deixaram de nos observar, Ellie.

Ela odiava aquele apelido nos lábios dele. Porque o fazia lembrar.

Antes que pudesse retrucar, ele se aproximou com o copo em mãos.

- Acredita que enganarão todos com um simples baile?

- Não quero enganar. Quero controlar a narrativa.

- Então controla a mim - murmurou ele, tão perto que ela podia sentir o calor de seu corpo, o leve cheiro de especiarias e tabaco. - Consegue?

Ela o encarou com firmeza. Uma batalha muda, de vontades, orgulhos e feridas antigas.

- Ainda não. Mas vou conseguir.

O baile de Lady Mortimer era o evento da temporada. Na sexta-feira, carruagens bordadas se alinhavam diante do portão da propriedade Mortimer, enquanto os convidados atravessavam os salões dourados com taças de champanhe, plumas e expectativas.

Eleanor surgiu como uma deusa entre os mortais.

Vestia-se de prata líquida, um cetim que escorria pelo corpo, moldando-lhe as curvas e expondo mais do que a aristocracia costumava aceitar. Mas não era vulgar. Era o tipo de provocação elegante que obrigava qualquer um a parar e notar. O decote era preciso, o bordado, letal. E os olhos? Dois cacos de gelo em brasa.

- Parece que preferes guerra em vez de paz - disse Edward ao vê-la.

Ele usava um terno preto de corte impecável, a gravata prata refletindo a luz das velas. Lindo demais para um homem tão perigoso.

- Guerra atrai mais aliados do que submissão - respondeu ela, aceitando o braço dele sem hesitação.

Eles entraram juntos no salão, uma pintura viva daquilo que a sociedade mais desejava ver: escândalo, poder, beleza e mistério.

Lady Mortimer veio recebê-los com entusiasmo artificial.

- Conde! Lady Ashford! Que prazer finalmente vê-los lado a lado. Londres anseia por vosso enlace.

- Então lhes daremos o espetáculo que merecem - disse Eleanor, sorrindo como se não escondesse uma lâmina na manga.

As danças começaram. Primeiro as formais, seguidas pelas mais íntimas. Quando o mestre de cerimônias anunciou a valsa, Edward estendeu a mão a Eleanor sem ironia.

- Uma dança, minha quase condessa?

Ela hesitou apenas um segundo. Depois aceitou.

Os dois deslizaram pelo salão como se sempre tivessem sido amantes - ou rivais. Ele guiava com perfeição. Ela, com altivez. O toque das mãos, firme. O olhar, um duelo.

- Está aproveitando o espetáculo? - sussurrou ele, os lábios quase roçando sua orelha.

- Estou comandando-o.

- E se eu quiser tomar o controle?

- Tarde demais, Edward. Já estás dançando conforme minha música.

Ele riu, e pela primeira vez em anos, foi genuíno.

- A Ellie de antes jamais falaria assim.

- A Ellie de antes morreu quando esperou tua carta por três anos.

Silêncio.

Ele a puxou mais para perto, tão perto que ela sentiu seu coração bater.

- Talvez eu devesse lamentar.

- Talvez devesse mesmo.

A música acabou. Eles pararam. E a sala explodiu em aplausos, não pela música, mas pelo que os dois representavam: um escândalo renascido, um casal que prometia incendiar toda a temporada.

Mais tarde, quando estavam prestes a deixar o baile, um criado entregou a Eleanor um envelope preto. Sem remetente. Sem lacre.

Ela o abriu ali mesmo, sob a luz do saguão, com Edward ao lado.

Dentro havia apenas uma frase escrita com tinta vermelha:

"Você não pode controlá-lo. Mas eu posso destruí-lo."

Edward olhou por cima do ombro dela. A expressão endureceu.

- Quem te mandou isso?

Eleanor dobrava o papel com calma.

- Alguém que não entendeu a mensagem. Ainda estou no comando.

Mas por dentro, ela sabia: o passado estava se movendo. E eles não estavam mais sozinhos nesse jogo.

            
            

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